Pedidos de recuperação judicial crescem 52%, maior patamar em 3 anos, diz Serasa

O número de empresas que recorre a pedidos de recuperação judicial para renegociar suas dívidas com credores atingiu o maior patamar dos últimos três anos ao longo dos primeiros seis meses deste ano. De acordo com pesquisa feita pela Serasa Experian, o total de pedidos chegou a 593 entre janeiro e junho, uma alta de 52% em relação aos 390 requerimentos registrados no mesmo período de 2022.

Desde janeiro deste ano, diversas empresas entraram com pedido de recuperação judicial como Americanas, Oi, Light e Grupo Petrópolis. Juntas, somente essa quatro companhia somam dívidas superiores a R$ 100 bilhões. De acordo com Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, o avanço é fruto da alta da inadimplência das empresas, que alcançou 6,48 milhões companhias somente em maio.

Houve avanço nos pedidos em diversos setores. Empresas que atuam no segmento de serviços tiveram a maior parcela dos requerimentos, com 261 no total, seguido de comércio (168), indústria (112) e setor primário (52). Quando se observa o porte das companhias, as micro e pequenas empresas lideraram o ranking semestral, com 63 renegociações, seguidas por médias empresas (26) e grandes companhias (3).

Para especialistas, um dos motivos para o cenário é alto patamar de juros básicos da economia, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Ontem, a Serasa informou também que o custo do crédito afeta os consumidores. A busca por recursos financeiros nos primeiros seis meses deste ano atingiu a maior queda desde 2008.

Rabi destaca ainda o aumento no número de pedidos de falências. Entre janeiro e junho, foram registrados 546 pedidos, alta de 36,2% na comparação com o mesmo período de 2022. Foi o maior patamar desde 2019, quando o total chegou a 678 requerimentos. A maioria dos requerimentos de falências veio também de micro e pequenas empresas (303), seguido de médias empresas (129) e grandes coompanhias (114). Os setores se dividiram entre serviços (220), indústria (172), comércio (150) e setor primário (4).

-Há uma combinação de inflação alta com juros elevados. O remédio amargo para combater a inflação com juros é o aumento da inadimplência. E o elo mais fraco dessa cadeia são as pequenas e médias empresas. O setor de serviços foi o que teve maior impacto por conta ainda dos reflexos da pandemia. E em serviços não se consegue buscar outros mercados como o externo e por isso depende da renda do consumidor e do nível de emprego -diz Rabi.

Segundo ele, haverá aumento nos número de pedidos de recuperação judicial nos próximos meses:

– O aumento de recuperação judicial é reflexo do aumento da inadimplência nas empresas, que começou a crescer no final de 2021 de forma ininterrupta por 18 meses. E esse cenário de proteção judicial deve continuar crescer até o fim do ano, pois reflete esse cenário, apesar de a inadimplência jurídica estar entrando numa curva de estabilização.

Segundo Henrique Biscolla, sócio diretor da A&M, também prevê aumentos nos índices de pedidos de recuperação judicial. Para ele, o cenário de aumento de preços das commodities, por conta da guerra na Ucrânia, agravou a situação em um cenário ainda frágil e de recuperação por conta da pandemia nos últimos anos.

– Ainda há um terreno fértil para a reestruturação de dívidas. A relação entre dívida e geração de caixa ainda é desafiador. Essa onda ainda continua pelos próximos meses. A receita das empresas não conseguiu acompanhar o aumento de custos e inflação. E houve, assim, uma necessidade maior de recorrer à recuperação judicial. Esse cenário é reflexo de uma tentativa frutrada de negociação com os bancos.

Gustavo Kloh, professor da FGV Direito Rio, destaca o alto patamar elevado dos juros no Brasil do ponto de vista macroeconômico. Além disso, o alto elevado nível de endividamento do consumidor também aparece como motivo.

-Os juros altos vêm criando essa crise no varejo,q ue também pe catsigado pela inflação. Isso afeta as empresas, que compram com crédito. Além disso, os meios jurídicos da recuperação judicial estão ficando mais conhecidos. E está sendo mais facil pedir recuperçaão judicial. Esse movimento veio para ficar, até porque em outros países esse recurso é muito popular – diz Kloh.

Rodrigo Gallegos, sócio da consultoria RGF & Associados, diz que o avanço dos pedidos de recuperação judicial no período já era esperado. Segundo ele, a crise da Americanas contribuiu para esse cenário, com bancos restringindo o crédito, além das incertezas de mudança de governo e os juros elevados.

– Isso tudo fez com que investidores e instituições financeiras fechassem a torneira do crédito. Isso afetou diretamente as empresas, já que os juros maiores começaram a afetar o caixa das empresas, que não conseguiram renegociar, afetando o seu fluxo de caixa. Assim, quem demorou para se reestruturar, acabou ficando sem fôlego financeiro.

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