Moradores de 9% dos domicílios em comunidades do Rio não responderam ao Censo 2022

O Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) tenta reduzir o percentual de domicílios em comunidades do Rio de Janeiro que não respondeu aos agentes do Censo 2022, que chega a 9%. Para isso, uma parceria foi fechada com o Instituto Pereira Passos (IPP), órgão de pesquisa municipal, para reduzir estes números.

De acordo com os dados da prévia do Censo, a cidade do Rio tem três comunidades entre as que possuem maior número de domicílios no país: Rocinha, Rio das Pedras e Jacarezinho. Juntas, as comunidades contam com 70.664 domicílios. Os números, como são preliminares, podem passar por revisão.

Com relação ao número de moradores, as três comunidades também aparecem nos dados prévios do Censo 2022. As três contam, juntas, com 152.263 moradores.

O trabalho de convencimento dos moradores das favelas do Rio passa pela conscientização de que os dados do Censo são importantes para o país e para o fornecimento de dados consistentes para os gestores públicos, destaca Cimar Azeredo, presidente do IBGE.

“Para implementar programas habitacionais, programas de transferência de renda, é fundamental ter o resultado do Censo. O que caracteriza uma favela? É a precariedade da posse. E isso se resolve com programas habitacionais efetivos, baseados em evidências, e não baseados em pesquisas de pouca expressão. O Censo é fundamental para isso”, afirmou Azeredo.

A parceria envolve a contratação de ex-agentes de Territórios Sociais, programa da Prefeitura do Rio com o ONU-Habitat, em que são realizadas pesquisas domiciliares em grandes favelas da cidade. Ao longo da semana, os novos recenseadores passaram por um treinamento na sede do IPP, em Laranjeiras, na Zona Sul do município.

A ideia é contar com profissionais que já estão familiarizados com os territórios onde atuam, pois são residentes da região, em muitos casos.

Os novos pesquisadores vão atuar na última etapa da operação censitária, a Etapa de Apuração. Esta fase consiste na análise dos dados coletados e na busca pelos moradores que estavam ausentes nas visitas anteriores ou que se recusaram a responder o questionário.

“Quantas pessoas são, o que a favela precisa, quais são as condições de moradia. Por isso é fundamental o Censo para o país”, destacou o presidente do IBGE sobre a importância da pesquisa.

A divulgação dos primeiros resultados do Censo está prevista para o final de abril.

Segundo os dados preliminares, o Sol Nascente, no Distrito Federal, ultrapassou a Rocinha e se tornou a maior favela do Brasil em números de domicílios.

A pesquisa mostra que, atualmente, o Sol Nascente tem 32.081 domicílios, enquanto a Rocinha tem 30.955. Em comparação com 2010, a favela da capital cresceu 31%, enquanto a região do Rio de Janeiro aumentou 20%.

Cimar destaca que os dados são preliminares. E que as informações definitivas só estarão disponíveis quando o trabalho foi finalizado.

A Rocinha passou a ser um bairro em 1993. O nome vem da agricultura.

O espaço já pertenceu a portugueses que realizavam a agricultura no local. Os alimentos cultivados ali já foram uma das principais fontes de abastecimento da Zona Sul do Rio. Com a morte do proprietário, a antiga roça foi loteada e começou a ser ocupada.

De acordo com os dados preliminares do Censo, a Rocinha tem 67.199 moradores.

Rio das Pedras

A comunidade de Rio das Pedras começou a crescer no fim dos anos 60, entre o Parque Nacional da Tijuca e a Lagoa da Tijuca. A história da região é marcada pelo abandono do poder público.

Desde os anos 80, grupos de extermínio ofereciam uma suposta tranquilidade com base no medo. Após se consolidarem no espaço, os milicianos passaram a fornecer serviços e obras, extorquindo comerciantes e moradores. Com a falta de fiscalização, os prédios foram erguidos e o espaço passou a ser ocupado.

