Quando o Censo aponta caminhos: a inclusão começa no mercado de trabalho
Projeto da Águas do Rio com profissionais autistas destaca a importância da adaptação, empatia e escuta nas empresas
A inclusão de profissionais autistas no mercado de trabalho ganha ainda mais relevância diante dos dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (23/5): o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o equivalente a 1,2% da população. Só no estado do Rio de Janeiro, são mais de 1,5 milhão em idade ativa para o trabalho. Foi com esse olhar atento que, há um ano, a Águas do Rio contratou um grupo de profissionais com TEA e iniciou uma transformação concreta rumo à diversidade e inclusão.
A contratação de pessoas neurodivergentes tem gerado uma transformação na Águas do Rio. A iniciativa faz parte do programa de diversidade da Aegea, que busca refletir, na composição da empresa, a pluralidade da população brasileira.
“Incluir pessoas autistas no mercado de trabalho vai muito além de uma responsabilidade social, é uma decisão estratégica. São profissionais com habilidades únicas, capazes de trazer inovação e novas perspectivas. Por isso, é fundamental garantir a eles acesso à qualificação e oportunidades reais de desenvolvimento, para que não apenas ocupem uma vaga, mas construam uma trajetória profissional sólida”, afirma Alexandre Bianchini, vice-presidente da Aegea.
Adaptando espaços e comportamentos
Pablo Pelegrino (30), Irlana Pimentel (44) e Henrique Lima (48) são exemplos de como ambientes inclusivos e equipes preparadas fazem diferença na rotina e na produtividade dentro da Águas do Rio. Antes mesmo da contratação, a Águas do Rio investiu em treinamentos com gestores e equipes e promoveu adaptações nos espaços de trabalho, com o apoio de uma consultoria especializada em inclusão de pessoas neurodivergentes.
“Tivemos o cuidado de colocá-los em áreas ou lugares da empresa onde eles não se deparassem com estímulos sensoriais relacionados às suas particularidades e disponibilizamos abafadores de som para evitar desconforto. Também orientamos a utilização das salas reservadas e silenciosas”, explica Nanci Almeida, coordenadora de RH da Águas do Rio.
Ainda segundo Nanci, os profissionais também participaram de ações de ambientação para conhecer os setores e se familiarizar com a estrutura. “A estratégia foi importante para que eles se percebessem nos locais de trabalho e criassem vínculos com os espaços e com as pessoas”, afirma.
Pablo, que atua na Comunicação Social, lembra que um dos principais desafios foi lidar com a agitação natural do setor. “Sou mais sensível a estímulos sensoriais, e a constante movimentação das pessoas me afeta bastante. Mas, com os ajustes na empresa, como espaços silenciosos e o uso de abafadores, pude focar melhor nas minhas tarefas. É por isso também, que estamos dentro do regime de trabalho híbrido, uma vez que parte da semana estamos em casa, em um ambiente de conforto psicoóligo”, conta.
No setor de Recursos Humanos, Irlana enfrentava desconforto com a luz intensa. “Sou hipersensível a luzes fortes, pois me deixam desconfortável e afetam minha concentração. A permissão de usar óculos escuros foi crucial para eu me sentir confortável no trabalho”, relata.
Henrique, que atua na área de TI, tem hipersensibilidade ao toque. “É muito importante que os colegas entendam esse desconforto para algumas pessoas autistas. Com o tempo, aprendi a me comunicar melhor sobre isso e usar artifícios, como adotar blusas com mangas compridas”, compartilha.