Preso acusa pai e filho de tramar morte de família, mas polícia desconfia de versão após descoberta de 7º corpo

O mistério que envolve a morte de pelo menos sete pessoas da mesma família, incluindo três crianças, tem mobilizado investigadores das polícia civis do Distrito Federal, de Goiás e de Minas Gerais, desde 14 de janeiro. Um homem preso por participação nos homicídios acusou Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, e o filho Thiago Gabriel Belchior de Oliveira, de 30, também desaparecidos, de arquitetar os assassinatos das mulheres e das crianças. Mas a descoberta do sétimo corpo contraria essa hipótese, segundo o delegado encarregado da investigação.

A polícia suspeita que o crime esteja ligado a R$ 400 mil obtidos pela mulher de Marcos Antônio e mãe de Thiago Gabriel, Renata Juliene Belchior, de 52 anos, com a venda de uma casa em Santa Maria (DF). E a R$ 100 mil de um empréstimo pedido pela mulher de Thiago e nora de Marcos, a cabelereira Elizamar da Silva, de 39 anos.

De 14 a 16 de janeiro, a polícia recebeu denúncias de desaparecimento de dez pessoas, todas da mesma família. Os denunciantes eram dois filhos de Elizamar, que foi assassinada: um rapaz de 24 anos e uma jovem de 18 anos, preocupados com o sumiço da mãe e os demais parentes.

Entenda o caso
Entenda o caso Foto: Editoria de arte

Investigadores descobriram que dois carros com corpos carbonizados haviam sido encontrados em Cristalina (GO) e Unaí (MG) entre os dias 13 e 14, e o veículo achado em Goiás pertencia a Elizamar. Dentro dele, havia quatro corpos: o da cabeleireira e de três filhos — um menino e uma menina, gêmeos, de 6 anos, e um garoto de 7 anos.

O carro achado em Minas estava em nome de Marcos Antônio. Nele, estavam duas vítimas queimadas, que podem ser Renata Juliene, mulher de Marcos, e Gabriela Belchior de Oliveira, de 25 anos, filha do casal.

Uma perícia e o trabalho de reconhecimento no Instituto Médico Legal já confirmaram a identidade de Elizamar e das crianças. E um segundo exame apontou ontem que os cadáveres de Minas eram de duas mulheres. Mas ainda não foi possível confirmar a identidade de Renata e Gabriela.

R$ 10 mil com presos

Com ajuda de imagens de câmeras de segurança e o depoimento de testemunhas, os investigadores prenderam três homens apontados como os executores: Horácio Carlos Ferreira Barbosa, de 49 anos, Gideon Batista de Menezes, de 55, e Fabrício Silva Canhedo, de 34 anos. O último foi detido anteontem e teria sido responsável por vigiar duas das vítimas num cativeiro em Planaltina (DF). Com os suspeitos, foram encontrados R$ 10 mil.

À polícia, Horácio apontou Marcos Antônio e Thiago como mandantes. E também implicou uma mulher identificada como Claudia, que seria amante de Marcos Antônio, e a filha dela, Ana Beatriz. Os três teriam sido contratados por R$ 100 mil.

O assassino confesso afirmou que o plano era atrair Elizamar a um encontro onde ela seria morta. Mas o cenário mudou quando a cabeleireira apareceu acompanhada dos filhos. O avô Marcos Antônio, o pai Thiago, Gideon e Horácio teriam resolvido levá-las a Cristalina. Na cidade goiana, todos foram sufocados e os criminosos atearam fogo no veículo com os corpos dentro, de acordo com Horácio. Ele afirmou que Thiago teria matado um dos filhos.

Renata e Gabriela, segundo contou Horácio aos agentes da 6ª Delegacia do Distrito Federal, teriam sido sequestradas por Marcos Antônio e Thiago e levadas a um cativeiro em Planaltina, onde foram igualmente assassinadas e tiveram os corpos queimados. No local, policiais encontraram dois colchões, aparelhos celulares e fitas usadas para prendê-las. E o corpo de um homem que põe em xeque a versão de Horácio, para o delegado Ricardo Viana.

— Agora, trabalhamos com a tese de que Gideon, Horácio e Fabrício se associaram, subtraindo valores da família e ceifando as vítimas uma a uma. Com a localização desse sétimo corpo, a coautoria fica prejudicada. Os parentes desaparecidos não praticaram o crime juntos e não estavam em conluio com as três pessoas presas — disse o delegado ao site Metrópoles.

Thiago já foi condenado a 1 ano e 4 meses de reclusão, no regime semiaberto, pela posse de veículo furtado e com placas adulteradas, em 2021. “Disse que é mecânico e adquiriu o veículo VW/Gol, um mês antes do fato, de pessoa chamada Igor, no valor de R$ 2.000,00, sem documentação. Usava chave de fenda para ligá-lo, pois a chave que recebeu não funcionava. Sabia que era produto de furto, mas mesmo assim continuou a conduzi-lo. Negou ter conhecimento de que a placa era de outro veículo”, dizem os autos do processo.

— Ela sempre me ajudou e apoiou muito em momentos mais difíceis que enfrentei. Meu amor por ela, pela filha e pelos netos será eterno. Não sei nem explicar a dor que estou sentindo agora, é impossível descrever — disse uma parente de Renata, que pediu para não ser identificada, comentando o choque da família.

Nas redes sociais, Ismael da Silva, irmão de Elizamar, fez uma publicação demonstrando revolta pelas mortes e chegou a acusar Thiago. “Acabamos de chegar do IML e lá estão os quatro corpos da minha irmã, das crianças, e o principal suspeito é esse animal do pai das crianças, que está desaparecido. Tanto ele como o pai dele. Quem tiver informação sobre esse lixo liga para a polícia”, escreveu, depois da identificação dos corpos. “Esses monstros acabaram com a nossa família”, protestou.

As redes sociais revelam um pouco do comportamento dos envolvidos na trama. Thiago demonstrava carinho por seus três filhos mortos. “São minha vida”, escreveu na foto ao lado deles que ilustra um de seus perfis. Em outra imagem de novembro de 2020, Thiago posa ao lado das crianças mais uma vez, segurando um bolo de aniversário. “Essa foto ficou linda, amor”, comentou Elizamar.

No penúltimo dia de 2022, a cabeleireira publicou um comentário que indicava desgaste no relacionamento com Thiago. “Mesmo que eu fosse a melhor pessoa do mundo, não teria sido o bastante, já que você não fazia questão que fosse”, ecreveu. “Triste é você gostar muito de uma pessoa e descobrir que ela é falsa com você”, havia compartilhado antes, em outubro.

Marcos Antônio publicava em sua rede social fotos de vaquejada e de veículos e acessórios de construção. Seu perfil é ilustrado com a frase “Cuidado ao fazer muito pelo ingrato, no final ele diz que não te pediu nada!”.

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