Polícia espera laudo pericial para esclarecer morte de espancado; família acha que linchamento foi encomendado

Após a morte encefálica de Osil Vicente Guedes, de 49 anos, ter sido confirmada, no último domingo (7), a família informou que acredita que o linchamento sofrido pelo empresário no Guarujá, no litoral de São Paulo, foi encomendado pela ex-namorada dele – e não em decorrência da suposta fake news de que ele teria roubado uma moto. Em áudio obtido pelo EXTRA, a vítima conta à sobrinha Natacha Silva que na terça-feira (2), um dia antes do ocorrido, a mulher havia mandado três traficantes agredi-lo. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que caso é investigado como homicídio pelo 2º Distrito Policial de Guarujá. A polícia realiza oitivas de testemunhas e aguarda o laudo pericial para análise e esclarecimento dos fatos. A reportagem questionou se os três suspeitos que agrediram Osil foram identificados e presos, mas não obteve resposta. A pasta também disse que não daria informações sobre a ex-namorada da vítima “para garantir autonomia ao trabalho policial”.

“Ela (ex-namorada) te contou que chamou três traficantes para me espancar? O cunhado dela e mais dois bandidos criminosos. Ela te contou isso? Só que isso não vai ficar assim não (áudio cortado)”, contou Osil à Natacha, em áudio encaminhado 14h44, horas antes da vítima ser novamente atacada por um grupo de três homens.

De acordo com Natacha, ela chegou a questionar a ex-namorada do tio sobre a suposta ameaça de agressão, mas a mulher teria respondido que “era delírio de Osil”. Na quarta-feira, depois que recebeu o áudio do tio e não conseguiu mais falar com ele por telefone, Natacha entrou em contato com a vizinha do empresário, que confirmou que ele tinha chegado terça-feira em casa todo machucado e com a moto quebrada. Por esse motivo, Osil teria pego o veículo emprestado com o amigo na quarta.

— Eu não posso acusar ela (ex-namorada do tio), mas o áudio do meu tio antes de morrer diz isso. Quando a procurei para saber o que tinha acontecido, ela disse que meu tio tinha ido na casa dela e revirado tudo. Só que o que chama a atenção é que quando confirmaram a morte do Osil ela em nenhum momento procurou nem eu nem meu tio Cláudio. Ficou em silêncio — conta.

De acordo com Natacha, a ex-namorada do tio foi psicóloga dele por cerca de cinco meses. Osil a conheceu quando foi aconselhado pela família, que mora majoritariamente em Pernambuco, a procurar ajuda psicológica para lidar com um quadro de depressão. Após poucos meses realizando consultas com a mulher, ela teria dito, segundo a sobrinha da vítima, que se apaixonou pelo empresário e, por isso, teria que romper com o tratamento. Então, eles engataram um relacionamento.

— Ele ficou deslumbrado quando ela disse que estava apaixonada e sendo psicóloga, ela sabia todas as vulnerabilidades dele. Mesmo de longe, a gente se falava todos os dias e eu via que ela dominava a vida dele e não era de forma boa. Eu dizia para ele se afastar dela, e por diversas vezes eles romperam, mas voltavam. No começo ele demonstrava que estava feliz, mas depois ela começou a se tornar possessiva e se mostrar de verdade na relação — conta Natacha, que, apesar de sobrinha, mantinha uma relação de irmã com Osil devido à pouca diferença de idade.

Ainda segundo Natacha, Osil e a ex-namorada chegaram a morar juntos. Ela auxiliava nos cuidados com o filho dele, de 10 anos, que é autista. No entanto, a relação era marcada por chantagens, ciúme e brigas.

O EXTRA tentou contato com a ex-namorada de Osil, mas não obteve resposta.

Entenda o caso

A versão inicial da polícia é de que Osil Vicente Guedes foi acusado injustamente de ter roubado uma motocicleta, em Guarujá. Ele foi cercado por pessoas na rua do bairro Vicente de Carvalho e gravemente espancado, na última quarta (3). Desde então ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santo Amaro, na cidade do litoral paulista, mas teve a morte encefálica confirmada neste domingo (7).

Segundo a Polícia Militar, Guedes foi espancado com pedras e pedaço de madeira. A confusão aconteceu porque transeuntes acreditaram em uma fake news de que ele teria roubado uma motocicleta. No entanto, após as agressões, o dono da moto informou à polícia que havia emprestado o veículo para Guedes, desmentindo a acusação de roubo.

Vídeos que circularam nas redes sociais mostram que Guedes foi cercado por pelo menos outros quatro homens. Mesmo caído, ele continuou sendo espancado com pedaços de madeira e arrastado pela camisa.

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