Tebet faz ponte entre governo e empresariado

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, participou remotamente da conferência do grupo empresarial Lide, em Lisboa, e prometeu “segurança e previsibilidade” a uma plateia composta por empresários, representantes do setor bancário e autoridades como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o governador do Rio, Cláudio Castro.

Ao fazer a ponte do governo Lula com o setor privado, Tebet admitiu diferenças de visão entre ela e o restante da equipe econômica, mas se disse “surpresa” ao estar descobrindo no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um “grande parceiro”, segundo ela muito consciente da realidade econômica e fiscal do país, inclusive que com a relação entre dívida pública e PIB e juros altos não se tem crescimento econômico robusto e de longo prazo.

Ela criticou o déficit primário da ordem de 2% do PIB deixado por Jair Bolsonaro e o atribuiu, novamente, à busca pela reeleição do ex-presidente. “Nós aqui no governo temos consciência da gravidade do momento”, afirmou, elencando reforma tributária e nova âncora fiscal como prioridades do governo, assim como medidas para “melhorar a qualidade” do gasto, nas quais sua pasta estaria trabalhando.

A presença de Tebet num evento capitaneado pelo Lide, que tem como uma das principais lideranças o ex-governador de São Paulo João Doria mostra uma aproximação da gestão Lula com o setor produtivo e o mercado financeiro, depois de uma transição e um início de governo marcados por desconfiança.

Doria recebeu elogios da ministra pela condução de São Paulo na pandemia. “Quero aqui fazer uma homenagem ao João Doria. Seus discursos vespertinos na pandemia salvaram milhares de vidas”, afirmou, louvando o empenho do ex-tucano pela obtenção da vacina.

Crítico ferrenho do PT e, depois, adversário de Jair Bolsonaro, Doria também recebeu elogios do governador Cláudio Castro, aliado dos Bolsonaro e integrante do mesmo partido do ex-presidente, o PL — com o qual está em rota de colisão. Castro também acenou a Lula, ao dizer que o governo federal pode contar com os governadores. “O que a gente quer nesse país é paz”, afirmou. Mais tarde, frisou que “a eleição acabou”.

Da parte dos empresários que discursaram, as sinalizações de acomodação de expectativas em relação ao governo também apareceram. O presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirmou que a entidade não hesitou em assinar dois manifestos pela democracia e em repudiar com veemência os atos terroristas de 8 de janeiro. “Isso é alinhamento? Não, isso é responsabilidade”, afirmou.

Ele pregou maior participação do setor financeiro e do empresariado na definição de políticas públicas, inclusive na definição da nova âncora fiscal. “Por que não podemos oferecer ao governo uma proposta de responsabilidade fiscal? Ficamos só esperando”, cutucou.

Para Sidney, não há oposição entre a necessidade de reduzir a desigualdade e a austeridade fiscal. “Também não há antagonismo entre público e privado”, afirmou, depois de elogiar o empenho de Haddad na largada do governo.

Uma fala conciliatória também veio do presidente do conselho do Bradesco, Luiz Trabuco, que elogiou os planos do governo para o desenvolvimento com sustentabilidade ambiental. Afirmou que o setor financeiro é um fator de estabilidade no Brasil, e se disse otimista quanto à possibilidade de o país cotejar equilíbrio da dívida e do fiscal com crescimento. Também reconheceu a necessidade de o país enfrentar a dívida social, mas com políticas públicas que tenham métricas de desempenho — algo que Tebet prometeu em sua fala.

O otimismos no discurso veio de uma grande representante do setor varejista presente, a presidente do conselho do Magazine Luiza, Luiza Trajano. Ela fez uma das falas mais contundentes sobre a necessidade de o empresariado participar do enfrentamento à fome e à miséria, em parceria com o governo.

Ao ser questionada pelos empresários da plateia sobre as divergências com o PT, o risco de ser alvo de fogo amigo e as dificuldades de implantar suas visões na gestão, Tebet fez elogios a Lula por ter construído o que destacou ser uma frente ampla, reconheceu que pode receber alguns “cartões amarelos” e que espera perceber se estiver prestes a receber um “cartão vermelho” e se antecipar a ele. Sem ser questionada colocou a sucessão de 2026 na pauta ao dizer que os diferentes integrantes do governo que tenham projetos políticos precisam adiar essas pretensões em nome de arrumar as contas. “Não haverá 2026 para ninguém se não fizermos o dever de casa em 23”, disse.

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