Turismo em excesso: países como França e Grécia discutem formas de controlar número de visitantes na temporada de verão

No último fim de semana, o serviço de ônibus que liga o continente à ilha de Mont-Saint-Michel, na Normandia, no litoral norte da França, foi suspenso por algumas horas. O motivo? Havia mais turistas do que o lugar, um dos cartões-postais mais populares do país que mais recebe visitantes no mundo, poderia suportar.

As filas para subir as escadarias da cidade medieval se tornaram a imagem perfeita do “overturismo”, excesso do fluxo do turismo de massa, que provoca transtornos à população local e ameaça bens históricos e naturais. O assunto volta a ser uma preocupação neste momento de retomada das viagens internacionais pós-pandemia, especialmente na Europa, que começa sua temporada de verão.

Dias antes da crise de Mont-Saint-Michel, a ministra do Comércio, Artesanato e Turismo da França, Olivia Grégoire, afirmou que o país prepara uma campanha para “desincentivar” a visitação em alguns destinos já sobrecarregados. De acordo com ela, cerca de 80% dos visitantes que chegam ao país se concentram em apenas 20% do território nacional.

Por enquanto, o governo francês anunciou apenas a criação de um grupo para identificar os locais de maior risco e elaborar estratégias para incentivar visitas fora de temporada. E uma campanha de comunicação, que contará com ajuda de influencers de viagem, para mostrar cartões-postais lotados e indicar destinos alternativos no país.

Alerta ligado

Mas há atrativos que dificilmente ficam fora de um roteiro turístico. Quem vai a Atenas e não passa na Acrópole, por exemplo? O sítio arqueológico mais conhecido da Grécia tem registrado números alarmantes de visitação em 2023.

De acordo com a estatal que administra os bens culturais do país, o sítio histórico recebeu cerca de 14 mil pessoas em maio, um número 70% maior do que o registrado em 2022 e equivalente às médias de agosto, o mês mais movimentado. A situação ligou o alerta até na Unesco, que demonstrou preocupação com a preservação estrutural das ruínas, listadas como patrimônio mundial.

Os cenários se contrapõem à imagem dos cartões-postais vazios durante a pandemia e à expectativa de que os viajantes passassem a valorizar destinos alternativos e a evitar locais com grande aglomeração.

— Havia a esperança de que os antigos modelos de turismo pudessem ser repensados durante a pandemia. O que se viu foi o contrário, uma tentativa muito imediatista de retomada, causada por uma forte demanda reprimida — analisa o professor João Paulo Faria Tasso, do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB), que tem no “overturismo” um de seus objetos de estudo. — O que se percebeu logo após essa volta das viagens foi que alguns destinos aos poucos foram adotando medidas pontuais, mas embrionárias, para minimizar esses impactos.

Como exemplos, ele cita os projetos de regulamentação e diminuição do modelo de aluguel por temporada em cidades como Lisboa e Barcelona, de cobrança de uma taxa de entrada em Veneza e da redução do número de chegadas de navios de cruzeiros em Dubrovnik.

Não são apenas grandes cidades que sofrem com o fluxo exagerado de turistas. Muitos destinos que serviram de locação para séries e filmes de sucesso entraram no radar de fãs e viajantes em geral, mesmo sem ter como absorver tantos novos visitantes.

Foi o que aconteceu com o vilarejo praiano de Etretat, no Norte da França, que graças à série “Lupin”, na Netflix, explodiu em termos de popularidade nos últimos anos. Com cerca de 1.200 habitantes, recebe mais de dez mil visitantes por dia durante a alta temporada.

Algo parecido acontece na Suíça. Desde que a série sul-coreana “Pousando no amor” estreou, também na Netflix, o povoado de Iseltwald, de pouco mais de 400 moradores, às margens do Lago Brienz, tem sido tomado por fãs da produção.

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