Mais de 700 mil pessoas foram deslocadas internamente em três semanas de combates no Sudão, diz ONU
Os combates violentos entre uma força paramilitar e o Exército do Sudão deixaram mais de 700 mil deslocados internos desde o início do conflito em meados de abril, o dobro do número registrado até semana passada, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Antes dos combates, 3,7 milhões de pessoas já estavam registradas como deslocados internos no Sudão, disse Paul Dillon, porta-voz da OIM.
— É mais do que o dobro do número registrado na terça-feira da semana passada, que era de 340 mil pessoas — declarou. — Muitos deslocados internos buscam refúgio nas casas de parentes, enquanto outros se reúnem em escolas, mesquitas e prédios públicos.
O Sudão enfrenta um cenário de caos desde 15 de abril, quando explodiram os confrontos entre o Exército oficial, comandado pelo general Abdel Fatah al-Burhan, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), do general rival Mohamed Hamdan Daglo.
Os combates provocaram quase 750 mortos e deixaram pelo menos 5 mil feridos, de acordo com a ONG Acled. Quase 150 mil pessoas fugiram para países vizinhos desde o início dos confrontos, de acordo com os números do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
O conflito provocou diversos alertas das agências da ONU sobre uma crise humanitária “catastrófica”. Segundo a Unicef, sete crianças foram mortas ou feridas a cada hora dos 11 primeiros dias de guerra — 190 foram mortas e 1.700 foram feridas.
Com 45 milhões de habitantes, o Sudão permaneceu sob sanções americanas por duas décadas, impostas à ditadura militar-islamita do general Omar al-Bashir. As sanções foram levantadas em 2020, após a queda do governo, derrubado pelo Exército e por manifestações populares um ano antes.
No entanto, com um novo golpe militar em 2021, os generais Burhan e Daglo expulsaram os civis com quem dividiam o poder desde a queda do ditador al-Bashir. No entanto, nos últimos meses, as rusgas entre eles tornaram-se públicas e ambos começaram a destacar silenciosamente tropas e equipamentos para bases militares em Cartum e ao redor do país.
As negociações na Arábia Saudita para tentar obter um cessar-fogo estão paralisadas.
— Não há nenhum avanço importante — declarou à AFP na segunda-feira uma fonte diplomática saudita que pediu anonimato.
Terceiro maior país de África em extensão territorial — mas um dos mais pobres do mundo —, o Sudão fica localizado em um estratégico ponto no Nordeste da África e se tornou um importante ator de disputa na disputa por influência na região entre a Rússia e as potências ocidentais.