Uma em cada dez ligações à PM tem trotes, com xingamentos, ofensas ou falas desconexas; ouça

Primeiro de abril é o dia da mentira, mas na Central 190 da Polícia Militar — localizada no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), na Cidade Nova, no centro do Rio — as falsas ocorrências fazem parte da rotina diária e o protocolo seguido pelos atendentes é de derrubar a chamada logo que se identifica que a narrativa não faz sentido, ou que os agentes estão sendo alvo de ofensas.

Todas as ligações recebidas são gravadas e, segundo a PM, armazenadas por um período de 10 anos. A Central 190, que funciona 24 horas, 7 dias por semana, conta com um efetivo de 32 a 35 policiais militares, dispostos como uma central de telemarketing, que fazem o serviço de atendimento por telefone, onde podem distinguir o que é trote ou não.

Entre os chamados identificados como trote, tem quem tente enganar o atendente, bem como os que já começam a chamada fazendo ofensas. Confira alguns trechos:

Segundo o major Maquinez, coordenador do sistema de atendimento dos serviços de emergência da Polícia Militar do Rio, os atendentes perguntam: O que? Quem? Quando? Como? Onde? Com que recurso? E, a partir disso, percebem o que é brincadeira, palavras desconexas ou xingamentos, quando desligam a ligação

O número de falsos chamados é equivalente à soma das duas ocorrências de maior incidência: perturbação ao sossego (87,741 mil chamados em 2022, equivalente a 6,67% do total) e violência contra a mulher, com 53,543 mil, que corresponde a 4,07%. Os trotes, por sua vez, somaram 137,351 mil ligações, equivalente a 10,43% do total de chamados, que foi de 1,316 milhão no ano passado.

21% dessas chamadas são feitas por menores de idade, segundo a corporação, com os horários de pico de ligações sendo os de saída das escolas. Quando crianças estão na linha, os atendentes da polícia também fazem perguntas específicas para identificarem se é um trote ou não.

— O trote, infelizmente, faz parte da cultura brasileira e possivelmente de muitos países. No âmbito da Polícia Militar, estamos expandindo a disseminação de aplicativos para estabelecer contato direto e mais ágil da população com a Corporação e, ao mesmo tempo, inviabilizando o trote, como é o caso do RJ 190 — conta o coronel Coronel Luiz Henrique Marinho Pires, secretário estadual de Polícia Militar, sobre o aplicativo que depende de cadastro prévio do cidadão.

Em uma das chamadas divulgadas, a atendente alerta: “Trote é crime, o senhor sabe disso?”

Segundo o advogado criminalista Breno Melaragno, quem comunica falsamente um crime à autoridade policial pode ter pena de 1 a 6 meses de prisão, pelo artigo 340 do código penal. Em caso de adolescentes, de 12 anos ou mais, podem ser aplicadas medidas socioeducativas.

— O impacto negativo de uma falsa ocorrência é que isso acaba superdimensionando o serviço de atendimento. Precisamos contar com o trote e, por isso, o cidadão acaba pagando por mais atendentes — conclui o major Maquinez.

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