Mãe testemunha morte do filho na Zona Oeste: ‘Não me conformo’

“Não me conformo com a morte de meu filho, minha vida acabou. Uesclei era um menino sorridente e trabalhador, ele não merecia isso, não merecia morrer assim. A cena do meu filho ferido nos meus braços não sai da minha cabeça. Foi por volta de 1h de domingo que uma vizinha nossa foi em casa nos chamar, avisando. Não acreditei que ele estava lá no chão. A gente sempre pensa que não vai acontecer com a gente. É muito triste, uma coisa muito ruim, chegar e ver seu filho daquele jeito. Ele ficou lá 40 minutos agonizando no mesmo lugar. Peguei meu filho no colo ainda com vida, tinha a esperança de que ele ia sobreviver, mas foi um tiro fatal. Um pedaço do meu coração foi embora com meu filho.

Ele estava voltando para casa quando foi atingido na nuca. Chegou a tentar se esconder atrás de um carro, mas, mesmo dizendo ser morador, os policiais atiraram. Ninguém subiu para socorrer, foi um vizinho que nos ajudou a levar meu filho para o Hospital municipal Lourenço Jorge (na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio). Não teve Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), bombeiro ou policial lá para socorrer o Uesclei. Ele deu entrada no Lourenço Jorge e depois foi transferido para o Hospital municipal Miguel Couto (na Gávea, Zona Sul da cidade), mas morreu no dia seguinte. Não consigo acreditar que meu filho não está mais aqui, tudo que quero é ele de volta.

Tenho convicção de que foram os policiais que atiraram nele, o tiro veio da parte baixa da comunidade, atravessou o carro atrás do qual ele se escondia. Meu filho é mais uma vítima de bala. Hoje, quem está sofrendo sou eu; amanhã será outra mãe. Cheguei a ir para o hospital com isso tudo, tive um princípio de infarto. Eu tenho problemas cardíacos, faço tratamento. Não sei ainda como vou lidar com essa dor, sei que vou precisar de força, de Deus e da minha família, mas não sei se vou aguentar.

A única coisa que queremos agora é justiça pelo Uesclei. Deus não há de falhar. Não sei se vão conseguir encontrar e culpar os policiais que fizeram isso com o meu filho, mas espero que sim. Tudo que a gente mais quer é justiça. Não me conformo com essa violência. Quem está sofrendo aqui sou eu, não são eles. Eles estão é rindo da cara da gente. Quem está sofrendo aqui sou eu. Perdi meu filho mais velho, uma pessoa boa e gentil. Não tenho palavras para descrever essa dor. Agora, me restaram dois filhos, mas minha vida acabou”.

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