Maré têm aulas suspensas pelo 4º dia consecutivo por conta de operação; são 26 dias este ano com pelo menos uma escola parada

Cerca de 900 alunos ficaram sem aulas na manhã desta quinta-feira (22) no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, em função de mais uma etapa da operação conjunta da Polícia Civil e da Prefeitura do Rio para demolir um condomínio erguido por criminosos na comunidade.

Para garantir a segurança de alunos e funcionários, as aulas de duas escolas estaduais foram interrompidas. Esse é o quarto dia consecutivo que a ação provoca a suspensão das aulas.

Só este ano já são 26 dias esse ano com pelo menos uma escola sem aula na Maré, mais dias que em todo o ano passado.

Keila Cristina de Almeida, dona de casa, conta que o filho mais velho tem 15 anos e que ele nunca ficou tantos dias consecutivos sem ir à escola.

“É difícil porque ele já está atrasado e aula remota é difícil. Reclama muito, quer estudar, quer ir para a escola. Ele é uma criança que não gosta de faltar, ele gosta de ir para a escola todo o dia”, afirma Keila.

Desde que a operação começou, pelo menos 26 das 49 escolas do Complexo da Maré não funcionaram. Além disso, das 15 comunidades que compõem o complexo, as mais afetadas são Parque União, Nova Holanda e Parque Rubens Vaz.

Comunidades mais afetadas na Maré em decorrência de operação contra imóveis ilegais na região — Foto: Reprodução

RJ1 entrevistou uma pessoa que reside na Maré e que afirma estar insatisfeita com a falta das aulas.

“Por que não derrubaram durante as férias? Por que não derrubaram nos finais de semana? E só vem fazer demolição nos dias letivos que as nossas crianças tem para estudar? Isso é um descaso e um abuso com toda a comunidade escolar — pais, alunos, professores e diretores”, reclama.

Alessandra Pinheiro, coordenadora do Redes da Maré, diz que a recorrência dos dias sem aula afeta no aprendizado e habilidades efetivos dos estudantes.

“A gente está falando de um impacto no processo de aprendizagem, no processo de desenvolvimento de suas habilidades, na garantia de seus direitos”, afirma Alessandra.

A Redes da Maré monitora o impacto das aulas nos dias de operações há oito anos. Segundo dados da organização, de 2016 a 2023 os estudantes ficaram 146 dias sem aulas — o equivalente a 75% de um ano letivo completo.

“É urgente que a gente olhe para essa questão e coloque em um debate central os impactos da violência armada no contexto da educação”, diz Alessandra Pinheiro.

A operação contra a lavagem de dinheiro do tráfico começou na terça-feira (13). De acordo com a Polícia Militar, não há registro de tiroteio entre traficantes e policiais.

Escolas fechadas

De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), duas escolas precisaram ser fechadas nesta manhã, deixando cerca de 900 estudantes sem aulas no turno da manhã.

Já a Secretaria Municipal de Educação (SME) disse 15 escolas que funcionam na comunidade estão abertas e as demais estão avaliando as condições de atendimento, e o horário de entrada dos alunos pode atrasar.

Operação objetiva demolir imóveis ilegais

As investigações apontam que a comunidade do Parque União vem sendo utilizada há anos, através da construção e abertura de empreendimentos, para lavar dinheiro com o comércio de drogas. Os policiais apuram ainda a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade no esquema.

A corporação afirma ainda que as ações no local revelaram uma estratégia da facção criminosa de colocar ao menos uma pessoa em cada unidade habitacional para fingir que são moradores e dificultar as demolições.

Como saldo da ação, a primeira fase da operação que registrou cerca de 90% dos prédios estavam vazios. E nos três primeiros dias desta semana, 24 prédios foram descaracterizados, somando 133 unidades.

De acordo com a Secretaria de Ordem Pública (Seop), não há data prevista para o término da operação. Até o momento já foram 31 prédios demolidos com cerca de 147 apartamentose. Entre as unidades, dez eram comerciais e as outras 137 eram residenciais.

Moradores reclamam que estão sendo vítimas de abuso de poder e que não estão recebendo ajuda da prefeitura. Segundo eles, estão sendo retirados dos apartamentos, não sem auxílio e garantia de uma outra residência.

Um morador que não quer divulgar a identidade denuncia que o apartamento em que mora foi vandalizado por policiais que trabalham na operação. De acordo com ele, os agentes mexeram em objetos pessoais e espalharam pelo imóvel.

“Deixaram a porta aberta, deixaram a porta escancarada de canto a canto. Uma parada sem necessidade realmente. Os caras veem dois sacos de roupa e jogam no chão não sei nem para quê”, relata o morador.

A Polícia Militar informa que não compactua com o desvio de condutas e que o caso será apurado.

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