Entrevista: ‘Quem financiou não era pequeno’, diz Eduardo Braga, favorito para relatar CPI do 8 de janeiro

Favorito para assumir a relatoria da CPI dos Ataques Golpistas, o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), afirma que o principal questionamento a ser feito é como a comissão poderá avançar em relação ao que já foi descoberto. Em entrevista ao GLOBO, ele indica que, se for confirmado para o posto, uma das principais linhas de investigação será a atuação dos financiadores dos atos antidemocráticos. “Tudo isso não foi de graça e não foi um ato desorganizado”, afirma ele.

Com a experiência de já ter sido ministro, governador, deputado, prefeito e vereador, Braga avalia que falta ao governo estratégia para ter uma base coesa. Ele afirma que, além de cargos e emendas, é preciso apoiar projetos de parlamentares aliados para garantir um bom relacionamento. Além disso, critica iniciativas que visam a rever medidas aprovadas pelo Congresso, como a privatização da Eletrobras.

O nome do senhor tem sido citado por governistas como opção para a relatoria da CPMI dos Ataques Golpistas. O governo já o procurou?

Não. Tive conversas com Randolfe (Rodrigues, líder do governo no Congresso), com o Jaques Wagner (líder do governo no Senado) e com lideranças partidárias com relação à questão da CPMI, mas não a questão de presidência ou relatoria. Até porque não há definições sobre isso pelo presidente do Senado junto aos partidos.

Se chamado, vai aceitar?

Não é uma questão de você gostar ou não. Essa é uma questão de missão. Essa CPI está acontecendo quatro meses após os fatos terem ocorrido. Sou daqueles que acha que os aparatos investigativos e as instituições democráticas estão funcionando para apurar e punir os culpados. Os inquéritos policiais, judiciais, estão funcionando na sua plenitude. O que a CPI pode adicionar? Essa é a grande pergunta que se faz. São circunstâncias completamente diferentes da CPI da Covid, que apurava os fatos em tempo real.

A PF tem encontrado mensagens e documentos que indicam uma trama golpista após a eleição. A CPI pode avançar nisso?

Sim. Isso precisa ser esclarecido: a questão dos financiadores, por exemplo, porque a estruturação que se estabeleceu pós-eleição não foi pequena. Quem financiou a ação também não era pequeno. Isso ainda não veio à tona. Tudo o que ocorreu não foi de graça e não foi um ato desorganizado.

A Câmara mandou um recado ao governo ao rejeitar o decreto de saneamento. No Senado, ainda não deu para sentir esse termômetro. O governo tem maioria no Senado hoje?

O governo tem maioria no Senado. O projeto de decreto legislativo (PDL) do saneamento está na Comissão de Infraestrutura. Vamos ter esse termômetro na comissão.

Como o governo pode garantir maioria nas votações?

Precisa de estratégia. Estamos falando de governo de coalizão, ou seja, a participação dos partidos e também do parlamentar, individualmente. Isso se dá por meio das emendas, mas não só. Está nos projetos de interesse das bases setoriais com as quais cada parlamentar se alinha. Tem as bancadas ruralista, do agronegócio, saúde. Cada uma dessas ações faz parte de uma estratégia, da composição, de uma base.

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