Traficantes usam contas de moradores de favelas para pagar fornecedores de drogas e armas

Operação Fim do Mundo, deflagrada nesta quinta-feira pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio, revelou o esquema usado por bandidos do Rio para pagar as armas e drogas compradas pela quadrilha. Os investigadores descobriram que traficantes de Acari, na Zona Norte, e da Vila Aliança, na Zona Oeste, pagavam pelas armas e drogas com depósitos fracionados em agências bancárias localizadas nas proximidades das comunidades.

Ao menos três pessoas que faziam esses depósitos com frequência foram identificadas. Uma delas, Douglas Cabral, transferiu R$ 138 mil, em três meses e meio, para Renato Castro, acusado de ser chefe de um nos núcleos investigados na operação. De acordo com as investigações, Douglas, que mora na Vila Aliança, fez transferências que variaram de mil reais a R$ 49,9 mil para Renato, que está foragido.

A estratégia dos depósitos até R$ 50 mil — para não levantar suspeitas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) — foi usada, ainda, para a aquisição de um dos imóveis de Renato em Balneário Camboriú. Segundo as investigações, a corretora Grazieli Maria da Cruz recebeu R$ 1,4 milhão, de março a julho de 2021.

O responsável pelos depósitos, de acordo com a PF, é Rafael Mendes de Oliveira, também da Vila Aliança. O dinheiro teria ido para a conta da corretora e sido usado para comprar o imóvel. O marido de Grazieli, o corretor de imóveis Moacir Ribeiro, também é acusado de fazer parte do esquema criminoso. O casal é de Santa Catarina: para os investigadores, além de corretores, eles seriam administradores financeiros de Renato.

As investigações da PF tiveram início em 2019, com a apreensão de duas toneladas de maconha e 18 carregadores de fuzil em Piraí, no interior do estado. Outras apreensões também serviram de base para a polícia rastrear os envolvidos no transporte do material, os pagamentos e os compradores.

A investigação da PF mirou três núcleos, um deles chefiado por Renato e seu irmão, Rodrigo Castro, que foi preso. O segundo era liderado por Edivaldo Freitas Portugal, Edinho Portugal, também detido, e por João André de Souza, conhecido como João do Gelo, que está foragido.

Crime em família

A quadrilha dos irmãos Castro — que moravam em Acari antes de mudarem para o Sul — era familiar: sete parentes são acusados de fazer parte do bando, incluindo duas irmãs e a mãe. De acordo com as investigações, eles atuavam na lavagem do dinheiro. Alguns eram usados como laranjas para a ocultação de bens obtidos com o lucro oriundo do crime.

Segundo a PF, Renato movimentou, entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, cerca de R$ 400 mil em sua conta bancária. No restante de 2020, foi mais R$ 1,5 milhão — a maior parte dos recursos foi de depósitos fracionados. Mesmo assim, ele e seu irmão receberam auxílio emergencial, benefício concedido pelo governo federal a famílias com dificuldades financeiras durante a pandemia.

Nos arquivos que Renato mantinha em seu telefone celular, os agentes da PF encontraram conversas sobre a negociação de armas e drogas. Os acusados vão responder por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Em nota, a Ceasa informou não ter recebido qualquer notificação do MP sobre o uso de seu espaço por criminosos, portanto não tem ciência da investigação. Acrescentou que o local tem portaria funcionando 24 horas por dia com monitoramento de câmeras que controlam a entrada e a saída dos veículos de mercadorias, que precisam apresentar notas fiscais em todos os seus acessos. A defesa dos acusados não foi localizada pelo GLOBO.

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