Polícia investiga se sobrevivente de ataque que matou Zico Bacana fazia a segurança do ex-parlamentar
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), responsável pela apuração das mortes do ex-vereador e PM reformado Jair Barbosa Tavares, mais conhecido como Zico Bacana, e de outros dois homens, assassinados nesta segunda-feira, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, vai investigar se um sobrevivente do ataque fazia a segurança do ex-parlamentar ou se apenas estava no mesmo local que as outras vítimas . A testemunha não teve o nome divulgado pela polícia. Ela foi ferida por estilhaços e deve ser ouvida em breve pelos policiais.
Além de Zico Bacana, também morreram na ação Jorge Barbosa Tavares, irmão do ex-parlamentar, e o garçom Marlon Correia dos Santos que, segundo o g1, passava pelo local do crime e tentou correr, mas acabou sendo atingido. Segundo amigos, ele tinha um irmão com necessidades especiais e ajudava a cuidar dele. Marlon será enterrado nesta quarta-feira, às 15h, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, no bairro de mesmo nome, na Zona Norte do Rio.
O ex-vereador foi baleado na cabeça em uma padaria, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, bairro que faz parte de sua área de atuação. Ele foi socorrido, mas chegou morto ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. No Instituto Médico-Legal, nesta terça-feira, uma sobrinha de Zico disse que ao longo dos últimos meses a família sofreu ameaças.
— Eles (seu pai, Jorge, e seu tio, Zico) foram mortos covardemente, na padaria que fica onde eles foram nascidos e criados. Ele se recusava a sair do bairro e afirmava “se eu sair daqui, todo mundo vai precisar sair. Todo mundo! Porque os bandidos querem tomar conta daqui. Enquanto eu estiver vivo, vou lutar. Porque como policial eu ainda tenho voz” — conta ela.
Segundo um amigo da família que não quis se identificar, traficantes colocaram, ao longo dos últimos meses, barricadas cada vez mais perto da casa de Zico como uma forma de deixar as pessoas cada vez mais acuadas.
O mandato de Zico Bacana como vereador foi entre 2017 e 2020, pelo Podemos. Durante o mandato, ele também levou um tiro na cabeça, mas de raspão, enquanto estava em um bar, em 2020. Na ocasião, homens saltaram de dois carros e passaram a atirar contra Zico, que reagiu. Seguranças que estavam com ele também atiraram. Peritos encontraram 15 marcas de disparos no carro blindado de Zico, que estava estacionado a poucos metros do bar. No chão do estabelecimento comercial, foram encontradas 35 cápsulas de munição. Dois homens foram mortos no tiroteio à época. Um deles era Davison Ferreira da Silva, o Da Roça, integrante do tráfico da favela Final Feliz, uma das que formam o Complexo do Chapadão, e teria participado do ataque.
Nas redes sociais, recentemente, ele se apresentava como paraquedista e ex-policial militar. A sobrinha do ex-político diz que as ameaças que ele sofria eram devido a chamar a polícia para fazer rondas na área:
— Eu tive que sair de casa com a minha família porque os bandidos foram na minha porta. Ontem (segunda-feira) mataram eles covardemente, mas ele sofria ameaça todo dia. Falavam que iam arrancar a cabeça dele. E meu pai não era da política.
O corpo do ex-vereador será enterrado no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. A cerimônia será a partir das 7h desta quarta-feira, com sepultamento marcado para 11h. Já sobre o velório de Jorge Barbosa Tavares, irmão dele, ainda não foram divulgadas informações.
A sobrinha do ex-vereador relata, ainda, que as ameaças tinham requinte de crueldade e eram feitas por conta de a polícia fazer rondas na região:
— Eu não moro mais, mas a gente tem familiares lá. Ele chamava a polícia porque a gente estava vivendo coagido.
O ex-vereador foi baleado na cabeça. De acordo com o Hospital Municipal Albert Schweitzer, o ex-parlamentar deu entrada já em óbito, às 17h50. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso. Segundo a Polícia Civil, a perícia foi feita no local e diligências estão em andamento para apurar autoria e motivação do crime.
Em 2008, antes de ser eleito, Zico Bacana foi citado na CPI das Milícias como um dos chefes de grupos paramilitares que atuavam na regão de Guadalupe e Ricardo de Albuquerque, mas nunca foi sequer indiciado. Ele também prestou depoimento um mês após a morte de Marielle Franco. Na época, a DH investigava a presença de milicianos entre seus assessores. Zico e Marielle foram eleitos pela primeira vez em 2015 e ambos ocupavam gabinetes no sétimo andar da Casa na época do crime. Ele sempre negou qualquer relação com o crime.