Litoral de SP chega a 48 mortos nas chuvas e entra no 4º dia de busca por sobreviventes

O número de mortos chegou a 48 em decorrência das chuvas históricas que atingiram o litoral norte paulista no último final de semana (18 e 19), sendo 47 em São Sebastião e um em Ubatuba. O total foi atualizado na manhã desta quarta-feira (22), pela Defesa Civil. Ao todo, 19 vítimas já foram identificadas e e liberadas para sepultamento, segundo a Prefeitura de São Sebastião.

O total de pessoas fora de casa, desabrigadas ou desalojadas, chega a 2.500. Os desaparecidos somam 36, mas os números ainda devem aumentar, já que há relatos de que pessoas estariam sob os escombros de estruturas que cederam.

A atualização do número de mortos e desaparecidos foi feita pelo coronel Henguel Ricardo Pereira, da Defesa Civil em entrevista ao “Bom dia, SP”, da TV Globo.

Ele havia afirmado que o número de desaparecidos era de 57, mas em entrevista à Rádio CBN, corrigiu o total para 36.

Um velório coletivo organizado pela Prefeitura de São Sebastião está programado para começar ainda hoje, em uma tenda montada no centro histórico do município.

A rodovia Rio-Santos (SP-055) teve o tráfego liberado parcialmente pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem) em diversos pontos que antes estavam totalmente obstruídos, entre São Sebastião e Ubatuba.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em entrevista ao “Bom dia, SP”, da TV Globo, na terça (21) fez um apelo para que os turistas aproveitem as liberações e o tempo firme, e deixem as cidades do litoral norte.

“Quanto mais gente sair, melhor, porque alivia a pressão na região. Quem puder se deslocar até a capital e outros pontos, que o faça”, disse.

Na segunda-feira (20), a orientação do governador tinha sido diferente. Na ocasião, com muitos bloqueios ainda nas estradas, ele havia pedido que turistas não antecipassem a volta.

A Rio-Santos e a Tamoios são as vias disponíveis para a saída dos turistas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve nesta segunda com o governador em São Sebastião nesta segunda, acompanhados do prefeito Felipe Augusto (PSDB).

Lula pediu que não sejam mais construídas casas em encostas de morros, a fim de evitar novas tragédias, e ressaltou a importância da parceria entre os governos —federal, estadual e municipal—, independentemente de questões partidárias.

“Nós estamos juntos. Ele [Tarcísio] tem obrigação de governar o estado de São Paulo, este aqui [prefeito de São Sebastião] tem obrigação de governar a cidade, e eu tenho obrigação de governar o país. Se cada um ficar trabalhando sozinho, nossa capacidade de rendimento é muito menor. E é por isso que precisamos estar juntos, compartilhar as coisas boas e as coisas ruins. Juntos seremos muito mais fortes”, disse o presidente.

O presidente pediu que a Prefeitura de São Sebastião indique um terreno seguro para construir moradias e transferir os moradores que têm casas em área de risco.

As equipes de socorro, compostas por diversos órgãos, estão no quarto dia de buscas por sobreviventes e desaparecidos. No domingo, uma das resgatadas em São Sebastião foi uma mulher em trabalho de parto —ela e o bebê passam bem.

O trabalho de resgate é feito por uma força-tarefa com mais de 500 agentes, entre servidores das forças de segurança e equipes do governo estadual, das Forças Armadas, da Polícia Federal e da Prefeitura de São Sebastião, além de voluntários. Todos seguem empenhados para localização, resgate, salvamento e identificação das vítimas.

Os esforços no atendimento às vítimas começaram no domingo e seguem de forma ininterrupta, com o apoio de 53 viaturas do Corpo de Bombeiros, dois cães especializados na busca de pessoas, 31 maquinários, sete helicópteros Águia do Comando de Aviação da Polícia Militar e outras duas aeronaves do Exército.

Segundo o governo do estado, um hospital de campanha da Marinha vai começar a funcionar a partir de quinta-feira (23), após a chegada do Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico a São Sebastião. O objetivo é desafogar os hospitais da região, que estão priorizando casos mais graves.

“São até 300 leitos de enfermaria, contando ainda com profissionais de saúde de ortopedia, clínica médica, traumatologia e psiquiatra, aliviando a pressão e liberando a capacidade dos hospitais aqui da região”, disse o governador.

Outros 180 fuzileiros navais, especializados em resgate e desobstrução de vias, se juntam ao trabalho da Defesa Civil.

As operadoras de celular confirmaram no domingo, no final do dia, que os sistemas de telefonia e internet nas cidades do litoral norte sofrem com instabilidade porque as redes foram danificadas pelas chuvas, quedas de árvores e deslizamentos, o que prejudica o contato e dificulta ainda mais a situação.

Além da dificuldade de comunicação, a população enfrenta desabastecimento de água. Os técnicos da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), segundo o governo estadual, trabalham para o restabelecimento dos sistemas de abastecimento de água no litoral norte e Baixada Santista. Em São Sebastião e Ilhabela, 40 caminhões-tanque da companhia realizam o abastecimento emergencial até a regularização total dos sistemas.

Na manhã de terça, equipes de operação e de manutenção estavam em Boiçucanga para tentar o reparo do sistema de produção de água. Caminhões-tanque também estão a caminho. A produção de água em Maresias já foi retomada e mais de 8 mil imóveis já estão com o abastecimento em recuperação (Maresias e Barra do Una).

Em Caraguatatuba, e Ubatuba, os sistemas de abastecimento continuam em processo de recuperação. Ao todo, 104 técnicos da companhia estão empenhados nesse trabalho, com o apoio de caminhões de hidrojateamento e alto vácuo, seis retroescavadeiras e outros veículos.

A Defesa Civil estadual orientou a população a não se deslocar para o litoral norte até que a situação esteja controlada.

O recorde de chuva que atingiu o litoral norte de São Paulo desde sábado deixou também um rastro de destruição, com dezenas de casas que solaparam, muita lama e vias intransitáveis, o que atrapalha as ações de resgate. De acordo com a Defesa Civil do estado, além das mortes já confirmadas, o número de desalojados subiu para 1.730, e o de desabrigados, para 766.

Entre os mortos há uma criança de 7 anos, vítima de um deslizamento de terra em Ubatuba. Os outros mortos são de São Sebastião, a cidade mais afetada pelo temporal —a maioria na Barra do Sahy, além de Juquehy, Camburi, e Boiçucanga.

De acordo com o governo do estado, em menos de 24 horas o acumulado de chuva ultrapassou os 600 mm em alguns pontos do litoral. As áreas mais atingidas estão entre Bertioga (683 mm) e São Sebastião (627 mm). Tais índices pluviométricos são dos maiores já registrados no país em curto período e em situação não decorrente de ciclone tropical.

A Polícia Civil e a Superintendência da Polícia Técnico Científica reforçaram os efetivos na região para dar mais celeridade aos trabalhos de polícia Judiciária e de identificação das vítimas.

Uma equipe com 40 servidores entre peritos e auxiliares atuará no IML (Instituto Médico Legal) de Caraguatatuba. Outros 12 papiloscopistas do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt trabalharão em apoio aos profissionais no IML de Caraguatatuba e no Serviço de Verificação de Óbitos de Ubatuba.

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