Ecstasy passa a ser fabricado em laboratórios clandestinos em favelas do Rio

Contrabandeada inicialmente da Europa a partir do fim dos anos 1990, a droga que embala festas rave e bailes funk, causando euforia e efeitos alucinógenos em usuários, já é fabricada em laboratórios clandestinos instalados em comunidades com territórios controlados pelo tráfico no Rio de Janeiro.

Informações que estão sendo analisadas pela polícia, relatos de moradores ouvidos pela reportagem e até uma foto obtida pelo GLOBO com o que seria o produto embalado para venda indicam que pelo menos duas facções criminosas lucram e exploram o ramo de drogas sintéticas, produzindo e vendendo ecstasy em forma de pastilhas e balas.

Anteriormente restrita ao “asfalto”, a droga sintética, feita a partir de composto de metanfetamina (MDMA), vinha apenas do exterior em forma de comprimidos com preços que variavam de R$ 60 a R$ 100. De acordo com relatos de moradores, a partir da fabricação no Rio, cada pastilha vem sendo oferecida por preços que variam de R$ 25 (no atacado para revenda em comunidades não produtoras) a R$ 70, para os usuários em geral.

A maior facção criminosa do Rio teria laboratórios nas favelas Nova Holanda, na Maré, na Zona Norte do Rio, e Rocinha, na Zona Sul. Nesta última, as balas são produzidas nas cores branca, azul e amarela. A primeira é vendida por R$ 50. Já as outras duas, apelidadas pelos traficantes de “extraforte”, são comercializadas a R$ 70 em pontos da Rua do Valão e do Largo do Boiadeiro.

A segunda maior facção do Rio usa a Vila do João, no Complexo da Maré, como base para fabricação da droga sintética. A pastilha é oferecida nas cores verde e rosa por R$ 25 para revendedores. Em bailes funk, chega a ser comercializada por R$ 50.

Venda em outras regiões

De acordo com dados preliminares, as três comunidades também repassam parte do que é produzido para ser vendido em outras regiões. Já se sabe, por exemplo, que o ecstasy vendido na Região Serrana teria origem na favela Nova Holanda. Apesar disso, a polícia ainda não conseguiu encontrar nenhum local de produção de drogas sintéticas no Rio. No Brasil, já foram encontradas produções desse tipo em laboratórios clandestinos de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e, no último dia 3 de março, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Na ocasião, mais de 20 mil comprimidos de ecstasy e de cápsulas para colocação de MDMA foram apreendidos.

A produção de ecstasy em terras fluminenses pode já ter causado um efeito colateral. Só entre janeiro e maio de 2023, a Receita Federal apreendeu 37 quilos de metanfetamina no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, o Galeão. O produto é usado na fabricação da droga sintética. No mesmo período do ano passado, apenas 12 comprimidos foram retidos.

Todo o material apreendido em 2023 estava chegando do exterior. Parte foi remetida pelos Correios, e o restante, encontrado em bagagens. Em todos os casos, a droga estava escondida em meio a embalagens de produtos variados como doces, brinquedos e até máscaras faciais.

— São as mais variadas tentativas. Tentam (trazer) de todas maneiras. A princípio, todo item é suspeito. Já apreendemos drogas em lixeiras, bombons e até em bote inflável — disse Márcio Santezo, auditor fiscal e chefe da alfândega da Receita Federal no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

O MDMA na forma bruta de cristais, remetido via postal e que foi apreendido no Centro de Remessas Internacional dos Correios no aeroporto internacional, não tinha o Rio como endereço da encomenda. O que não quer dizer que a droga não teria relação com terras fluminenses, já que, segundo os responsáveis pela fiscalização, traficantes usam endereços e nomes dos destinatários falsos para enviar o produto para o Brasil. O Galeão é uma das quatro alfândegas postais do país e recebe parte de todas as encomendas postais, assim como os aeroportos de Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, e o Aeroporto Internacional de Curitiba, no Paraná.

Inspeção com cães

Para fiscalizar malas, cargas e postagens, os agentes da Receita Federal usam, entre outras coisas, aparelhos de raio-X, análise de bagagens e inspeção com cães. Um dos animais utilizados no serviço é o cão Dax, macho, da raça pastor-belga-malinois, de aproximadamente 3 anos de idade. No último dia 17 de maio, em uma demonstração feita para a reportagem, o cachorro levou menos de 15 segundos para encontrar um pacote de MDMA em forma de cristas que estava escondido em uma correspondência.

Procurada para falar sobre o assunto, a Polícia Civil disse desconhecer a produção desse tipo de droga em comunidades. E informou que a Delegacia de Repressão a Entorpecentes “apura a comercialização do entorpecente no Estado do Rio bem como grupos envolvidos no tráfico”.

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