PF quer ouvir Marcos do Val sobre suposta tentativa de golpe envolvendo Bolsonaro

A Polícia Federal pediu autorização ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para colher o depoimento do senador Marcos do Val sobre uma suposta tentativa de golpe articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que o senador revelou em declaração neste madrugada.

O pedido foi feito pela PF dentro do inquerito que investiga a participação de autoridades públicas nos atos violentos do último dia 8 de janeiro.

É a mesma investigação que resultou na prisão do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e na apreensao de uma minuta golpista em sua residência.

Entenda o caso

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou à revista Veja que o ex-deputado Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira, lhe pediu para gravar uma conversa com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que seria usada para anular o resultado das eleições. O plano articulado por Silveira na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro previa captar um diálogo comprometedor com o magistrado que serviria para prendê-lo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Do Val, o plano para anular as eleições veio à tona em uma reunião com Silveira e Bolsonaro no dia 9 de dezembro. O encontro durou 40 minutos e foi recheado de cuidados para impedir que houvesse qualquer registro da conversa. O deputado, então, apresentou a ideia de gravar Moraes, dizendo ao senador que ele seria um “herói nacional” se embarcasse no plano. O parlamentar relata que Bolsonaro teria dito na reunião que já havia acertado o suporte técnico à operação com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Seriam utilizadas escutas de operações especiais. O presidente da República disse a Do Val que a armadilha “iria salvar o Brasil”.

A escolha pelo nome do senador se deu pela sua relação de mais de uma década com o ministro do STF e do TSE. Do Val não respondeu prontamente e pediu para pensar sobre o pedido.

O senador conta que recebeu várias mensagens de Silveira insistindo para que ele aceitasse participar do plano. O agora ex-deputado garantiu a ausência de riscos na operação e falou que o conteúdo do áudio seria descartado se nada fosse extraído de Moraes. Silveira ainda afirmou que que “pessoas muito importantes e relevantes” estavam envolvidas na operação e que todos depositavam em Do Val “uma esperança sem precedentes”, relata a revista Veja, que teve acesso às mensagens.

Três dias depois da reunião, em 12 de dezembro, Marcos do Val enviou uma mensagem a Moraes pedindo uma conversa presencial com o ministro. Escreveu que precisava falar com o magistrado sobre uma conversa que teve com Bolsonaro e Garcia. De acordo com a Veja, o senador afirmou na mensagem que os dois haviam lhe convidado para “uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”.

O encontro com o ministro ocorreu após dois dias. Nele, o senador contou detalhes sobre a “missão” que recebeu do presidente. “Não acredito”, reagiu Moraes. No mesmo dia, à noite, o senador comunicou a Silveira que iria declinar da operação. O ex-deputado respondeu de forma sucinta: “Entendo, obrigado”.

Na madrugada desta quinta, Do Val falou pela primeira vez sobre a tentativa de ser coagido para dar um golpe de estado. O senador também anunciou que vai renunciar ao mandato.

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