Cerveja da Budweiser faz anúncio com influenciadora trans, sofre boicote e demite diretores

Uma ação publicitária envolvendo a cerveja mais vendida dos Estados Unidos e uma influenciadora transgênero derrubou as vendas da companhia e terminou na demissão de dois executivos.

O caso envolve a Bud Light, versão mais leve da Budweiser, cerveja da AB InBev, que tem entre seus controladores os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.

O episódio é o mais recente de uma série de ações de grupos conservadores contra direitos de pessoas transgênero, e foi descrito pela imprensa americana como um microcosmo do debate nos Estados Unidos hoje.

No dia primeiro deste mês, a influenciadora trans Dylan Mulvaney, que tem 1,8 milhão de seguidores no Instagram e 10,8 milhões no TikTok, publicou um vídeo de publicidade com a marca, em que mostra seis cervejas que recebeu com um desenho de seu próprio rosto estampado na lata, para comemorar um ano desde que ela se declarou trans publicamente.

No dia primeiro deste mês, a influenciadora trans Dylan Mulvaney, que tem 1,8 milhão de seguidores no Instagram e 10,8 milhões no TikTok, publicou um vídeo de publicidade com a marca, em que mostra seis cervejas que recebeu com um desenho de seu próprio rosto estampado na lata, para comemorar um ano desde que ela se declarou trans publicamente.

Houve também ameaça de bomba a uma fábrica da empresa em Los Angeles, segundo a imprensa local.

As ações da Anheuser-Busch, dona da marca, caíram logo 5% logo após o começo do boicote, representando uma perda de US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões) em valor de mercado, segundo o portal Axios.

Duas semanas depois, no entanto, Donald Trump Jr, filho do ex-presidente Donald Trump, pediu o fim do boicote dizendo que não queria “destruir uma empresa americana icônica” e que a companhia historicamente doou mais para políticos conservadores do que para progressistas.

Dados divulgados nesta terça (25) pela empresa de pesquisa de mercado NielsenIQ e pela consultoria Bump Williams apontaram que, na semana que terminou em 25 de abril, as vendas da cerveja caíram 17%. Na semana anterior, haviam caído 6%.

Em meio ao choque, a empresa fez trocas nos seus times de marketing. Alissa Heinerscheid, vice-presidente de marketing da Bud Light, entrou de licença, e Daniel Blake, vice-presidente da Anheuser-Busch responsável por cuidar das marcas tradicionais, foi afastado.

A fabricante não respondeu a pedido de comentário da reportagem até a publicação deste texto. Na semana anterior, a marca disse à CNN que “trabalha com centenas de influenciadores como uma das muitas maneiras de se conectar de forma autêntica com o público em diferentes grupos demográficos” e que, de tempos em tempos, produz latas comemorativas para fãs e influenciadores. “Esta lata comemorativa foi um presente para comemorar um marco pessoal e não está à venda para o público em geral.”

Em carta divulgada ao público, o CEO da companhia, Brendan Whitworth, afirmou que nunca quis “fazer parte de uma discussão que divide as pessoas”. “Nosso negócio é reunir as pessoas para tomar uma cerveja.”

O episódio foi o último de uma série de reações conservadoras de ações de marcas. Em janeiro, houve um boicote contra o chocolate M&Ms depois que a empresa mudou o design de seus personagens e deixou de representar mascotes tidos como femininos com botas tidas como “sexy”, entre outras coisas. O apresentador Tucker Carlson, recém-demitido da Fox News, chegou a reclamar no ar que uma das personagens havia “virado lésbica”.

As pautas conservadoras nos costumes ligados a sexualidade e gênero estão em alta nos Estados Unidos. Segundo um relatório do Movement Advancement Project (MAP), instituição que pesquisa e fiscaliza questões relacionadas ao tema, foram mais de 650 projetos anti-LGBTQIA+ propostos neste ano em todo o país.

Pelo menos nove estados aprovaram leis proibindo tratamentos para pessoas trans menores de idade. No Texas, pais de crianças e jovens trans podem ser investigados por abuso infantil. Em 19 estados é proibida a participação de estudantes trans em esportes juvenis. Em sete estados americanos, estudantes trans não podem usar banheiros que refletem a sua identidade.

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