Polícia e MP confiscaram oito carros blindados de luxo e quatro barcos de bicheiro Rogério Andrade

Na operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio, realizada na manhã desta sexta-feira, mirando o patrimônio do bicheiro Rogério Andrade, foram apreendidos oito carros blindados de luxo, quatro embarcações e três motos aquáticas. No apartamento de luxo do contraventor, na Barra da Tijuca, os investigadores confiscaram 15 obras de arte.

O iate Randra — cujo nome é a junção do nome de Rogério Andrade — faz parte da lista de bens móveis apreendidos. Em maio de 2022, o contraventor estava a bordo deste barco, pescando no Caribe, quando o MPRJ armava um esquema para prendê-lo. Ele participava da competição Costa Offshore World Championship, torneio internacional de pesca de peixe de bico. O plano dos promotores era dar a voz de prisão no retorno ao Rio, mas houve vazamento da operação e Rogério mudou o rumo da viagem.

Os investigadores identificaram que cerca de R$ 42 milhões do bicheiro são decorrentes de patrimônio adquirido com o dinheiro da exploração de jogos de azar. Há indícios ainda de que ele usava empresas legalizadas, cuja arrecadação era lícita, para incluir dinheiro oriundo do jogo do bicho, máquinas de caça-níqueis e bingos. O Randra, por exemplo, foi comprado, segundo os agentes, pela Planet Boat, uma das firmas criadas para essa lavagem de dinheiro.

Além do sequestro de bens imóveis e móveis, como iates e carros de luxo, a 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa do Tribunal de Justiça do Rio determinou buscas e apreensões em 26 endereços. Há na lista desde o apartamento de Andrade, na Barra da Tijuca; uma casa no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis; uma fazenda na Bahia; o restaurante Gajos D’Ouro, na Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, e até a quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, na Zona Oeste. Além de endereços ligados a Rogério e ao filho Gustavo Andrade, foram alvos da ação conjunta: Renato Andrade, irmão do contraventor, e um contador.

O nome da operação é uma referência ao nome do navio Pequod que afundou com o comandante e a tripulação toda ao tentar capturar a baleia Moby Dick, do romance publicado em 1851 pelo escritor Herman Melville. Rogério Andrade tem como hábito se exibir em iates de luxo, um deles avaliado em R$ 10 milhões, e pescar em potentes embarcações. O inquérito foi presidido pelo Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e pela 4ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada.

A partir da análise de dados extraídos de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) comparados com valores declarados à Receita Federal pelo contraventor e dez cúmplices que os investigadores perceberam artifícios para esconderem a origem da receita, prática típica de lavagem de dinheiro. Do sequestro dos R$ 42 milhões de Rogério, constatou-se que R$ 19 milhões são, comprovadamente, de origem ilícita.

Com relação ao restante, os R$ 23 milhões, os agentes encontraram fortes indícios de dinheiro proveniente de jogos de azar. Por isso, a promotoria requereu o “confisco alargado” ao titular da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa, o juiz Gustavo Gomes Kalil. Trata-se de uma nova modalidade de confisco, introduzida pelo pacote anticrime de 2019, que considera, para efeitos de perda, os bens correspondentes à diferença entre o patrimônio do acusado e aquele que seria compatível com seu rendimento lícito.

— O enfrentamento à criminalidade organizada precisa visar ao enfraquecimento patrimonial dos criminosos. A neutralização do dinheiro sujo circulante pelas práticas criminosas é o mecanismo mais eficaz para o desmantelamento destas estruturas paralelas, que insistem em expandir seus tentáculos em diversas esferas de poder. Investigações patrimoniais devem cada vez mais se tornar a nova realidade das autoridades — disse a promotora Letícia Emile, titular da 4ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada.

Em agosto do ano passado, Rogério e filho foram presos num condomínio em Petrópolis, na Região Serrana. Embora o contraventor tivesse um habeas corpus, ele acabou sendo preso em flagrante, porque a Polícia Federal e o MPRJ encontraram duas folhas, escritas à mão, com anotações referentes a pagamentos feitos a policiais, na casa de Rogério.

No papel, constava a data de 3 de agosto de 2022. Na época, a promotoria justificou a prisão: “uma sistemática cadeia de corrupção mantida de forma persistente com instituição de segurança pública, mesmo durante períodos, inclusive, que Rogério de Andrade permanecia foragido”.

Mas o contraventor ficou apenas quatro meses preso. Em 20 de dezembro, o plantão judiciário do Tribunal de Justiça determinou a soltura dele, após o Superior Tribunal de Justiça aceitar um pedido de habeas corpus da defesa do contraventor, no dia 16 daquele mês. No entanto, Andrade cumpre algumas medidas cautelares impostas pela Justiça. Ele é obrigado a usar tornozeleira eletrônica e não pode sair do país. Está proibido ainda de ficar na rua entre 20h e 6h da manhã, devendo permanecer em casa neste período.

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