Carnaval 2023: desfile das campeãs tem festa da Imperatriz e de mais cinco escolas

Com a faixa de ‘campeã’, Imperatriz encerrou o desfile das campeãs com festa; na imagem, o carnavalesco Leandro Vieira e o coreógrafo da comissão de frente, Marcelo Misailidis

A despedida das escolas do Grupo Especial aconteceu em clima festivo na noite de sábado, sem protestos ou incidentes. Aparentando contentamento com suas posições, as agremiações desfilaram — sempre com contingentes menores, como é tradicional no Sábado das Campeãs — relaxadas e empolgadas, com boas apresentações das baterias. O mais próximo de uma alfinetada que pode ter acontecido foi a Mangueira, a segunda a se apresentar, lembrar no esquenta o samba campeão de 2019, “História para ninar gente grande” (conhecido como “samba da Marielle”), pouco antes da Beija-Flor, que apresentou enredo e samba semelhantes em 2023. De resto, a noite foi de festa, com o uso da iluminação especial do Sambódromo por quase todas as escolas e longos esquentas com sambas antigos, já que não havia a questão da cronometragem.

A Grande Rio abriu o Desfile das Campeãs, utilizando o sistema de luzes da Sapucaí para interagir com o desfile ao longo da apresentação: durante a exibição da comissão de frente para as cabines de jurados, os refletores ficaram amarelos e até se apagaram para dar destaque à figura de Ogum, que surgia em alegoria que acompanhava a comissão.

Com o homenageado Zeca Pagodinho no último carro, seus convidados eram quem se abastecia numa chopeira instalada na alegoria. O cantor “levantava o copo para o povo brasileiro”, como diziam os versos do samba cantado por Evandro Malandro. Assim como ele, a rainha de bateria Paolla Oliveira era aclamada pelo público:

— A gente sempre quer o campeonato, mas o campeão é um só. A alegria é para todos, por isso estou aqui assistindo a todas as escolas e vou embora só de manhã — disse a rainha, que subiu em uma plataforma durante as apresentações dos ritmistas. Já os carros alegóricos, diferente do desfile oficial, tiveram a iluminação funcionando perfeitamente.

A escola de Duque de Caxias foi seguida pela Mangueira, assim como o vento, que dava as caras pela Avenida no momento em que o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Estação Primeira se apresentava na primeira cabine de jurados e fez com que Cintya Santos deixasse a bandeira se enrolar.

Eleita melhor porta-bandeira pelo júri do Estandarte de Ouro, foi seu primeiro ano compondo o primeiro casal da Mangueira, ao suceder Squel Jorgea na função.

Destaque no último carro no desfile oficial, a ministra da Cultura Margareth Menezes foi desfalque e acabou substituída pela rainha do carnaval, a passista Mari Mola.

Já a Beija-Flor teve mais uma vez o veterano Neguinho da Beija-Flor dividindo os microfones com a cantora Ludmilla. Durante a apresentação, os puxadores pararam por uma passada inteira do samba, para que componentes e público fossem os cantores. Entre as alegorias, um alívio: após pegar fogo enquanto entrava na Avenida no desfile oficial, o segundo de três carros alegóricos que, acoplados, formaram o abre-alas, passou aceso, ao contrário do que acontecera na segunda-feira.

A quarta escola a desfilar foi a Vila Isabel, terceira colocada. Com um pot-pourri de sambas antigos, ela esquentou sua entrada na Avenida: Noel Rosa, citado no samba, foi homenageado com um trecho de “Feitiço da Vila”; Martinho da Vila, presente ao desfile, com “Casa de bamba”, e “Madalena”. O pagode incluiu ainda “Zé do Caroço”, clássico de Leci Brandão, “Gbala — Viagem ao templo da criação”, samba da própria Vila (1993) que tem chance de ser reeditado em 2024, e outros, fazendo a alegria do Setor 1.

Martinho desfilou à frente da escola, sobre uma alegoria que se virava e deixava o presidente de honra da Vila Isabel diante do público de todos os setores. Nas apresentações, os aplausos vieram no momento em que o casal de mestre-sala e porta-bandeira Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas trocou de roupa diante do público. Com Sabrina Sato reinando à frente da bateria, os ritmistas brincaram e dançaram ao longo do desfile.

A vice-campeã Viradouro desfilou com o seu mestre de bateria, Ciça — que teve sua demissão especulada após as notas de seu quesito, que decretaram a derrota, por um décimo, para a Imperatriz — esteve normalmente à frente da escola, vestido de padre. A apresentação da comissão de frente, que tinha corações voando sobre uma alegoria, foi muito aplaudida.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da vermelho e branca, no entanto, desfilou em outra posição: Julinho Nascimento e Rute Alves, que não conseguiram voltar à concentração a tempo de subir no último carro alegórico na noite de segunda-feira, só desfilou na alegoria na madrugada deste domingo.

Por fim, a Imperatriz lavou a alma na Avenida. Com boa parte dos componentes — incluindo o casal de mestre-sala e porta-bandeira Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, a rainha de bateria Maria Mariá, o intérprete Pitty de Menezes e integrantes de diversas alas — usando a faixa de campeã no peito, a escola ainda contou com um “arrastão” ao fim do desfile, como o público seguindo os campeões no ritmo do forró, que embalou o enredo assinado por Leandro Vieira, um destino pós-morte para o rei do cangaço, Lampião.

Desfilando pela Avenida desde o início da noite, o carnavalesco não tirou o já tradicional chapéu de pirata, presente em todas as comemorações, que chamou de “interminável”.

— Vou esperar a Imperatriz, que hoje é a dona da festa — vibrou Leandro, que comandou a comunidade de Ramos por dentro das alas, como a das baianas, por onde começou a noite.

Depois de encerrar o jejum de títulos, que durava mais de 20 anos, a escola fez um esquenta com os sambas campeões “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”, de 1989, e “O teu cabelo não nega”, do título de 1981, reeditado em 2020, quando a escola de Ramos venceu a então Série A (hoje Série Ouro), garantindo o retorno ao Grupo Especial.

Trocas

Ao longo do dia, pipocaram nas redes sociais as primeiras mudanças nas escolas, principalmente as que não voltaram para o desfile das campeãs.

O rebaixado Império Serrano não tem mais equipe: o presidente Sandro Avelar comunicou que todos foram desligados e que caberá à próxima gestão da escola, que será eleita em maio, começar do zero um novo trabalho; a Portela, talvez a maior decepção do carnaval, comunicou que dispensou o casal de carnavalescos, Renato e Márcia Lage, depois de três carnavais, e a porta-bandeira Lucinha Nobre, que defendia a azul-e-branco de Oswaldo Cruz desde 2018. Sua substituta é Squel Jorgea, que fez sucesso na Mangueira e não desfilou como porta-bandeira em 2023.

Já a Unidos da Tijuca também comunicou a saída de sua porta-bandeira, Denadir; o paraíso do Tuiuti, satisfeito com o trabalho apresentado (apesar do oitavo lugar), não deve promover grandes mudanças, e já renovou com o intérprete Wander Pires, ganhador do Estandarte de Ouro. Das escolas que se apresentaram na noite de sábado, apenas a Beija-Flor comunicou uma mudança importante, a saída do carnavalesco Alexandre Louzada, campeão com a escola de Nilópolis em 2007, 2008 e 2011. O parceiro de Louzada no carnaval que deu à escola o quarto lugar em 2023, André Rodrigues, desfilou no sábado, marcando o território.

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