Justiça começa a julgar caso dos órgãos infectados com HIV
A Justiça começa a julgar nesta segunda-feira (24) o caso dos órgãos para transplante infectados por HIV no laboratório PCS Labs Saleme. A 1ª audiência de instrução foi marcada para esta tarde, na 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu. Seis pessoas são rés no processo e respondem por associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica.
Primeiro a Justiça vai colher o depoimento de testemunhas do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e das defesas dos réus. Depois, os acusados vão ser interrogados. Ainda não há data para a conclusão do julgamento.
Os réus
- Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do laboratório
- Jacqueline Iris Barcellar de Assis, funcionária
- Walter Vieira, sócio
- Ivanilson Fernandes dos Santos, funcionário
- Cleber de Olveira Santos, funcionário
- Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora
Denúncia
O grupo foi denunciado pelo MPRJ em outubro, e a juíza Aline Abreu Pessanha tornou réus todos os 6.
“Os denunciados tinham plena ciência de que pacientes que recebem órgãos transplantados recebem imunossupressores para evitar a sua rejeição, e que a aquisição de qualquer doença em um organismo já fragilizado, principalmente HIV, seria devastadora”, citou o MPRJ.
Na denúncia, o MPRJ cita que, além de uma série de exames com resultados falsos, as filiais do PCS “não possuíam sequer alvará e licença sanitária para funcionamento”.
O relatório de inspeção da Vigilância Sanitária constatou 39 irregularidades, entre elas a presença de sujeira, de insetos mortos e formigas em todas as bancadas do laboratório.
Transplante em janeiro
A situação foi descoberta no último dia 10 de setembro, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo; ele não tinha o vírus antes.
Esse paciente recebeu um coração no fim de janeiro. A partir daí, as autoridades refizeram todo o processo e chegaram a 2 exames feitos pelo PCS Lab Saleme.
A primeira coleta foi feita no dia 23 de janeiro deste ano — foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea, e todos, segundo o laboratório, deram não reagentes para HIV.
Sempre que um órgão é doado, uma amostra é guardada. A SES-RJ, então, fez uma contraprova do material e identificou o HIV. Em paralelo, a pasta rastreou os demais receptores e confirmou que as pessoas que receberam 1 rim cada também deram positivo para o HIV.
A que recebeu a córnea, que não é tão vascularizada, deu negativo. A que recebeu o fígado morreu pouco depois do transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV.
No dia 3 de outubro, mais um transplantado também apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Essa pessoa também não tinha o vírus antes da cirurgia. Cruzando os dados, chegaram a outro exame errado, o de uma doadora no dia 25 de maio deste ano.