Em interceptação, Lessa diz a Suel que traficante vai ter que permitir ‘Gatonet’ na Zona Norte: ‘Ordem do patrão’

Diálogos interceptados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal mostram Ronnie Lessa e Maxwell Corrêa, o Suel, discutindo ameaças de um traficante a um funcionário do esquema de exploração do “gatonet” no bairro de Rocha Miranda, Zona Norte do Rio.

Ambos estão presos suspeitos de participação na morte da vereadora Marielle Franco, em 2018. Ronnie, já acusado, foi preso em 2019 e Suel no dia 24 de julho deste ano.

Nas gravações do MP e da PF, Suel explica a Lessa que um funcionário relatou que um traficante estava exigindo dinheiro para deixar o esquema acontecer. “Se a gente não conseguir falar com o cara, vai perder lá no alto (da favela)”, diz o diálogo interceptado.

Lessa, então, responde a Suel dizendo que enviaria um intermediário para auxiliar na negociação, e o traficante teria que obedecer às ordens dele, Lessa:

“Ordem do patrão, só isso. Porque ele (intermediário) que foi a ponte nossa na época e o cara não sabe disso”, afirmou.

Suel afirma que ele e Lessa teriam que dar “um agrado” ao traficante, e Lessa concorda:

“Com certeza, aí você vê o que é de direito”.

Segundo a denúncia do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado, Lessa injetava dinheiro no negócio e também se valia de sua fama como matador profissional para controle de potenciais problemas na região onde a quadrilha atuava.

Lessa e Suel tiveram novos mandados de prisão decretados pela Justiça.

Wellington de Oliveira Rodrigues, o Manguaça, teve um mandado de prisão expedido e foi preso na manhã de sexta-feira (4).

Também foram pedidas as prisões do filho de Suel, Maxwell Simões Corrêa Júnior, e do policial militar Sandro dos Santos Franco.

Disque-Denúncia fez cartaz pedindo informações sobre Maxwell e Sandro — Foto: Disque Denúncia/Divulgação

Disque-Denúncia fez cartaz pedindo informações sobre Maxwell e Sandro — Foto: Disque Denúncia/Divulgação

Os dois são considerados foragidos, e o Disque Denúncia fez um cartaz pedindo informações sobre eles.

R$ 70 no pix ou em espécie

 

Cartão do assinante da empresa Tecsat, que mantinha as atividades da quadrilha — Foto: Reprodução

Cartão do assinante da empresa Tecsat, que mantinha as atividades da quadrilha — Foto: Reprodução

Uma anotação de contabilidade apreendida na casa de Suel indicava o lucro de apenas um mês com a atividade de Gatonet: R$ 31 mil.

Moradores ouvidos pela Polícia Federal relataram que o valor cobrado pela quadrilha, em todo o bairro de Rocha Miranda, era de R$ 70, com pagamento em espécie ou no pix.

Uma foto mostra o cartão da empresa Tecsat, que foi utilizada para a continuidade dos serviços da quadrilha após as prisões de Lessa e Suel.

Como funcionava o esquema

Maxwell Corrêa, o Suel, com o filho, conhecido como Júnior: o pai está preso e o filho segue foragido — Foto: Reprodução

Maxwell Corrêa, o Suel, com o filho, conhecido como Júnior: o pai está preso e o filho segue foragido — Foto: Reprodução

De acordo com as investigações, havia uma organização criminosa que explorou, pelo menos, entre 2018 até 2023, a instalação de TV a cabo clandestina e internet nos bairros de Rocha Miranda, Colégio, Coelho Neto e Honório Gurgel.

Suel aparece como responsável pelo serviço. Segundo as investigações, ele estaria a frente da empresa junto com o Lessa. Ele exerceria o comando da organização , recebendo as maiores parcelas.

Os investigadores descobriram que com a descoberta do envolvimento de Lessa na morte de Marielle e Anderson, o grupo modificou seu funcionamento e estrutura para que Lessa, antes de ser preso, e depois Suel não atuassem diretamente no negócio.

O filho de Suel, de acordo com as investigações, está presente nos bairros, repassa ordens a subordinados e centraliza o recebimento do dinheiro recolhido dos moradores coagidos para pagar pelo serviço.

Central de transmissão do sinal de TV clandestino por assinatura — Foto: Reprodução

Central de transmissão do sinal de TV clandestino por assinatura — Foto: Reprodução

Já Wellington e Sandro atuam agora na gerência da “empresa”. Sandro, por exemplo, arrendou o gatonet e passou a explorar através de uma empresa, a Tecsat, que foi alvo de buscas nesta sexta.

Na denúncia, o MP informa que para adquirir o veículo por R$ 213 mil, Suel e sua mulher usaram dinheiro ganho com o gatonet. O veículo foi registrado em nome de Aline. Ela é investigada por lavagem de dinheiro.

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