Castro avalia sair do PL após entrar em choque com o partido na eleição na Alerj

Em rota de colisão com o PL, o governador do Rio, Cláudio Castro, avalia migrar para o PP ou para siglas na base do governo Lula, como União Brasil e PSD, quatro meses após ter sido reeleito em primeiro turno como aliado de Jair Bolsonaro (PL). Mesmo desaconselhado por aliados próximos a tomar uma decisão por ora, Castro tem manifestado incômodo com a cúpula do PL e planeja um ultimato até o fim do mês, segundo relatos colhidos pelo GLOBO. Em paralelo, o prefeito Eduardo Paes (PSD) tenta atraí-lo, de olho nas eleições de 2024.

Na semana passada, Castro instou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a lhe entregar o comando do partido no Rio após um embate com o atual chefe do diretório estadual, o deputado federal Altineu Côrtes, envolvendo a eleição à presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Altineu, aliado de longa data de Valdemar, irritou Castro por articular uma candidatura adversária à de Rodrigo Bacellar (PL), homem de confiança do governador, e que acabou vencendo a disputa. O presidente do PL recusou, em um primeiro momento, mexer na estrutura partidária. Castro, descontente também com a falta de apoio do bolsonarismo em sua queda de braço no partido, passou a analisar sondagens de outras siglas e a trocar acenos com Lula, que busca angariar apoio no PL.

Aliados do governador enxergam PP e União Brasil, partidos que formam sua base no estado, como destinos mais prováveis caso Castro siga adiante com o plano de mudar de sigla. Pesa a favor da primeira hipótese a proximidade entre Castro e o presidente do partido no Rio, Dr. Luizinho, atual secretário estadual de Saúde. Já o União Brasil, apesar de disputas internas no estado, ofereceria um canal mais direto com o governo Lula — o presidente estadual do partido, Waguinho, é marido da ministra do Turismo, Daniela Carneiro.

O MDB, outra sigla aliada de Lula, também despontou como opção, embora com menor musculatura no Rio atualmente. Apoiador de Castro no partido, o secretário estadual de Transportes, Washington Reis, disse que vai “estender o tapete vermelho” para Castro e que, “no lugar dele”, cobraria a troca da direção estadual do PL por conta da cisão na Alerj:

— Sem dúvida, ficou desconfortável a situação no PL. O governador honrou todos os seus compromissos com o partido na campanha, apoiou o presidente (Bolsonaro), e agora sofre um racha.

Outro cenário é uma possível migração de Castro para o PSD, partido de Paes. Na segunda-feira, o prefeito do Rio ciceroneou Lula e o governador durante a inauguração de unidades de saúde e disse que “os três juntos” poderiam “revolucionar” o estado. O GLOBO apurou que Paes já convidou Castro para o PSD, embora a direção nacional do partido ainda não participe das conversas.

Interlocutores de Paes apontam que o prefeito busca assegurar uma aliança ampla para sua candidatura à reeleição no ano que vem. Em uma reformulação de seu secretariado na última semana, ele abriu espaços para PT e União Brasil, buscando também consolidar o apoio de Lula e isolar uma possível candidatura bolsonarista em 2024 — o senador Flávio Bolsonaro é um dos cotados pelo PL para concorrer. O apoio a Castro pode garantir também a Paes uma aliança governista para disputar o Executivo estadual em 2026.

Aliados do governador, por outro lado, lembram reservadamente que a entrada de Paes no PSD foi o que barrou a ida de Castro para a sigla em 2021, antes de se filiar ao PL. O grupo de interlocutores reticente com a troca de partido tenta pacificar a relação entre Castro e o comando estadual da sigla, argumentando que sua permanência no PL “valoriza o passe” de uma eventual aproximação com Lula.

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