Lula deve abordar desigualdade, clima e paz na abertura da Assembleia-Geral da ONU
Lula retorna ao palco da ONU após 14 anos – discursou como presidente pela última vez na Assembleia-Geral de 2009. Ele deverá destacar temas que tem abordado em reuniões com outros líderes ao longo de 2023, conforme informou a colunista do g1 Julia Duailibi:
- Combate à fome e à desigualdade;
- Defesa da paz e do fim da guerra na Ucrânia;
- Combate às mudanças climáticas;
- Cobrança por recursos de países ricos para preservar florestas;
- Defesa da democracia;
- Mudanças na governança global, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Lula chegou no sábado a Nova York, na sua segunda viagem aos Estados Unidos neste terceiro mandato presidencial.
O petista aproveita a assembleia-geral para ter uma série de reuniões com outros líderes.
Na quarta-feira (20), ele tem previsão de se encontrar, em agendas separadas, com os presidentes dos EUA, Joe Biden, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Discursos anteriores
Realizada anualmente em Nova York, a Assembleia-Geral é um espaço no qual chefes de Estado e de governo e ministros dos países que integram a ONU apontam realizações, prioridades e preocupações de suas gestões. Os líderes também apresentam suas visões para o desenvolvimento global.
Apesar da tradição de abrir o debate desde a década de 1940, o primeiro presidente brasileiro a discursar na assembleia-geral da ONU foi João Baptista Figueiredo, em 1982. Desde a redemocratização, somente Itamar Franco (1992-1994) não compareceu à reunião de líderes globais.
Lula estreou na ONU em 2003 com um convite aos países para um esforço global de combate à fome.
Ao longo de sete participações, o presidente citou os esforços do Brasil para reduzir o desmatamento na Amazônia e defendeu a necessidade da busca por energias renováveis, como etanol e biodiesel.
“O Brasil tem feito esforços notáveis para diminuir os efeitos da mudança do clima. Basta dizer que, nos últimos anos, reduzimos a menos da metade o desmatamento da Amazônia. Um resultado como este não é obra do acaso. Até porque o Brasil não abdica, em nenhuma hipótese, de sua soberania e nem de suas responsabilidades sobre a Amazônia”, declarou o petista em 2007.
Dois anos depois, Lula cobrou empenho de países desenvolvidos para combater as mudanças climáticas e defendeu um Conselho de Segurança “renovado” e “aberto a novos membros permanentes”.
O que dizem os especialistas
Na avaliação do secretário de Assuntos Multilaterais do Ministério das Relações Exteriores, Carlos Márcio Cozendey, a presença de Lula na assembleia-geral “coroa” uma atuação “intensa” do presidente para “recolocar o Brasil no cenário internacional e retomar a participação ativa nos fóruns multilaterais”.
Lula já esteve neste ano em encontros da Celac (América Latina e Caribe), União Europeia, Mercosul, G7, G20, G77 e Brics.
Para especialistas ouvidos pelo g1, no retorno à ONU, Lula tentará resgatar temas considerados “pilares” da sua política externa, como a redução da pobreza, cooperação entre países e a busca por auxílio financeiro para combate ao desmatamento.
“O presidente volta à Assembleia-Geral da ONU, para resgatar temas que são pilares da sua política externa, mas sem qualquer possibilidade de sensibilizar aqueles que, definitivamente, conduzem a ordem internacional, que são os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança”, diz Marcelo Rech, analista do Instituto InfoRel de Relações Internacionais e Defesa.
Ainda segundo Rech, Lula discursará em um momento de “desconfiança” dos países ocidentais motivada por acenos do presidente à Rússia e à China.
Professor e diplomata, Paulo Roberto de Almeida afirma que o impacto do retorno de Lula à Presidência foi maior logo no começo do governo em razão da “deterioração extraordinária da imagem externa do país” na gestão de Jair Bolsonaro (2018-2022).
“Lula deverá ler, com o rigor que o Itamaraty sempre imprime a essas ocasiões, uma sucessão de posturas mais frequentes na pauta de interesses do Brasil e algumas mais ligadas à visão política do PT: a reforma da ordem internacional; a mudança da Carta das Nações Unidas com o ingresso de novos membros permanentes no seu Conselho de Segurança; e as reivindicações mais agressivas quanto à responsabilidade dos países ricos no fenômeno do aquecimento global”, afirmou Almeida.