Investigação conclui que Gabriel Monteiro teria cometido crimes ao usar armas em gravação de vídeo
Um Inquérito Policial Militar (IPM) concluiu, no fim do mês passado, que o ex-PM Gabriel Monteiro, também ex-vereador, teria cometido dois crimes previstos no Estatuto do Desarmamento durante uma gravação com o uso de armas de fogo em um condomínio em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, no dia 23 de agosto de 2020. O vídeo foi postado no canal de Monteiro no YouTube. De acordo com a conclusão do procedimento, ao qual o EXTRA teve acesso, há indícios de que o ex-PM cometeu o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido e posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
O inquérito foi aberto enquanto Gabriel ainda era PM, mas quando foi concluído, ele não fazia mais parte da corporação. Por isso, o procedimento concluiu que “não há aspecto disciplinar a ser avaliado” em relação a ele. O IPM teve a mesma conclusão em relação ao também ex-policial militar Miqueias da Silva Felix Arcenio, que participa da filmagem. O IPM concluiu que Miqueias cometeu os dois crimes do Estatuto do Desarmamento e não analisa questões disciplinares pelo fato de ele não fazer mais parte da corporação.
O advogado de Gabriel, Sandro Figueredo, afirma que as armas utilizadas na gravação são de “airsoft”, portanto seu cliente não teria cometido qualquer crime. Procurado pela reportagem, Miqueias também alega que o armamento utilizado era cenográfico, “para a segurança de todos” e argumenta que como ainda era PM na época da gravação, tinha porte de arma. Procurada pelo EXTRA, a PM informou que o procedimento foi encaminhado ao Ministério Público estadual.
O vídeo que foi alvo de investigação da PM conta com 2,6 milhões de visualizações e foi gravado dentro de um local que Gabriel afirmava ser seu condomínio. O ex-vereador simula um treinamento de sua equipe de segurança na área externa e depois, dentro de uma casa. Na gravação, ele também defende que a população possa se armar. Em um trecho, ele critica pessoas que querem o desarmamento dos cidadãos, como Marcelo Freixo, e argumenta que o deputado federal tem à disposição diversos policiais e seguranças particulares. Ele acrescenta que esses seguranças de Freixo usam “armamentos bem mais fortes” do que os que eles possuíam.
O inquérito ainda conclui que um policial militar da ativa – o sargento Marcelo de Oliveira Pinto – cometeu infração disciplinar ao ter participado do vídeo. Também houve conclusão de que outros dois PMs – Rondinelli José Santos de Silva e Felipe Goulart Dalsgaard — cometeram transgressões no episódio. Ambos estiveram no condomínio, após a Polícia Militar ter sido acionada por moradores do local em razão da presença de homens armados, e deixaram de identificar as pessoas que participaram da gravação, segundo aponta o procedimento. O EXTRA não conseguiu contato com os três PMs da ativa.
Procurado para saber as providências que seriam tomadas em relação ao inquérito, o Ministério Público não confirmou o recebimento do procedimento por nenhuma da suas promotorias.
Em nota, Sandro Figueredo, advogado de Gabriel Monteiro, ressaltou que a análise do encarregado pelo inquérito ainda passará pela análise do MP e argumenta que as armas não são verdadeiras. “Tal situação deixa mais uma vez cristalizada a perseguição por alguns órgãos sofrida pelo ex-vereador”.
Gabriel Monteiro está preso há pouco mais de dois meses, em razão de mandados de prisão decorrentes de dois processos nos quais responde por crimes sexuais. Ele ocupa uma cela individual na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio.