Aposentado de 74 anos que matou vizinho por soltar rojões vira réu; Justiça negou prisão domiciliar no ABC Paulista
A Justiça tornou réu por homicídio nesta quinta-feira (12) o aposentado que baleou o vizinho na cabeça por soltar rojões em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. No dia 2, Mário D’Amore Júnior, de 74 anos, foi preso em flagrante pela morte de Francisco Nicolas Lopes Filho.
Segundo a decisão do juiz Fernando Martinho de Barros Penteado, foi mantida a prisão preventiva e negada a prisão domiciliar, que tinha sido pedida com o argumento de que ele é “portador de hipertensão arterial, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, sequelas pulmonares de infecção por covid-19 e depressão” e tem bons antecedentes.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público foi aceita com os agravantes de assassinato com motivo fútil e sem chance de defesa da vítima.
“A prisão domiciliar somente tem cabimento se comprovado tanto o estado debilitado em razão da enfermidade como também a impossibilidade de receber tratamento no estabelecimento prisional em que se encontra”, escreveu.
A Polícia Civil relatou o inquérito à Justiça na quarta-feira (11) e citou que houve uma confusão semelhante entre os dois registrada 10 anos antes, em 1º de janeiro de 2013, quando a vítima e Mário fizeram boletins de ocorrência um contra o outro.
A investigação tenta imagens de câmeras da PM de 31 de dezembro de 2022, quando Mário ligou ao 190 depois que o engenheiro soltou fogos de artifício e a situação teria assustado os animais da propriedade. Teria ocorrido uma ameaça de morte ao vizinho citada pelo idoso aos policiais.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a morte do engenheiro foi por traumatismo craniano causado pelo projétil, que estava alojado.
A defesa de Mário não respondeu aos contatos feitos pelo g1.
10 anos antes
Segundo apurado pelo g1, em 1º de janeiro de 2013, 10 anos antes do crime, a vítima e Mário registraram boletins de ocorrência devido a outra confusão semelhante.
De acordo com o documento feito por Francisco às 18h08 de 16 de janeiro daquele ano, ele estava soltando fogos de artifício na virada de ano quando Mário apareceu e passou a gritar dizendo que pularia a cerca para “enchê-lo de porrada, e que estava com facão em mãos”.
Conforme Francisco afirmou à polícia, na época, o vizinho disse: “Vou chamar a polícia, vou mandar te prender, não era para mexer com ele e nem com a família, pois não sabia do que ele seria capaz”.
No dia seguinte, Mário teria ligado ao sobrinho de Francisco e feito ameaças.
O primeiro BO foi feito pelo idoso, às 11h45 de 2 de janeiro de 2013. Na delegacia, ele contou que Francisco soltava fogos de artifício nas comemorações de Ano Novo em direção às baias dos cavalos que o idoso mantinha. Ele também alegou ter sofrido ameaças.
A última confusão, que culminou com a morte de Francisco, de 38 anos, foi em 2 de janeiro. A família dele comemorava a melhora da mãe no tratamento de câncer de mama. Mário foi preso.
A defesa do idoso não respondeu aos contatos, mas tenta na Justiça a prisão domiciliar com a argumentação de idade avançada, problemas respiratórios, depressão e até uma identificação de um parente que é policial.
De acordo com o boletim de ocorrência do homicídio, um amigo contou aos policiais militares que a vítima e parentes estavam na rua soltando fogos de artifício quando o suspeito Mário D’Amore caminhou até o grupo segurando uma arma. Parte do ocorrido foi registrada pela irmã da vítima, que colocou o celular na cintura.
Em seguida, ele fez ameaças, mandou que todos se deitassem e disparou na cabeça da vítima. Francisco foi levado para a UPA Riacho Grande, mas não resistiu.
À polícia, depois do crime, o idoso afirmou aos policiais que o barulho dos rojões estava assustando seus animais. No entanto, ele negou o disparo e disse que tinha uma “arma de chumbinho”, que foi encontrada na sala da casa, apreendida e encaminhada à perícia. O caso foi registrado como homicídio no 3º DP de São Bernardo do Campo.
Mário disse que foi para a praça com a arma para confrontar os vizinhos a respeito dos fogos, mas que não se lembrava de disparo algum.
Vídeo gravado pela irmã da vítima mostra a aproximação de Mário, que segurava um objeto semelhante a uma espingarda. Ele diz que tem animais e que é proibido soltar fogos. As pessoas pedem calma e dizem que vão parar. A sobrinha da vítima grita desesperada e pede socorro. O homem manda todo deitarem no chão e depois caminha em outra direção, quando a filmagem é interrompida.
Na delegacia, as testemunhas afirmaram que não se deitaram ao chão no momento do crime e que a vítima foi atingida de pé. O corpo foi enterrado no Cemitério Cerâmica, na terça (3).