Vítima de acidente na estação do Estácio, idosa diz que ‘emocional não aguenta’ andar novamente de metrô
Maria José da Silva, a dona Zezé, de 71 anos, não consegue esquecer as cenas do acidente ocorrido na estação Estácio do metrô, na última sexta-feira. Ela foi uma das passageiras que se feriram ao cair na escada rolante que faz a transferência entre as linhas 1 e 2 — até o vestido que usava rasgou. Nesta quarta-feira, a aposentada entrou em um transporte público pela primeira vez após o ocorrido e viveu momentos de aflição. A toda hora, diz, lembrava-se de quando caiu na estação.
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— Ao entrar na van para ir ao (hospital) Souza Aguiar, sentei em um dos primeiros bancos e, conforme a porta abria e fechava, parecia que eu ia cair. Falei para a minha nora, que me acompanhava: “Eu não estou aguentando”, e ela dizia para que eu fechasse o olho. Veio tudo aquilo na minha mente, e isso foi na van. Acho que não tenho mais coragem de entrar no metrô, meu emocional não aguenta — conta a idosa, que há 31 anos trabalha como empregada doméstica para os mesmos patrões, no Flamengo, na Zona Sul do Rio.
Braço esquerdo de Maria José da Silva está roxeado e com marcas da escada rolante na pele, que estão cicatrizandoBraço esquerdo de Maria José da Silva está roxeado e com marcas da escada rolante na pele, que estão cicatrizando Foto: João Vitor Costa / Agência O Globo
O seu deslocamento para o trabalho começa em um ônibus de Belford Roxo, município em que vive na Baixada Fluminense, até a estação do metrô da Pavuna, na Zona Norte. De lá, pega metrô até o Flamengo. Normalmente, faz a viagem em uma única composição, mas, devido ao feriado municipal de São Sebastião, era necessário que fizesse a transferência para a Linha 1 na estação Estácio, local onde a Linha 2 faz a última parada fora dos dias úteis (durante a semana, o trajeto se estende até Botafogo).
— Saí do metrô no embalo para a escada rolante, já pensando em pegar o outro (da Linha 1). Eu não sei dizer se eu estava no meio ou no fim da escada, mas, sabe quando a corrente da bicicleta arrebenta? Fez aquele barulho bem forte, a escada voltou (na direção contrária) e, conforme foi voltando, o povo foi caindo por cima de mim. Quando consegui abrir o olho de novo, já era muita gente caída e sangue — relata e complementa a idosa, que temeu lesões mais graves: — O meu vestido rasgou, o meu sutiã arrebentou, a escada estava puxando. A minha cabeça ia batendo, batendo, batendo, eu temi um traumatismo craniano.
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Nesta quarta-feira, Maria José prestou depoimento na 6ª DP (Cidade Nova) e, antes de comparecer à delegacia, foi ao Hospital municipal Souza Aguiar, para onde foi levada após o acidente, pegar o resultado de alguns exames. A caminhada até o local, segundo a idosa, foi sofrida porque “todas as carnes” estavam doendo, especificamente nas nádegas e abaixo do peito.
Com o braço esquerdo roxo e com as marcas da escada rolante na pele, que estão cicatrizando, a idosa está na casa de um dos filhos e da nora, Driele Lenhart:
— No dia do acidente, a minha sogra passou a noite toda acordada. Às vezes ela fica com o olho cheio d’água. Fico falando que ela foi muito guerreira porque, na idade dela, sofrer uma queda não é fácil. Deve passar um filme na cabeça quando olha para o braço — conta Driele.
Dona Zezé tem três filhos, dez netos e um bisneto, Gael, que comemorou seu primeiro aniversário na última quinta-feira. Por isso, ao deixar o trabalho no dia anterior, a doméstica só queria chegar em casa para comemorar com ele.
Reencontro
No dia do acidente, as ambulâncias fizeram os atendimentos no Acesso B — na Avenida Paulo de Frontin — da estação Estácio. Ao chegar à delegacia para prestar depoimento, dona Zezé reconheceu Cláudio Vieira Pires, que também se machucou naquele dia.
Maria José da Silva e Cláudio Vieira Pires foram atendidos pela mesma ambulância após o acidente no metrô e se encontraram na porta da delegacia nesta quarta-feiraMaria José da Silva e Cláudio Vieira Pires foram atendidos pela mesma ambulância após o acidente no metrô e se encontraram na porta da delegacia nesta quarta-feira Foto: João Vitor Costa / Agência O Globo
— Ele que teve o negócio da coluna, que estava com a camiseta preta. Foi isso mesmo: fomos eu, a moça da cabeça enfaixada e ele — relembra Maria José.
Já Cláudio se surpreendeu ao vê-la bem:
— A senhora deu muita sorte. Não quebrou nada, só tem hematoma. No dia, quando vi a senhora e uma outra chegando machucadas, liguei logo para a ambulância.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde (SMS), 21 pacientes foram atendidos em hospitais da rede municipal. Até segunda-feira, dois deles estavam internados em situação estável e, até o fechamento desta reportagem, a SMS não atualizou o estado de saúde desses pacientes. Já o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) calculou que 25 pessoas vítimas foram socorridas.
A delegada Maria Aparecida Mallet, titular da 6ª DP (Cidade Nova), investiga o caso. Ela informou que segue recolhendo depoimento das vítimas e aguarda laudo da perícia, que já recolheu imagens da estação.
Inicialmente, na sexta-feira, o MetrôRio informou “uma falha no equipamento de mobilidade” da estação Estácio e, horas depois, voltou atrás. Em nota, disse que o aparelho foi “minuciosamente inspecionado e que não houve falhas no seu funcionamento, diferentemente do que foi divulgado inicialmente”.
A concessionária também afirmou que a informação que tinha era de que “passageiros tentaram usar a escada rolante de subida para descer, o que provocou tumulto e quedas”.