Carnaval 2023: no Rio, capital nacional da folia, hotéis de luxo já estão lotados para a festa
Na foto Marc kraehling, alemão esta hospedado no Copacabana palace
Acordar com vista para o mar, se esbaldar no bloco e terminar a noite diante da exuberância das escolas de samba tem seu preço. Mas, para a sorte do setor turístico, tem visitante disposto a pagar. Ontem, todos os quartos dos hotéis de luxo da cidade estavam reservados para o período de carnaval, de acordo com levantamento feito pela Secretaria estadual de Turismo. O pacote de quatro dias para um casal pode custar até R$ 100 mil.
Descansando sob o sol na orla mais famosa do Rio, o empresário alemão Marc Krahling, de 62 anos, diz ser um apaixonado pelo carnaval do Rio. Hospedado no Copacabana Palace, ele está em sua quinta visita à cidade.
— Chegamos terça-feira. O objetivo é o carnaval, claro. Já tinha algum tempo que não vinha para o Rio, há seis anos. As pessoas, a atmosfera, o sentimento do carnaval aqui são maravilhosos. Já viajamos para outras cidades, estivemos em Salvador, onde a festa é linda e diferente, mas preferimos o Rio. A beleza que tem aqui, a gente não vê em nenhum outro lugar — derrete-se.
A rigor
No ano de seu centenário, o Copacabana Palace, onde a diária no pré-carnaval custa até R$ 35 mil, terá o retorno de seu tradicional baile neste sábado. Com ingressos até R$ 4,5 mil, o evento só aceita quem estiver com fantasia de luxo ou black-tie. “É proibida a entrada de pessoas em qualquer traje que não esteja de acordo com o dress code informado”, diz o site que vende as entradas para o evento.
Com pacotes de R$ 32 mil a R$ 100 mil, o Emiliano, também em Copacabana, oferece para seus hóspedes mimos como spa e até glitter biodegradável, para cair na folia sem prejudicar o meio ambiente. O Fairmont, no Posto Seis, não tem mais vagas para o carnaval desde dezembro. Um dos atrativos do hotel é um camarote exclusivo na Sapucaí para quem faz parte de um clube de vantagens em uma rede de fidelidade.
— Há muito tempo não vemos um cenário de pré-venda tão intenso. O carnaval do Rio se tornou um item de desejo dos viajantes. O camarote é um espaço com serviços e atendimento de alta qualidade para membros desfrutarem de forma sofisticada — diz Michael Nagy, diretor comercial do hotel.
Já o resort Grand Hyatt, na Barra da Tijuca, vendeu pacotes de R$ 12 mil a R$ 80 mil. A partir do pedido de cada hóspede, o concierge monta um roteiro caso o folião queira aproveitar a cidade fora do hotel. Para quem preferir, a direção diz que levará um pouco do carnaval para dentro de suas instalações, e até um baile para as crianças será organizado.
— A gente tem uma projeção de receita 30% maior em comparação a 2020. Fechar o período do carnaval com 100% é um número muito bom, principalmente para quem está na Barra — afirma Alexandra Bueno, gerente geral do Grand Hyatt Rio.
Especialista em gestão de eventos de alto luxo, Marco Pessoa, do Grupo Hel, diz que uma série de fatores atrai o turista para o Rio.
— Cada hotel tem sua identidade e ambiente próprio. No carnaval, o foco do turista de luxo, que chamamos AAA, não é apenas a gastronomia e a visita a pontos turísticos como em outras épocas do ano. Os camarotes da Sapucaí se sofisticaram, atraindo mais esse público. Uma entrada para um desses espaços pode chegar a R$ 10 mil. Para eles, é uma experiência e tanto. Aproveitam tanto festas temáticas quanto assistem aos desfiles — explica Pessoa.
Na frente de salvador
Um estudo inédito feito pela Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) revela que o carnaval do Rio é o mais disputado entre os turistas, superando as festas de Salvador e São Paulo. Desde 2020, a cidade não tem uma folia completa com blocos oficiais e o desfile das escolas de samba na data tradicional, devido à pandemia de Covid-19. Os números preliminares da entidade mostram, no entanto, que o Rio deve cair para a segunda colocação na preferência dos visitantes na Semana Santa, quando Gramado, no Rio Grande do Sul, ficará no topo.
Mas há opção para todos os bolsos no carnaval do Rio. O difícil, neste momento, é encontrar um lugar. O presidente do Sindicato de Hotéis e Meios de Hospedagem do (SindHotéis Rio), Alfredo Lopes, diz que a taxa de ocupação na capital já chegou a 96% e deve bater 99%.
— Na Zona Sul, os quartos estão praticamente lotados. No setor de hospedagem de alto luxo, já não há vagas. A situação é melhor que no carnaval de 2020 (último antes da pandemia). Os mais jovens gostam de acompanhar os desfiles de blocos de rua, principalmente os da Zona Sul, e o clima de azaração em points da Barra e do Baixo Gávea. Na faixa acima dos 50 anos, a opção principal é o Sambódromo — explica.
1,5 milhão de buscas
Ontem, a plataforma de viagens Hurb registrou quase 1,5 milhão de buscas por estadia no estado. A capital foi o destino rodoviário mais buscado do país para os próximos dias. Dados do governo estadual mostram que Búzios, Paraty e Cabo Frio já estão com 90% de ocupação.
Mas nem só de blocos e Sapucaí viverá a cidade no feriadão. O Rio Convention & Visitors Bureau (Rio CVB/VisitRio) projeta que o público em cartões-postais deve aumentar 50% em relação a 2022 e 15% na comparação com 2019.
— Este é o primeiro carnaval sem qualquer restrição desde a pandemia, muito aguardado pelo trade turístico. Os números já mostram um fluxo muito satisfatório para a nossa cidade, que terão impacto direto na nossa economia — analisa o presidente-executivo do Rio CVB/VisitRio, Carlos Werneck.
Com a alta procura, o Corcovado decidiu estender o horário de visitação, o que permite agora acompanhar o pôr do sol lá do alto. A projeção é que o ponto turístico receba o dobro de público de 2022 e 30% a mais do que no carnaval de 2020.
— Alcançamos números fantásticos e que impactam toda a rede produtiva: do transporte dos turistas, dos restaurantes às lojas de artesanato. Em uma pesquisa interna, dos que visitam o Corcovado, 87% estão satisfeitos com a cidade — comemora Savio Neves, presidente do Trem do Corcovado.
Na Urca, os dinamarqueses Thomas Hansen, Katrine Nielsen e Mikael Hansen fizeram ontem a trilha do Pão de Açúcar. Viajando pela América do Sul há um mês e meio, o trio chegou há duas semanas ao Rio.
— Para ser sincero, a gente escuta por todo o canto sobre a festa carioca. Outros carnavais nem passaram pela nossa cabeça porque a fama do Rio já era o que a gente queria — afirmou Thomas, de 33 anos.