Janeiro tem indicadores de Covid controlados pela primeira vez na pandemia

A depender dos indicadores nacionais e internacionais que balizam a pandemia da Covid-19 é possível dizer que o atual janeiro será diferente do que foi visto em 2021 e 2022. Isso porque não há indicação de que os casos e mortes estão em franco processo de alta no país — como ocorreu em anos anteriores. As médias móveis de ontem, dia onze, davam conta de queda de indicadores 32% para casos e 34% para mortes do que em quinze dias anteriores, o que indica tendência de que a pandemia está em desaceleração.

Para se ter uma ideia, o mesmo dia de janeiro em 2022, as médias indicavam alta de 631% e 15%, com a comparação de quinze dias atrás. Em 2021, as altas eram de 55% e 59%, sempre considerando casos e mortes, respectivamente. Outro indicador que aponta para o controle do avanço da infecção é a taxa de testes de Covid-19 positivos — especialistas que acompanham o tema, explicam que um dos primeiros indicadores a se alterar antes do aumento de casos é justamente a proporção de testes que dão positivo para a doença. Os mais recentes levantamentos da rede de saúde integrada Dasa sobre o assunto, realizados na semana passada, indicam que a taxa de positividade está em 19%. Quando há indicadores de alta, esse patamar fica em 40%.

— O indicativo é de um janeiro menos tenebroso. O fato de termos tido dois janeiros muito ruins, nos anos anteriores, não são coincidência. Eles têm a ver com as aglomerações de final de ano que potencializam a transmissão, mas havia também a entrada de uma nova variante neste período — diz José Eduardo Levi, virologista da Dasa.

Para tentar prever o impacto de um período, contudo, é preciso olhar para comportamentos anteriores da pandemia, explica a médica infectologista Luana Araújo. Ou seja, é no comportamento da pandemia nas semanas anteriores que encontramos pistas para avaliar se há condições para um aumento vertiginoso de infecções ou não.

— Passamos por uma onda importante, com uma variante recente e relevante aumento de casos. A cobertura vacinal, apesar de ter falhas, conseguiu conter a gravidade das infecções. Mesmo assim ela trouxe proteção imunológica. Para sofrer outra onda com impacto importante neste momento, seria preciso uma conjunção de fatores — explica a médica. — Seria necessário, por exemplo, uma variante que escape da proteção conferida pelas vacinas e pela onda recente.

Ela avalia, porém, que o cenário ainda inspira cautela diante do aumento vertiginoso de casos na China. O país, por exemplo, não repassa informações sobre quais tipos de variantes estariam em largo processo de transmissão por lá.

— Parece, mas não sabemos com certeza, que eles estão sofrendo com variantes que já tiveram seu percurso em outras partes do mundo. O que, portanto, não indica que é uma tendência que veremos repetir-se aqui. A não ser que algo desconhecido surja de lá e nos afete, mas isso seria depois de fevereiro.

Próximas semanas

Wanderson de Oliveira, enfermeiro epidemiologista do Hospital das Forças Armadas e ex-secretário de vigilância e Saúde na gestão do ex-ministro Henrique Mandetta, afirma que é preciso esperar as próximas semanas pra ter uma visão mais ampla da situação, por conta dos tradicionais atrasos de registros nas secretarias de Saúde, quando há feriados.

— Vamos ter uma visão mais completa na segunda quizena de janeiro. Mesmo assim, não podemos esquecer que, no geral, nossos números de óbitos são bastante expressivos. Temos quase mil óbitos por semana, é um valor muito alto, inaceitável. Não é tão tranquilo — afirma. — É óbvio que aquela realidade de 2021, quando faltou oxigênio em Manaus e que estávamos dentro de casa, é diferente. Hoje, felizmente temos acesso às vacinas. Estamos num cenário melhor.

A semana atual, explica o médico geneticista e colunista do GLOBO Salmo Raskin, é importate porque mostra que não houve um pico de casos após o natal, ocorrido há pouco mais de duas semanas. Ele, porém, avalia que já ocorreram momentos em que os casos estiveram mais controlados: justamente antes da onda de contágio que se disseminou no país entre novembro e dezembro, causada por subvariante da Ômicron, BQ.1.

— Esse novo cenário tem a ver com o volume de pessoas que se vacinaram e com o número de pessoas que se infectaram. Há, porém, um perigo. Já faz um tempo desde que nos vacinamos a última vez. Os estudos que temos até aqui nos indicam que certamente estamos perdendo proteção. Portanto, falar em vacinação neste momento é prioridade.

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