Terceiro acusado de derrubar helicóptero da PM e matar três policiais vai a júri popular nesta terça-feira
O terceiro acusado de derrubar um helicóptero da Polícia Militar no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, o que culminou na morte de três policiais, vai a júri popular nesta terça-feira. Fabiano Atanásio da Silva, o FB, é acusado de participação no crime, ocorrido em 2009. O julgamento começa nesta manhã e tem previsão de durar mais de um dia. O acusado está no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, e acompanhará virtualmente.
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Rio, durante a tentativa de invasão a favela dos Macacos, Atanásio e outro dois traficantes, já condenados, efetuaram disparos de arma de fogo contra o helicóptero Fenix 03, tripulado por uma equipe de seis policiais. Os tiros, além de atingirem os PMs, causando-lhes lesões, provocaram um incêndio na parte traseira da aeronave, obrigando seu pouso forçado.
O helicóptero acabou tombando e, após o desembarque de Marcelo Vaz de Souza, Marcelo de Carvalho Mendes, Anderson Fernandes dos Santos e Izo Gomes Patrício, se incendiou por completo com Marcos Stadler Macedo e Edney Canazaro de Oliveira no seu interior. Além desses dois policiais, Izo Gomes Patrício também morreu devido às lesões provocadas pelos tiros efetuados pelos traficantes e queimaduras graves.
Em depoimento, tripulantes que sobreviveram à queda contaram que duas aeronaves davam apoio a equipes da Polícia Militar após a corporação ser acionada para debelar uma tentativa de invasão de traficantes rivais no Morro dos Macacos. A primeira missão daquela manhã foi levar munições para colegas encurralados no alto do morro e permitir saída deles daquela situação. Neste primeiro momento, o helicóptero Fênix 03 — que mais tarde fora derrubado — foi atingido na porta esquerda e estilhaços feriram um dos tripulantes.
As aeronaves voltaram pela segunda vez ao Morro dos Macacos para socorrer um policial que havia sido baleado na perna. Depois de levar o agente ferido ao Hospital da Polícia Militar, os helicópteros receberam a ordem de retornar a Vila Isabel para dar apoio aos colegas que estavam novamente encurralados. Voando juntas, na frente estava o Fênix 03.
“Quando a aeronave sobrevoou baixo uma área de mato e pedras, na divisa entre os dois morros, foram surpreendidos pelo grupo criminoso que estava se retraindo e se homiziara no local para regressar ao São João. A malta de cerca de trinta criminosos, com armas de fogo apontadas para o alto, desferiu contra o helicóptero uma saraivada de tiros. Todos os tripulantes, exceto o piloto, o capitão Marcelo Vaz de Souza, foram alvejados”, diz trecho da denúncia.
Fabiano Atanásio foi preso em janeiro de 2012 em Campos do Jordão, São Paulo. A polícia encontrou FB em uma casa de luxo, no bairro Alto Capivari, de classe média alta. Desde então ele está detido por uma prisão preventiva, que, segundo a defesa, é a única decisão que o mantém na cadeia.
Ao EXTRA, o advogado Claudio Dalledone disse que defenderá a inocência de Atanásio e que seu cliente está “jogado no sistema penitenciário federal”.
— A defesa é a maior interessada na realização desse julgamento. Estamos aqui para fazer o julgamento e empreendendo todos os esforços para se realize. Temos uma situação desumana que degrada e corrompe a condição de um acusado há 12 anos presos preventivamente. Não existe nenhuma prova que possa conduzir sequer a suspeita de que Fabiano Atanásio mandou que esse helicóptero fosse derrubado — diz o defensor.
Por meio de nota, o Ministério Público afirma que a “1ª Promotoria de Justiça Junto ao III Tribunal do Júri da Capital esclarece que, ao contrário do alegado pela defesa de Fabiano Atanasio, além da prisão preventiva no processo sobre a queda do helicóptero, há ao menos outro mandado de prisão preventiva vigente contra o réu na Justiça Federal pela denominada Operação Efialtes, amplamente divulgada na imprensa. Importante ressaltar que o réu ostenta condenações que somam mais de 59 anos de prisão ainda a serem cumpridos. Também cumpre destacar que no III Tribunal do Júri ainda tramita processo com julgamento pautado para 05 de outubro de 2023, em que Fabiano Atanasio é acusado de matar o diretor do presídio Bangu III, o tenente Coronel José Roberto de Amaral”.
Condenação de 193 anos
Em 2022, o Conselho de Sentença do 3º Tribunal do Júri da Capital condenou os traficantes Magno Fernando Soeiro Tatagiba de Souza, o Magno da Mangueira, e Leandro Domingos Berçot, o Lacoste, pelos três homicídios qualificados e seis tentativas de homicídio. Ambos tiveram a mesma condenação: 193 anos, um mês e 10 dias
O júri deles chegou a ser marcado em 2018, mas foi desmarcado e, em seguida, houve sucessivos adiamentos devido a recursos das defesas. Fabiano Atanásio não participou do juri de 2022 porque sua advogada à época alegou problemas de saúde. Magno já cumpre pena no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná, enquanto Lacoste se encontra foragido da Justiça. Em 2019, outro réu, Luiz Carlos Santino da Rocha, o Playboy, foi condenado a 225 anos pelo mesmo caso, porque houve desmembramento do processo original. Todos são considerados chefes do tráfico da principal facção criminosa do Rio.
Na sentença de 2022 assinada pelo juiz Adriano Celestino Santos , ele relata que “as circunstâncias do crime extrapolam a normalidade, tendo em vista o poderio bélico demonstrado pelo grupo que direcionou a ação contra helicóptero da Polícia Militar, revelando desprezo à segurança pública’. Há que se levar em conta, ainda, que o fato foi praticado em concurso de pessoas, o que naturalmente aumenta reprovabilidade da conduta em razão da superioridade numérica e premeditação”.
Também é ressaltado pelo magistrado que os três tripulantes do helicóptero: Marcos Stadler, Edney Canazaro e Izo Gomes, de acordo com seus laudos de necropsia, morreram carbonizados. Para o juiz, o fato leva a crer que houve intenso sofrimento das vítimas. Os outros três integrantes que se encontravam na aeronave: Marcelo Vaz, Marcelo de Carvalho e Anderson Fernandes foram submetidos “a imenso sofrimento físico e abalo psicológico”, segundo o que escreveu o juiz Adriano Celestino dos Santos em sua sentença. Eles chegaram a sofrer queimaduras de 2º e 3º graus, além de tratamento com cirurgião plástico e apoio psicológico.