De acordo com a prévia do Censo 2022, a comunidade possui 27.573 domicílios e 54.793 moradores.

“Saneamento básico é o que mais precisa. Quando chove é muito ruim. A água enche muito. Eu passo ali e vejo a situação das pessoas. O comércio é muito bom. Tem de tudo”, disse um morador que não quis ser identificado.

As frequentes imagens das ruas alagadas, principalmente após temporais comprovam a reclamação.

Jacarezinho

O terreno onde atualmente se localiza o Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, já abrigou um quilombo urbano. A partir dos anos 1920, o local começa a se consolidar como uma comunidade.

O Jacarezinho cresceu em função de fábricas que se instalavam no entorno. O local não era distante do Centro do Rio e nem das regiões vizinhas que também se industrializavam, atraindo mais moradores.

A região muitas vezes é lembrada pela operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, com 28 mortos, em maio de 2021.

De acordo com os dados da prévia dos dados do Censo, o Jacarezinho conta com 12.136 domicílios e 30.271 moradores.

A comunidade também é um dos locais do programa Cidade Integrada, ao lado da Muzema, lançado no dia 22 de janeiro do ano passado, com a promessa de R$ 500 milhões em investimentos nas áreas de segurança, educação, infraestrutura, emprego e saúde. Deste valor, R$ 333 milhões já foram gastos até o começo deste ano.

Maiores favelas do país por números de domicílios, segundo o IBGE

  1. Sol Nascente, Brasília: 32.081
  2. Rocinha, Rio de Janeiro: 30.955
  3. Rio das Pedras, Rio de Janeiro: 27.573
  4. Beiru, Tancredo Neves: Salvador: 20.210
  5. Heliópolis, São Paulo: 20.016
  6. Paraisópolis, São Paulo: 18.912
  7. Pernambués, Salvador: 18.662
  8. Coroadinho, São Luís: 18.331
  9. Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, Manaus: 17.721
  10. Comunidade São Lucas, Manaus: 17.666
  11. Baixada da Estrada Nova Jurunas, Belém: 15.601
  12. Alto Santa Teresina – Morro de Hemeterio – Skylab-Alto Zé Bon, Recife: 13.040
  13. Assentamento Sideral, Belém: 12.177
  14. Jacarezinho, Rio de Janeiro: 12.136
  15. Valéria, Salvador: 12.072
  16. Baixadas da Condor, Belém: 11.462
  17. Bacia do Una-Pereira, Belém: 11.453
  18. Zumbi dos Palmares/Nova Luz, Manaus: 11.326
  19. Santa Etelvina, Manaus: 10.460
  20. Cidade Olímpica, São Luís: 10.378

Maiores favelas do país em número de moradores, segundo o IBGE:

  1. Sol Nascente, Brasília: 87.184
  2. Rocinha, Rio de Janeiro: 67.199
  3. Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, Manaus: 55.361
  4. Rio das Pedras, Rio de Janeiro: 54.793
  5. Comunidade São Lucas, Manaus: 52.819
  6. Coroadinho, São Luís: 52.069
  7. Heliópolis, São Paulo: 51.068
  8. Paraisópolis, São Paulo: 48.913
  9. Baixada da Estrada Nova Jurunas, Belém: 42.940
  10. Beiru, Tancredo Neves: Salvador: 39.135
  11. Pernambués, Salvador: 34.815
  12. Zumbi dos Palmares/Nova Luz, Manaus: 34.580
  13. Santa Etelvina, Manaus: 32.777
  14. Alto Santa Teresina – Morro de Hemeterio – Skylab-Alto Zé Bon, Recife: 32.539
  15. Assentamento Sideral, Belém: 32.103
  16. Baixadas da Condor, Belém: 31.156
  17. Jacarezinho, Rio de Janeiro: 30.271
  18. Colônia Nova Terra, Manaus: 30.196
  19. Bacia do Una-Pereira, Belém: 29.342
  20. Cidade Olímpica, São Luís: 27.552

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