Itamaraty, Ministério Público e clubes: veja como Brasil e Espanha se movimentam por Vinicius Júnior
As cenas de racismo direcionado ao atacante Vinicius Júnior no estádio Mestalla, neste domingo, movimentam instituições de Brasil e Espanha. Na décima vez que o jogador do Real Madrid sofre um episódio de racismo no país nos últimos dois anos, o governo brasileiro emitiu nota conjunta de ministérios e convocará a embaixadora da Espanha para cobrar explicações e posicionamento sobre o caso.
Vinicius foi alvo de gritos de “macaco” durante a derrota dos merengues por 1 a 0 sobre o Valencia, fora de casa, por La Liga. O árbitro chegou a paralisar a partida enquanto o brasileiro, revoltado, apontava para torcedores que o ofendiam. Mesmo com o aviso do sistema de som do estádio, os gritos não cessaram.
Além de entidades governamentais, o próprio Real Madrid tomou medidas após o episódios e acionou a Justiça espanhola. Veja o que já foi feito em favor de Vinícius ao longo do domingo e desta segunda-feira:
Ministério Público da Espanha
Uma investigação no Ministério Público da Espanha será aberta nos próximos dias para investigar as ofensas racistas ao brasileiro, segundo a agência de notícias EFE. Susana Gisbert, delegada responsável por investigar crimes de ódio na província de Valencia, ficará a cargo do caso.
O MP vai colher evidências em vídeos, redes sociais, súmula do jogo e relatos da polícia, incluindo episódios de gritos racistas fora do Mestalla, durante a chegada dos jogadores do Real Madrid.
Real Madrid e Valencia
O clube acolheu o jogador na manhã desta segunda-feira. Em reunião, o presidente Florentino Pérez prometeu tomar todas as medidas por sua defesa.
Em nota, o clube informou que denunciou os fatos e pediu investigação à Procuradoria-Geral do Estado por crime de ódio e discriminação. “Esses fatos constituem um ataque direto ao modelo de convivência de nosso Estado social e democrático de direito”, diz a nota do clube de Vini Jr.
O Valencia, por sua vez, prometeu banir de forma permanente do Mestalla os torcedores que forem identificados em meio aos atos racistas. Um deles já foi identificado, segundo o clube.
La Liga e Federação Espanhola
Em nota, La Liga informou que pediu acesso às imagens disponíveis para investigar o caso no Mestalla e afirmou que “tomará as medidas legais apropriadas” se identificar crime de ódio. No Twitter, porém, o presidente da Liga, Javier Tebas, rebateu postagem de Vinicius Júnior afirmando que ‘é injusto’ dizer que Espanha e La Liga são racistas.
Em entrevista coletiva, o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, criticou Tebas e admitiu que o país tem um problema de “comportamento, educação e racismo”. Rubiales prometeu seguir combatendo o problema e convidou a CBF a visitar a RFEF para verificar as medidas que estão sendo tomadas.
“Quero pedir que ignorem o comportamento irresponsável do presidente de La Liga, que entra nas redes sociais se envolvendo com um jogador que algumas horas antes havia recebido graves insultos racistas. Os gestores não estão aqui para se envolver em redes sociais, estamos aqui para resolver problemas”, afirmou.
Embaixada espanhola
A Embaixada da Espanha no Brasil repudiou os atos e prestou solidariedade a Vinicius. A embaixada diz que os ataques “de nenhuma maneira refletem as posições antirracistas da absoluta maioria da população espanhola”.
Itamaraty
O Itamaraty acionou a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios. O ato, que não é comum na diplomacia, terá como objetivo mostra o repúdio e fazer cobranças mais fortes ao país quanto ao que vem acontecendo ao atacante.
Fontes diplomáticas do Ministério das Relações Exteriores informaram que a embaixadora espanhola não está em Brasília, mas já houve um contato telefônico. Na conversa, foi expressado o “desagrado” do
Governo brasileiro
Em nota conjunta, os ministérios das relações exteriores, da igualdade racial, da justiça e segurança pública, do esporte e dos direitos humanos e cidadania condenaram os atos e cobraram de Fifa, Federação Espanhola e La Liga as medidas cabíveis.
Segundo a nota, há cooperação com o governo da Espanha por políticas de igualdade racial em especial em relação a imigrantes no esporte.
Em outro comunicado, a ministra da igualdade racial, Anielle Franco, prometeu que o país notificará oficialmente autoridades da Espanha e La Liga. Franco lembrou ainda que, em viagem, firmou com Irene Monteiro, ministra de pasta equivalente na Espanha, um compromisso bilateral de combate ao racismo, à xenofobia e à discriminação.
CBF
Em nota assinada pelo presidente Ednaldo Rodrigues, a confederação brasileira criticou La Liga e lamentou novos ator racistas contra Vini. “Até quando ainda vamos vivenciar, em pleno século XXI, episódios como o que acabamos de presenciar, mais uma vez, em La Liga?”, diz trecho do comunicado.