Lula ganha respaldo político para punir ‘vândalos’ que atacaram Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta segunda-feira (9) um forte respaldo do poder político e judiciário, um dia depois de bolsonaristas invadirem as sedes dos Três Poderes em Brasília, provocando grande destruição.

“Não vamos permitir que a democracia escape de nossas mãos”, prometeu Lula na noite desta segunda em uma reunião com 23 dos 27 governadores em Brasília.

Em seguida, o presidente desceu a rampa do Palácio do Planalto, sede do Executivo, que sofreu danos consideráveis, ao lado dos governadores e caminhou em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula, de 77 anos, que assumiu o poder pela terceira vez há uma semana após derrotar Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, em outubro, liderou mais cedo uma declaração conjunta incomum com os titulares do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF.

Os titulares dos Três Poderes fecharam o cerco aos “atos terroristas” ocorridos no domingo, quando milhares de bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF exigindo uma intervenção militar para tirar Lula do poder.

Até o momento, 1.500 pessoas foram detidas, informou Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública.

A condenação aos atos dos bolsonaristas ganhou apoio nas ruas de São Paulo, na famosa Avenida Paulista, onde milhares de pessoas se reuniram nesta segunda-feira “em defesa da democracia” e para exigir “prisão aos golpistas”.

“Eu não vivi o que vivi para assistir ao que assisti ontem, que meu povo, a minha terra, esteja dividida desse jeito, é inadmissível, triste, estar aqui é estar em defesa da democracia”, disse à AFP Edi Valladares, uma professora de 61 anos.

Apoio “incondicional” dos EUA

Lula despachou desde a manhã desta segunda na sede do governo, apesar dos visíveis danos ao local, com janelas quebradas e escritórios destruídos.

Os atos lembraram os ataques ao Capitólio, em Washington, executados há dois anos por apoiadores do então presidente americano Donald Trump, de quem Bolsonaro é admirador.Os ataques de domingo foram condenados em uníssono pela comunidade internacional, dos governos dos Estados Unidos e da França aos de Rússia e China.

Em telefonema, “Biden expressou o apoio incondicional dos Estados Unidos à democracia do Brasil”, disse a Casa Branca em comunicado, acrescentando que o presidente americano convidou Lula para uma visita a Washington “no início de fevereiro”.

Lula, que segundo o texto aceitou o convite, foi enfático ao longo do dia sobre a necessidade de encontrar e punir os responsáveis pelos distúrbios e seus financiadores.

Centenas de policiais e militares foram mobilizados nesta segunda-feira em diferentes cidades do país, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, para desmontar essas estruturas, de onde manifestantes exigiam, há dois meses, uma intervenção militar para evitar que Lula voltasse ao poder.

“Não concordo com o que foi feito ontem. É vandalismo, é destruição do nosso patrimônio. Se eles querem se manifestar, devem fazer de outra forma”, disse à AFP Ionar Bispo, de 43 anos, morador da capital federal.

Bolsonaro hospitalizado

As forças de segurança também foram alvo de críticas pela resposta tardia e desorganizada aos ataques.

“Houve, eu diria, incompetência, má-vontade ou má-fé das pessoas que cuidam da segurança pública do Distrito Federal”, acusou Lula no domingo.

O presidente decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, que confere poderes especiais a seu governo para restaurar a ordem na capital.

Na noite de domingo, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, suspendeu por 90 dias o governador do DF, Ibaneis Rocha, que acabara de apresentar suas desculpas pelas “falhas” na segurança e exonerar seu secretário de Segurança, Anderson Torres, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro.

“Não faltou segurança, havia policiais. Eles precisavam agir, não deixar que fizessem o que fizeram. Foi uma invasão”, disse em Brasília Pedro Sabino Rapatoni, auxiliar administrativo de 21 anos.

Além de denunciar um “gesto antidemocrático” para o qual “não existe precedente” no Brasil, Lula responsabilizou o “discurso” de Bolsonaro, que “incentivou” os “vândalos fascistas”.

O ex-presidente, que se encontra nos Estados Unidos, para onde viajou a dois dias da posse de Lula, condenou por meio de um tuíte as “depredações e invasões de prédios públicos”. Além disso, repudiou as acusações “sem provas” de seu sucessor.

Bolsonaro foi hospitalizado nesta segunda-feira em uma clínica de Orlando, nos Estados Unidos, com “desconforto abdominal”, informou sua esposa, Michelle, pelo Instagram.

O ex-presidente publicou no Twitter uma foto em que aparece deitado em uma cama de um hospital de Orlando, na Flórida.

Os Estados Unidos não receberam até o momento qualquer pedido do governo brasileiro sobre Bolsonaro, afirmou o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

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