Justiça retoma julgamento de madrasta acusada de envenenar enteados

O Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) realiza, nesta quarta-feira (19), a segunda audiência de instrução e julgamento de Cintia Mariano Dias Cabral, madrasta acusada pela morte de Fernanda Cabral, de 22 anos, e pela tentativa de homicídio de Bruno Carvalho. Os dois eram enteados dela e foram envenenados por chumbinho, de acordo com as investigações. Segundo o TJRJ, 27 testemunhas, de defesa e de acusação, foram indicadas pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) e pelos advogados de defesa, no entanto, vinte e duas já prestaram depoimento durante a primeira audiência em setembro de 2022. A audiência está prevista para começar 14h.
Durante a primeira audiência de julgamento, a perita criminal Gabriela Graça Soares, responsável pela exumação do corpo da Fernanda, afirmou que os sintomas apresentados pela vítima apontam o consumo de chumbinho, mas devido ao tempo que a vítima ficou sepultada, ela já não tinha mais material suficiente para o exame. “A minha conclusão é um laudo indireto baseado nas informações hospitalares. O exame direto foi a exumação e ele foi feito. No caso da Fernanda, as informações fornecidas pelo prontuário foram mais importantes. Dado o tempo em que foi feita a exumação do corpo”, disse a perita.
Em seguida, o delegado titular da 33ª DP (Realengo), Flávio Ferreira Rodrigues, lembrou que o depoimento do filho biológico de Cintia na distrital foi uma peça fundamental nas investigações. “Tudo começou com o relato do Bruno, ali do almoço, mas faltava algo contundente, que veio quando esse rapaz nos contou isso. Ele chega e fala: ‘Minha mãe confessou para mim’. O relato era todo levando a crer que fora a Cintia. Foi ela que preparou a comida, colocou o prato, tirou o prato, apagou a luz. No entanto, ainda faltava ali uma peça contundente, então quando o próprio filho dela fala isso, que a mãe confessou, ficou tudo mais claro”.
A mãe de Fernanda, por sua vez, contou que suspeitou do crime quando acompanhou o filho fazendo lavagem no hospital, meses após a morte da filha, e ligou os dois casos. Ela também relatou que Cintia acompanhou o sofrimento da família durante 13 dias. “Ela permanecia muito fria. Às vezes, se demonstrava até ser amiga, queria levar comida para mim, mas até ali eu achava que ela estava sendo humana. A Fernanda permaneceu 13 dias internada sem nenhum diagnóstico. Em nenhum momento ela esteve lúcida”.
Durante a fala da maioria dos depoentes, a defesa de Cintia insistiu em questionar se Fernanda fazia uso de anabolizantes, em uma tentativa de invalidar o laudo da causa morte. No entanto, a mãe da jovem negou. “Nenhum anabolizante. Ela era toda natural”. A primeira audiência contou também com os depoimentos de Bruno, enteado também envenenado; Adeílson Cabral, pai de Fernanda e ex-marido de Cintia; dos dois filhos biológicos da acusada, Lucas Mariano e Carla Mariano; do médico Eduardo Rugani, que atendeu Bruno no dia em que ele deu entrada com sintomas de envenenamento no hospital e de uma técnica de enfermagem que participou do atendimento.
Morte de jovem por envenenamento completa um ano; relembre o caso
A morte de Fernanda Carvalho completou um ano no último dia 27 de março. Na época do crime, ela morreu após ficar 12 dias internada no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio. A jovem deu entrada na unidade no dia 15 do mesmo mês depois de passar mal na casa do pai, onde a madrasta também morava. Na ocasião, ela caiu no chão do banheiro da residência e apresentou dificuldades para respirar, além disso, estava com a língua enrolada e a boca coberta por espuma. Já na unidade hospitalar, ela não teve um diagnóstico definido e, por conta disso, não respondeu ao tratamento e acabou não resistindo.
Dois meses depois, o irmão de Fernanda, Bruno Carvalho, de 16 anos na época, também sofreu com os mesmos sintomas de um envenenamento após almoçar na cada do pai e da madrasta. Ele chegou a ser internado, mas conseguiu sobreviver. Com a similaridade dos casos, a Polícia Civil instaurou um inquérito que terminou no indiciamento de Cíntia Mariano pelo homicídio de Fernanda e pela tentativa de homicídio de Bruno. Segundo a 33ª DP (Realengo), ela teria colocado chumbinho na comida dos irmãos no dia 15 de março e 15 de maio, respectivamente.
As investigações tiveram acesso ao celular de Cíntia e uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE-RJ) apontou que não foi encontrado conteúdo diretamente ligado ao crime, mas diversas mensagens foram apagadas, o que justifica as últimas pesquisas de Cíntia na internet, que digitou “como apagar mensagens de Whatsapp” nas buscas. Em conversas com os filhos, foi possível perceber a preocupação deles com o comportamento da mãe.
Em um diálogo no WhatsApp no dia 16 de maio, às 12h03, Cíntia fala com seu irmão Wesley sobre o envenenamento de Bruno: “Bruno almoçou aqui e foi envenenado. Uma desgraça tá acontecendo aqui ” e Wesley responde: “Mas como assim? Se ele comeu aí, onde ele está?”. Em outra conversa, a filha de Cíntia, Carla Mariano Rodrigues, perguntou se a mãe lembrava de tudo que elas passaram com a separação: “Meu Deus, mãe. Você lembra de tudo que passamos? Na separação de vocês? Como a gente não vai desconfiar de você?”. Na conversa, é possível ver várias mensagens que foram enviadas por Carla apagadas.
O laudo complementar de necropsia realizado no cadáver exumado de Fernanda atestou que a causa de sua morte foi intoxicação exógena, provocada por envenenamento. Mesmo o exame toxicológico não tenha sido capaz de identificar as substâncias, o documento do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP) comprova que a eliminação do organismo de chumbinho é rápida.
No laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências de compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno. Esse documento comprovou que o pesticida, chumbinho, estava presente no organismo do estudante.

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