Thaís Marques, 38, é autônoma e moradora da Cidade de Deus, na Zona Oeste. Sua casa também é um ponto de distribuição. “Eu sou devota deles. Nas vezes que eu precisei, eles estiveram do meu lado. Não é tradição de família, mas minha filha foi de um parto muito complicado, e eu fiz promessa que, se tudo desse certo, eu daria doces por sete anos, mas acabou que já se passaram 15 e eu continuo fazendo. Eu fui pro Mercadão com objetivo de usar R$ 300 e a conta deu certinho. Vou fazer uns 100 saquinhos. É um doce de agradecimento”, revela.
Já nas religiões de matriz africana, os irmãos representam os orixás Ibejis, com a comemoração no dia 27. Também gêmeos, as divindades se tornaram médicos para curar todas as crianças, de forma gratuita. Em troca, recebiam brinquedos e doces. Algumas religiões ainda acreditam que eles tinham um trigêmeo, chamado Doum, que teria morrido ainda criança. Assim, os outros irmãos se tornaram médicos para curar a todas as crianças, de forma gratuita. Doum é considerado o protetor das crianças de até 7 anos.
“Dentro da Umbanda, chamadas ibejadas, são as crianças incorporadas por seus médiuns, são curadoras de doenças e problemas. O passe de uma criança é uma energia muito forte e condensada. Através da alegria e das brincadeiras, elas fazem coisas imagináveis”, ressalta Marcelo Varanda, presidente da Tenda Espírita Filhos de Iemanjá, na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Nesta quarta-feira (27), haverá uma festa para a criançada no terreiro. De acordo com Marcelo, os preparativos já começaram. “Amanhã (quarta) teremos uma grande festa aqui, para as crianças materiais e espirituais, começa às 19h30. Vai ter doce, bolo, cachorro-quente, refrigerante. Oferecemos todas as guloseimas que as crianças gostam. É uma grande festa mesmo”, adianta.
Na Tenda Umbandista Caboclo Urucutum e Pai Zacarias, no bairro do Rocha, na Zona Norte, a data foi comemorada com antecedência. “A gente fez a festa no último fim de semana, porque seria melhor para o pessoal se fosse num domingo. Teve muito doce, bolo e alegria. Hoje, faremos uma programação mais simples”, explica o dirigente do local, Ricardo Polato.
De acordo com ele, a data traz muito alegria e felicidade aos frequentadores. “É um sincretismo né, a gente traz essa alergia e felicidade das ibejadas, as crianças espirituais, para recuperar nos adultos um pouco dessa espontaneidade de criança. A importância do Ibeji em si é muito grande dentro da Umbanda. Deus é tão perfeito que, no final das contas, ‘tá’ tudo interligado independente da religião, acaba sempre contando um pouco de cada cultura”, ressaltou Polato.
Movimento no comércio
João Batista, de 55 anos, trabalha em uma loja de doces, na Tijuca. Ele conta que, em 2020, a venda, nesta data, diminuiu por conta da pandemia e desde então, continua em queda. ” A gente sempre vendeu muito nessas datas comemorativas, mas depois da pandemia caiu e esse ano o movimento está 30% abaixo do normal, muito fraco mesmo. Nos anos anteriores, os investimentos foram maiores e o retorno mais rápido também, mas o pessoal está deixando de ir, não sei se são por questões financeiras ou se a tradição está acabando, antigamente tinham mais crianças nas ruas”, ressalta. De acordo com ele, os doces mais procurados são cocada, maria mole, suspiro, bala, pirulito e doce de leite.
Gerente de uma loja no Mercadão de Madureira, tradicional ponto de venda na Zona Norte, Dayverson Rossi afirma que a procura pelas guloseimas está abaixo do esperado. “A economia, ano passado, estava mais aquecida e atualmente a procura no Dia das Crianças é maior do que em Cosme e Damião, porque muita igreja dá doce. Em Cosme Damião são mais os devotos (que distribuem). A cada ano, vem diminuindo a procura e a loja acaba sofrendo também”, analisa.
Nesta terça, no Mercadão, apesar do relato do gerente, foi possível ver muitos cariocas fazendo filas, para comprar doces e outras guloseimas.
Músicas e vestuário
Cosme e Damião também já foram retratados em diversas músicas, livros e obras. Um dos devotos mais famosos é o cantor Zeca Pagodinho, que sempre promove uma farta distribuição de doces e brinquedos em Xerém, Duque de Caxias, onde tem um sítio. O sambista também já gravou canções que citam os santos, como “Falange do Erê”. Na Sapucaí, a devoção de Zeca foi lembrada pela Grande Rio durante o desfile desde ano, que exaltou a trajetória do artista.
Cosme e Damião também costumam ser retratados em roupas, acessórios e quadros, sempre disputados em feiras e outros eventos.