Jovem que foi levado pelo pai há 15 anos diz que apanhou ao perguntar sobre a mãe: ‘Tomei uma surra, ele disse que me mataria’

Tímido e bastante calado, o adolescente que reencontrou a avó após 15 anos, lembra dos momentos de terror que viveu ao perguntar sobre a mãe para o pai. O jovem, hoje com 16 anos, desapareceu junto com Viviane Machado Modesto da Silva, em 2008. O pai é investigado pelo sequestro dos dois.

“Eu fui criado pelas mulheres que o meu pai tinha. Mas, quando completei 10 anos o procurei querendo saber da minha mãe. No dia que perguntei, ele me deu uma surra, me afogou e disse que seu eu voltasse a perguntar dela, ele me mataria”, conta.

O jovem nunca frequentou nenhuma creche ou escola e até hoje só tem uma cópia da certidão de nascimento.

“Quatro anos depois, eu o chamei e voltei a questionar sobre o paradeiro da minha mãe. Desta vez, ele disse que ela tinha ido embora com outro homem e nos abandonou.”

O adolescente lembra que nunca pôde sair para brincar com os amigos e que as mudanças de casas eram constantes.

“Não dava para ter amigos, porque a gente vivia mudando. De uma hora para outra ele chegava em casa falando que tínhamos que ir embora. Além disso, ele falava que eu não podia sair por segurança, porque a família da minha mãe não prestava. Não me deixava ir à escola”, relembra.

Quem alfabetizou o menino foi mulher que vive com o pai em Cachoeiras de Macacu, na Região Serrana do RJ.

Há um mês ele, enfim, conheceu a família materna, após ser achado pela avó Maria Salvadora Machado.

“Eu só conheço a família da minha mãe há alguns dias. Depois de tudo o que aconteceu, eu vejo que o meu pai mentia em muitas coisas. Ele falava mentiras para todo mundo. Hoje, maior e vendo essa situação, tenho decepção e raiva dele. Não dá para sentir carinho por ele, vendo o que fez com a gente”, conta o rapaz.

Por fim, ele faz um único pedido: “Eu só quero conhecer a minha mãe. Só quero saber se ela está bem, se está viva. Só isso que quero.”

‘Ele não teve pena da minha filha’

Na manhã desta terça-feira (27), a dona de casa Maria Salvadora Machado voltou a criticar a postura da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado (MPRJ) na investigação do desaparecimento da filha.

Ela lembrou também que não tem pena do ex-genro e que ele precisa ser punido pelo desaparecimento de Viviane.

“Eu não tenho pena dele. Quando ele estava bem, ele não teve pena da minha filha e nem da atual mulher dele”, conta Maria.

“[No dia que cheguei pra buscar o meu neto] quando eu entrei na casa, ele estava sentado, normalmente, e vendo televisão. Quando ele viu a polícia, se jogou e começou a babar. Ele é um dissimulado”, fala a dona de casa. A mãe de Viviane destaca que não teve apoio da polícia para encontrar a filha.

“Se a Polícia Civil tivesse dado apoio, se o Ministério Público tivesse se interessado pelo caso, a minha filha poderia ter sido encontrada. Ninguém se interessou. Mas, eu não. Essa história está mal contada e esse quebra-cabeça precisa se encaixar. Eu preciso, realmente, saber o que aconteceu com a minha filha para eu ter paz”.

O que diz a Polícia Civil

A polícia disse que o registro de cárcere privado foi investigado pela Deam de São Gonçalo e em 2014 foi encaminhado ao Ministério Público, que recomendou o arquivamento do processo, o que foi aceito pela Justiça.

O registro de desaparecimento, feito em 2018, foi encaminhado para a Delegacia de Búzios na época. Em maio deste ano, o menino foi localizado, ouvido e o inquérito encaminhado ao Ministério Público.

Procurado, o Ministério Público do Rio (MPRJ) ainda não respondeu aos questionamentos.

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