Quem é Mirelis Diaz Zerpa, a mulher do ‘Faraó dos Bitcoins’ presa nos EUA após 2 anos e meio de buscas
A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira (25) nos Estados Unidos a venezuelana Mirelis Diaz Zerpa, esposa de Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins, dono da GAS Consultoria.
Mirelis ficou 2 anos e meio foragida: contra ela havia um mandado de prisão em aberto pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Ela é acusada de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, lavagem de dinheiro e integração de organização criminosa.
A investigação da PF e do Ministério Público Federal (MPF) estima que Mirelis, Glaidson e demais sócios da GAS tenham movimentado R$ 38 bilhões em uma pirâmide financeira e lesado centenas de investidores de criptomoedas. A PF afirma que Mirelis comandava o esquema da quadrilha nos Estados Unidos desde agosto de 2021.
Em outubro do ano passado, o Fantástico mostrou que, segundo a PF, Mirelis sacou mais de R$ 1,2 bilhão de bitcoins desde 2021.
Arte em IA e carreira musical
De acordo com a PF, Mirelis estava ilegal nos EUA — mas a mulher de Glaidson mantinha suas redes sociais atualizadas e dava detalhes de onde estava. Dias antes de ser presa em Chicago, por exemplo, a venezuelana postou uma selfie na Times Square, em Nova York.
A mulher de Glaidson também fazia lives e interagia com seguidores em vídeos e fotos todo esse tempo.
Nas redes, Mirelis quase não falava dos negócios do marido. Suas postagens variavam entre mensagens motivacionais, ilustrações feitas em Inteligência Artificial e músicas autorais. Ela também investia na carreira de DJ — anunciada recentemente em um dos letreiros da Times Square.
“A vida nos dá lições, e a gratidão nos ensina a apreciá-las”, escreveu na legenda da selfie na Times Square.
Em uma live no ano passado, houve quem cobrasse dinheiro perdido em investimentos, quem a chamasse para novos negócios e quem a xingasse. Mas Mirelis preocupou-se apenas em agradar aos seguidores e prometer novos conteúdos para a rede social.
“Irei criar mais conteúdo, conteúdo de artes, e por enquanto, sigo por aqui, ouvindo minhas músicas”, disse ao encerrar a live.
‘Injustiçada’
Em maio de 2022, Mirelis publicou um vídeo de quase meia hora em que se dizia “injustiçada” e que tinha “muitas coisas” a falar.
“Vamos sair dessa injustiça. Nós vamos sair dessa e mais fortes de cabeça erguida e acreditar que a pessoa que não fez mal a ninguém, que existe um Deus lá em cima, e que faz justiça. E que tudo que está oculto saia à luz”, declarou.
A esposa de Glaidson também afirmou estar “arrependida” pelos erros que cometeu. “Preciso falar, desabafar, falar muitas coisas, e acho que vai ser como uma terapia para mim. São muitas coisas que guardei aqui dentro.”
Chefe de esquema
De acordo com investigações da PF e do MPF, Mirelis comandava o esquema da quadrilha dos Estados Unidos desde agosto de 2021, quando a Operação Kryptos foi deflagrada.
Ela também é responsável por dar suporte remotamente à candidatura política de Glaidson. Mesmo preso na Cadeira Pública Joaquim Ferreira de Souza, Glaidson lançou a candidatura a deputado federal pelo PSC — e não foi eleito.
Mirelis entrou nos Estados Unidos, em 2021, dias antes da Operação Kryptos. Em julho de 2022, ela obteve visto de estudante para um curso na Universidade de Atlanta.
Segundo as investigações, o documento foi obtido com o auxílio do brasileiro Ricardo Rodrigo Gomes, conhecido como Piloto. Ele já foi condenado por tráfico de cocaína para os Estados Unidos durante os anos 1980 e estar ligado ao traficante colombiano Pablo Escobar.
No dia seguinte à operação que prendeu Glaidson, Mirelis sacou R$ 1 bilhão. Seus advogados contam que foi para pagar dívidas. Para os investigadores, foi para manter o negócio ativo. Em 11 de dezembro, mesmo já sendo considerada foragida, Mirelis enviou 10 bitcoins, que na época era o equivalente a R$ 2 milhões, para a irmã, a venezuelana Noiralis.
O que diz Mirelis sobre a prisão
A defesa de Mirelis Diaz disse que “o motivo da detenção foi uma irregularidade formal em seu visto, o que era de seu desconhecimento e de seus advogados, e que está em vias de ser esclarecido.”
A nota cita que, no dia 20 de dezembro, o Superior Tribunal de Justiça concedeu ordem de habeas corpus a Mirelis e que, portanto, qualquer ordem de prisão eventualmente existente no Brasil seria absolutamente ilegal.
A venezuelana fala ainda que o recesso forense impediu “a apreciação de embargos de declaração que ponderavam duas questões fundamentais que pendem de manifestação no STJ: 1) a sequência de ilegalidades cometidas pela 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro; 2) O descumprimento reiterado, por parte do Juízo da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro das decisões do Superior Tribunal de Justiça, fracionando e fabricando eternas acusações e prisões sucessivas, sempre a impedir o cumprimento das decisões das Cortes Superiores.”