Após ataque a Brasília, Lula sai fortalecido, dizem analistas

Bolsonaristas radicais vandalizaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em seus esforços para obstruir a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, para analistas, o tiro pode ter saído pela culatra.

Uma semana após a posse de Lula, que combinou pompa institucional com festa popular no Distrito Federal, milhares de seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e saquearam o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, inconformados com a derrota eleitoral.

As imagens, que correram o mundo, deram logo lugar a outra cena poderosa: Lula, descendo a rampa do Planalto, o palácio presidencial, até a Praça dos Três Poderes, ao lado dos chefes dos poderes Legislativo e Judiciário.

Juntos, eles reafirmaram que a jovem democracia não seria derrotada no Brasil, quase quatro décadas após o fim da ditadura militar.

“É claro que os atos de domingo (8 de janeiro) tiveram o efeito inverso” ao que se buscava, disse à AFP Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Lula certamente saiu reforçado. Há um clima de união nacional em defesa da democracia”, avalia.

No exterior, a condenação foi unânime. Washington, Moscou, Pequim, União Europeia e capitais da América Latina expressaram seu apoio ao presidente do Brasil, que havia se isolado do mundo sob Bolsonaro.

“A comoção internacional certamente reforça a posição de Lula, como uma liderança importante que atua no fortalecimento dos foros multilaterais”, afirma Goulart.

Apoio unânime

Leandro Gabiati, da consultoria Dominium, também considera que a imagem de Lula no exterior saiu “reforçada” por ter dado uma resposta firme, mas equilibrada, após os ataques. A de Bolsonaro, por outro lado, piorou.

Internamente, Lula obteve “apoio unânime” de todas as classes políticas e do setor financeiro, acrescenta.

E também da população brasileira, que em sua grande maioria, ficou chocada com as imagens de violência contra as instituições.

“Lula foi testado e até aqui ele vem se saindo relativamente bem”, estima Gabiati, para quem o presidente mostrou uma “postura ponderada” que de certa forma permitiu “retomar a normalidade”.

Nos prédios do governo ainda com danos visíveis dias após a investida dos bolsonaristas, os ministros de Lula tomaram posse em cerimônias oficiais. Falaram sobre o “golpe” e avisaram que o governo não seria detido.

O governo Lula tem sido firme: os “fascistas” considerados culpados pelo atentado em Brasília poderão pegar penas de até 30 anos de prisão por “terrorismo”.

Enquanto as autoridades fecham o cerco em torno dos financiadores e organizadores, as forças de segurança se preparam para uma reorganização e a segurança do palácio presidencial será esvaziada de bolsonaristas.

Em poucos dias, cerca de duas mil pessoas foram detidas e mais de mil permaneciam sob custódia policial.

“Lula terá que tomar junto com os três poderes decisões de punição exemplar, para inibir que novos atos desse tipo se repitam”, diz Gabiati.

País dividido

Porém, nada garante que essa unidade nacional perdure. Lula ainda terá a difícil tarefa de sanar um país de fortes divisões, aprofundadas após uma amarga campanha eleitoral repleta de desinformação.

Os elementos mais radicais do movimento bolsonarista, determinados a continuar a cruzada contra o “comunismo”, o “corrupto” Lula e o sistema eleitoral, não dão sinais de desaparecer.

“O movimento segue existindo e provavelmente podemos esperar algum tipo de distúrbio de baixa intensidade, protestos e algum tipo de violência”, aponta Michael Shifter, do Diálogo Interamericano. “Não acho que vá desaparecer.”

Para a consultoria Eurasia, os acontecimentos de 8 de janeiro são “um forte lembrete que Lula enfrenta um país profundamente polarizado”.

O líder de esquerda venceu a eleição presidencial com 60 milhões de votos, contra 58 milhões de Bolsonaro.

Com poucos dias de governo, “a energia gasta na condenação, na investigação desses atos golpistas, ela é necessária”, acredita Goulart.

Mas isso “não pode contaminar” os objetivos do novo governo de combater os problemas urgentes da maior economia latino-americana, como a fome e a pobreza.

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