Preso por feminicídio se dizia especialista na defesa de homens acusados pela Lei Maria da Penha
Marcius dos Reis Resener de Oliveira foi preso após a morte de Aline Resener na frente do filho de 8 anos do casal. Juiz converteu em preventiva a prisão dele e da namorada por considerar o casal perigoso e um risco para as testemunhas.
Marcius dos Reis Resener de Oliveira, preso pela morte da ex-companheira na última sexta-feira (6), se passava por advogado criminalista e dizia ser especialista na defesa de homens que eram acusados pela Lei Maria da Penha. Marcius, no entanto, não possui inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ou seja, não pode exercer a profissão no país.
Em uma entrevista concedida em fevereiro deste ano a uma emissora de Teresópolis, na Região Serrana, ele fez críticas à lei, disse que a maior parte das mulheres mentem nas denúncias e que os maiores prejudicados são os filhos.
O tema da entrevista para a TV Cidade era “Homens sofrem mais violência doméstica do que as mulheres” e, durante o programa, Marcius diz que sofreu violência doméstica por parte de Aline da Silva Resener de Oliveira, a quem matou a tiros. No relato, ele diz que a mulher bateu no filho e gravou a agressão para atingi-lo.
“Meu filho seria mais um Henry Borel da vida se eu não atuasse”, afirmou ele.
Marcius fez referência à morte do menino Henry Borel, de 4 anos, em 2021. Segundo as investigações e a denúncia do Ministério Público, o autor das agressões que mataram o menino foi o padrasto, o ex-vereador Jairinho.
No desenrolar da entrevista, ele dá dados sem citar fontes para tentar dizer que “mulheres mentem nas denúncias da Lei Maria da Penha” e que “homens sofrem mais, mas não denunciam”.
Criada em 2006, a Lei Maria da Penha tornou crime a violência doméstica e familiar contra a mulher. O nome é uma homenagem à mulher cujo marido tentou matá-la duas vezes e que desde então se dedica à causa do combate à violência contra as mulheres.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgados em março, o RJ bateu recorde de feminicídios em 2022, com 1 mulher morta a cada 3 dias.
Tanto na entrevista quanto nas redes sociais, ele se apresentava como advogado criminalista e dizia que era especializado na defesa de homens que eram denunciados pela Lei Maria da Penha e casos de alienação parental.
Em áudios enviados em grupos, ele costumava se vangloriar de ganhar casos e oferecia serviços e mentorias – reuniões on-line nas quais cobrava R$ 350 para dar instruções.
Múltiplas profissões
Além de advogado, ele também se apresentava como psicanalista, policial e pastor, tendo até postado vídeos em pregações.
Mas, na audiência de custódia que aconteceu neste domingo (7), ele informou ao juiz que é funcionário público da Secretaria Municipal de Educação do Rio e que trabalha na Escola Municipal Estado de Israel, que fica em Realengo.
Durante a entrevista, ele se contradiz, dizendo que o pai é engenheiro e depois afirma que é filho de um desembargador.
A mãe, Maria Regina dos Reis de Oliveira, é advogada. O cadastro dela está ativo, e é ela que defende o filho em processos contra a Aline.
Marcius participava de uma organização chamada Unifami – União pela Família, que tem como propósito dar “apoio às vítimas de alienação parental e denunciação caluniosa”. A organização é formada por psicólogos, advogados e profissionais que atendem a esses pais.
Era nesse grupo que ele captava clientes, dava supostas informações sobre a Lei Maria da Penha e até mesmo discutia com quem discordasse do seu modo de agir. Em um áudio, ele disse que teve a oportunidade de ser presidente dessa organização, mas não quis.