Menina morta por tortura já tinha sido levada por madrasta para clínica com corte na cabeça

A menina de apenas 2 anos que morreu, na Zona Oeste do Rio, após ser torturada já havia sido levada ao hospital com ferimento na cabeça no ano passado. Quenia Gabriela Oliveira Matos de Lima deu entrada numa unidade de saúde com 59 lesões na última quinta-feira, mas já sem vida. O pai da criança, Marcos Vinicius Lino de Lima, e a madrasta, Patricia André Ribeiro, foram presos em flagrante por homicídio qualificado.

A médica Ana Cláudia Regert, que trabalha na Clínica da Família Hans Jurgen Fernando Dohmann, em Guaratiba, foi quem notificou o caso à polícia. No dia 30 de novembro do ano passado, Quenia já havia sido levada para a mesma unidade de saúde com um corte na cabeça. Segundo a médica, que também atendeu a criança na ocasião, a menina foi levada por Patricia, que se apresentou como mãe. Como justificativa para o corte, a madrasta teria dito que estava cozinhando e uma louça teria caído na cabeça da menina e a cortou.

— Como a criança não estava chorando no colo dela, nem tinha nenhuma lesão visível, entendi que poderia, sim, ter acontecido o que ela relatou. Como não tinha anestésico aqui na clínica, pedi uma ambulância para que a levasse até o hospital até mesmo para avaliar a necessidade de uma tomografia de crânio. Logo depois, quando a ambulância estava chegando, procurei por ela e ela tinha se evadido — diz Ana Cláudia.

À polícia, Patricia afirmou que o atendimento na clínica demorou muito e que, por isso, levou a menina embora. Após o ocorrido, agentes comunitários da unidade de saúde foram acionados.

— Tivemos o feedback de que ela deu entrada em hospital e que os procedimentos lá foram feitos. Então confiamos que houve uma investigação, já que foi para um hospital de grande porte — conta a médica.

Ana Cláudia reforça:

— Eu não suspeitei de agressão nesse dia. Parecia realmente um corte, criança pequena brinca e pode acontecer. Mas pode ser que já fosse algum indício — diz Ana Cláudia. — Causou uma estranheza depois eu relembrar dessa situação. Veio à minha memória, a gente decora, não tem como, relembra o paciente. Puxei em prontuário para ver e era ela realmente.

A delegada Márcia Helena Julião, titular da 43ª DP (Guaratiba), afirmou que esse era o pior caso que já tinha pegado na carreira e que a menina já vinha sofrendo tortura antes do episódio da última quinta-feira:

— Não havia um local nessa criança que não tivesse lesão: a cabeça, a orelha, o tórax, as pernas. A criança estava toda machucada. Eram 59 lesões numa criança pequena. Em 40 anos de corporação, eu nunca vi isso.

Quenia deu entrada na unidade de saúde na tarde da última quinta-feira, acompanhada do pai e da madrasta. A médica relata que, ao chegarem no local, o casal gritava que a criança não estava respirando. Então, a menina foi levada para uma sala de procedimento, que fica isolada. Lá, foi avaliado que a criança estava em parada cardíaca e manobras foram realizadas. Segundo a médica, no entanto, era “notório” que o caso era irreversível.

A médica, então, notificou a polícia. De acordo com a corporação, Quenia apresentava diversas lesões, sendo elas: 12 na face, 17 no abdômen, 16 no dorso, seis nos braços, sete nas pernas, uma na orelha, além de uma queimadura na região umbilical e uma fissura no ânus — que indica uma possível violência sexual.

Marcos Vinicius e a Patricia foram presos ainda na unidade de saúde e responderão por homicídio qualificado. Os avós paternos fizeram o reconhecimento do corpo da criança nesta tarde no Instituto Médico Legal (IML) de Campo Grande.

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