Caso Marielle: quem é e como atua o PM que integra a organização criminosa de Ronnie Lessa na Zona Norte do Rio

A investigação da Polícia Federal sobre o esquema de internet clandestina do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e de Ronnie Lessa — dois acusados por envolvimento na morte de Marielle Franco e Anderson Gomes — trouxe à tona um novo personagem apontado como integrante da organização criminosa chefiada pela dupla: o sargento da PM Sandro dos Santos Franco. A apuração revelou que, quando não dá expediente na UPP do Morro da Formiga, Franco é o operador do esquema de exploração de gatonet de Suel no bairro de Rocha Miranda, na Zona Norte. Apesar de a Justiça ter decretado sua prisão na semana passada, ele não foi capturado e está foragido.

 

Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público na semana passada, o PM virou operador de Suel após o ex-bombeiro e Lessa serem presos por envolvimento no Caso Marielle, em 2020. “A investigação destaca que, após o afastamento dos dois líderes, Sandro arrendou a GatoNet e passou a explorá-lo por meio da empresa Tecsat”, uma das firmas do PM.

Ao longo dos últimos meses, agentes circularam por Rocha Miranda e flagraram propagandas da Tecsat que exbiam o número de celular do PM espalhadas pela região. A empresa cobra R$ 70 dos moradores de instalação e mensalidade. O pagamento pode ser feito por pix ou dinheiro.

Segundo a Polícia Federal, Suel — que morou por muitos anos em Rocha Miranda e até hoje tem parentes que vivem no bairro — começou a explorar a atividade ainda em 2008, quando abriu a empresa Flash Net Prestadora de Serviços de Comunicação e Multimídia, cuja sede fica justamente na área em que ele domina o negócio. A empresa só funcionou até 2018, mas Suel seguiu mesmo após seu fechamento, segundo contou o ex-PM Élcio de Queiroz, que admitiu ter dirigido o Cobalt usado no homicídio de Marielle em sua delação premiada. Segundo Queiroz, Suel ainda teria se associado à Ronnie Lessa, acusado de ser o responsável pelos disparos que mataram Marielle no negócio.

“O gatonet era com o Maxwell na área de Rocha Miranda. No caso do Ronnie, era mais para dentro da comunidade do Jorge Turco (no bairro do Colégio). A maior parte é do Maxwell, só uma parte que era do Ronnie”, disse Queiroz.

O monopólio do negócio na região era garantido por meio de ameaças: “Maxwell está impedindo moradores de instalarem seus serviços de internet, para que os mesmos solicitem os serviços da milícia. Os moradores têm fios de internet cortados e são ameaçados”, relata denúncia de 2019 citada no relatório da PF sobre a morte de Marielle.

No segundo semestre de 2018, Suel e Lessa tiveram que se juntaram para não perder pontos de gatonet na região. Segundo uma troca de mensagens extraída do celular de Lessa, de setembro daquele ano, um traficante da região estava exigindo pagamentos para manter a internet clandestina na localidade que dominava. “Eu quero o tanto que vocês estão dando agora, só por causa do abuso dele. Se ele não der, eu vou mandar arrebentar… Eu vou mandar tirar as ‘gatonet’ dele toda, eu vou colocar um da sintonia nossa, irmão”, disse o traficante, num áudio encaminhado por Suel a Lessa.

Em seguida, Suel alertou Lessa: “Se a gente não conseguir falar com o cara, vai perder lá no alto”. O bombeiro ainda enviou um número de celular e pediu para Lessa fazer contato, “senão hoje o maluco vai lá arrumar caô”. O PM respondeu: “Vou chamar ele aqui”.

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