Índice de crianças de 4 e 5 anos na escola cai após a pandemia, diz IBGE; meta de universalização fica distante

Em um provável reflexo da pandemia, a parcela de crianças de 4 e 5 anos que estavam matriculadas nas escolas do Brasil caiu de 92,7%, em 2019, para 91,6%, em 2022, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados nesta quarta-feira (7). O estudo, feito anualmente, foi pausado em 2020 e 2021, por causa da Covid-19.

Pode parecer uma queda pequena, mas é estatisticamente relevante, afirma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E mais: nunca, desde o início da série histórica (em 2017), esse índice havia caído. Diminuir a proporção de alunos matriculados deixa o país ainda mais distante da meta de universalizar o acesso à pré-escola, que deveria ter sido alcançada em 2016, segundo o Plano Nacional de Educação (PNE).

Veja os outros destaques da Pnad Contínua 2022 e, mais abaixo, o detalhamento de cada um deles:

  • A porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas na etapa correta (ou seja, no ensino fundamental) caiu de 97,1% (2019) para 95,2% (2022).
  • Pela primeira vez desde o início da série histórica, mais da metade da população adulta passou a ter ensino médio completo.
  • analfabetismo caiu, mas ainda está distante da meta traçada para 2024 no PNE.
  • falta de vagas na creche foi o 2º motivo mais mencionado pelos pais das crianças de 0 a 3 anos que não estavam matriculadas.
  • No ensino médio, mesmo com a pandemia, participação dos jovens na escola aumentou.
  • 10% das mulheres que largaram os estudos antes do ensino médio abandonaram a escola por causa dos afazeres domésticos.
  • Das 49 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, 20% estavam na situação “nem-nem” — nem estudavam, nem trabalhavam em 2022.

Ensino fundamental: preocupação com atraso escolar aumenta

  • Desde 2016, o Brasil atingiu basicamente uma universalização do acesso à escola por crianças de 6 a 14 anos. A porcentagem em 2022 manteve-se alta, de 99,4%.
  • O problema aparece quando comparamos a idade da criança com a etapa de ensino em que ela está matriculada. Em 2022, 95,2% dos alunos de 6 a 14 anos estavam no ensino fundamental, considerado o adequado para a faixa etária — é uma parcela menor do que a de 2019 (97,1%).
  • Isso significa que parte dessas crianças até estava na escola, mas na etapa errada (provavelmente, ainda na educação infantil, mesmo após os 6 anos). Pode ser mais um reflexo da pandemia nessa faixa etária.
  • Mesmo com a piora do índice para 95,2%, o Brasil continua acima da meta estabelecida pelo PNE: o plano estabelece que, até 2024, pelo menos 95% consigam terminar o ensino fundamental na idade correta.

Pela primeira vez, mais da metade da população adulta tinha terminado, no mínimo, o ensino médio

  • Pela primeira vez, mais da metade da população adulta (53,1%) tinha concluído o ensino médio.
  • A desigualdade racial é evidente: entre os brancos, 60,7% haviam terminado a educação básica; entre os negros, 47%.
  • O percentual de pessoas com mais de 25 anos que terminaram o ensino superior subiu de 17,5% (2019) para 19,2% (2022).

Analfabetismo caiu, mas ainda está distante da meta traçada para 2024 no PNE

  • Em 2022, 9,6 milhões de pessoas eram analfabetas, ou seja, não conseguiam escrever um bilhete simples. Esse número é equivalente a 5,6% dos brasileiros com 15 anos ou mais. Comparando com o último levantamento, de 2019, houve uma queda de 0,5 ponto percentual.
  • Pela meta final do PNE, o Brasil deveria erradicar o analfabetismo até 2024. Estamos ainda longe desse objetivo.
  • Mais da metade dos analfabetos (55,3%) estava na região Nordeste.
  • Os índices de analfabetismo são mais altos entre os idosos (veja gráfico abaixo).

“Esses resultados indicam que as gerações mais novas estão tendo um maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda na infância”, afirma o relatório da Pnad.

No ensino médio, mesmo com a pandemia, participação dos jovens na escola aumentou

Taxa bruta (que só vê o total de matriculados, não importa em que etapa de ensino):

  • A taxa bruta de escolarização entre os jovens de 15 a 17 anos em 2022 foi de 92,2% — 3,2 pontos percentuais acima da registrada em 2019. É uma melhora relevante estatisticamente, afirma o IBGE, ainda mais em uma etapa na qual a evasão escolar é comum.
  • Esse índice não leva em conta se os alunos estão na etapa correta (ensino médio) ou atrasados (no ensino fundamental).
  • Ainda assim, o Brasil fica abaixo da meta do PNE em todas as regiões. Nenhuma alcança os 100% de acesso à educação nessa faixa etária.

Taxa líquida (que leva em conta a adequação da idade):

  • Se considerarmos a questão do atraso escolar, 77,2% dos jovens de 15 a 17 anos estavam frequentando o ensino médio ou já haviam concluído essa etapa na idade correta. Mesmo com a pandemia, houve uma melhora em relação a 2019, quando eram 71,3%.
  • Ainda estamos distantes da meta do PNE, que é de 85% de matriculados na idade correta no ensino médio até 2024.

10% das mulheres que largam os estudos antes do ensino médio abandonam escola por causa dos afazeres domésticos

  • O abandono escolar é mais comum aos 16 anos, mostra a Pnad.
  • Entre os 9,5 milhões de jovens de 14 a 29 anos que não terminaram o ensino médio, cerca de 40% afirmam que o motivo foi a necessidade de trabalhar.
  • As tarefas domésticas foram apontadas como razão para o abandono escolar por 10,3% das mulheres que interromperam os estudos. Entre os homens, só 0,6% deram essa justificativa.

20% dos brasileiros de 15 a 29 anos são ‘nem-nem’: nem estudam, nem trabalham

  • O IBGE analisou também quantos brasileiros estavam sem trabalhar em 2022 e sem se qualificar (ou seja, fora da escola, da faculdade, de cursinhos pré-vestibular, do ensino técnico e da qualificação profissional).
  • Dos 49 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, 20% estavam na situação “nem-nem” — nem estudavam, nem trabalhavam. Houve uma queda em relação a 2019, por causa do aumento da participação dos jovens no mercado de trabalho.

Acesso à universidade: ainda distante da meta

  • Dos adultos de 18 a 24 anos, 30,4% estavam estudando em 2022 (na escola ou na universidade). É um percentual parecido com o de 2019.
  • Nessa mesma faixa etária, cerca de 25% estavam na faculdade ou já haviam concluído o ensino superior. A meta do PNE, nessa categoria, é de 33% até 2024.

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