Nazaré é aqui: geógrafo explica o que está causando as ondas gigantes no Rio
As grandes ondas que têm feito a alegria de surfistas na praia de Itacoatiara, em Niterói, possuem origem remota e bastante turbulenta. Tempestades no oceano são as responsáveis pela chegada desses “paredões” de água à costa. Outono e inverno são as estações mais propícias para a passagem dos centros de baixa pressão — conhecidos como ciclones extratropicais — que causam grande agitação nas águas contribuindo para o surgimento do fenômeno.
— São ondas de tempestade, que chamamos popularmente de ressacas. Elas atacam frontalmente o litoral do Rio. Quando chegam até a costa, podem sofrer interferências com o fundo do mar ou regiões com montanhas e dobrar de tamanho, ganhando mais esbelteza e proporcionando imagens como essa — explica o geógrafo marinho da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eduardo Bulhões.
A expectativa é que neste primeiro fim de semana de abril essa conjunção de fatores volte a proporcionar imagens de tirar o fôlego na orla niteroiense. A Marinha emitiu aviso de ressaca para a costa fluminense no período que vai das 21h de sexta-feira até as 9h de segunda.
As ondas registradas na última quarta-feira — que chegaram a 10 metros — foram o primeiro grande swell (ondulações causadas por tempestades no oceano) do ano e inauguraram a temporada, que vai até setembro.
Desde os 10 anos de idade, Dudu Pedra, um dos mais conhecidos big riders (como são chamados os surfistas de ondas grandes) da região, pratica o esporte. Nascido e criado em Itacoatiara, ele relata a rotina de estudo das ondulações e o privilégio de estar no lugar do país com a melhor posição geográfica para a formação das ondas grandes.
— Surfei no swell de ontem (quarta-feira) uma onda de aproximadamente cinco metros. Se impressiona pela foto, imagina para quem está lá. Eu fico com medo de dar algo errado, mas eu controlo e gosto mais de estar ali. A recompensa de dar certo e pegar o tubo é sem igual — conta Dudu, aos 42 anos.
Segundo ele, o que potencializa a praia é o fato de ela ser um vale: de um lado, a pedra do Costão e, de outro, o Morro das Andorinhas.
— É como se fossem dois braços abraçando as ondas que chegam do sul do país. A corrente de água afunila e ao encontrar um fundo mais raso, bate e ganha um tamanho muito grande. As ondas são muito maiores lá do que em outro lugar do Brasil — explica o veterano.
Daniel Rodrigues, que aparece na foto “escalando” a grande onde registrada na foto de Aporé de Paula se impressionou com o que viu.
— Tem que remar forte e torcer para conseguir passar, porque é muito arriscado. Medo com certeza a gente sente, tem que ter um controle emocional grande, senão paralisa — contou.
O tamanho da onda, estimado entre 8 e 10 metros, foi calculado considerando a altura de Daniel (1,73m) e a distância da crista da onda até a base dela. Por não ter descido surfando, ele não entrou no recorde da praia.
— Ano passado a maior onda foi surfada pelo Gabriel Sampaio, na Laje do Shock, com 7 a 8 metros de altura. Em 2021, foi do Pedro Calado, na casa dos 6, 7 metros — conta Alexey Wanick, presidente da Associação de Ondas Grandes e Tow-In de Niterói.
— Mesmo sem bater o recorde de onda surfada, ele tem o mérito. Atravessou uma das maiores ondas dos últimos tempos em Itacoatiara — reconhece Alexey sobre a onda de Daniel.