Estudantes da Faetec conquistam prêmio nos EUA com dispositivo que auxilia na síndrome do pé caído

Duas estudantes da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) do RJ foram destaque na Feira Internacional de Ciências e Engenharia (ISEF), realizada mês passado em Dallas, nos Estados Unidos.

Eloah Marvila Padrone, de 18 anos, e Rebeca Apolinário Goulart, de 17 anos, ganharam um prêmio na categoria Engenharia Biomédica com um dispositivo eletrônico que auxilia na correção da síndrome do pé caído.

A ISEF é considerada o maior evento mundial de ciência e engenharia e seleciona projetos em diferentes áreas.

O projeto que levaria a dupla para fora do Brasil foi desenvolvido em um laboratório da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, unidade mantida pela Faetec no Barreto, em NiteróiAltair dos Santos, professor e orientador do projeto, conta que o protótipo foi ideia da dupla, pensando em ajudar um parente que poderia não andar mais.

“A gente desenvolveu um dispositivo que possui sensores que ficam acoplados no pé. Quando detectam o pé caído, mandam uma mensagem por um microcontrolador para que o motor rotacione, realizando o movimento de marcha”, explica Rebeca.

Eloah e Rebeca vencem feira internacional de ciência e engenharia nos Estados Unidos — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Eloah e Rebeca vencem feira internacional de ciência e engenharia nos Estados Unidos — Foto: Divulgação/Felipe Correa

De acordo com Altair, a síndrome afeta a dorsiflexão do paciente, impossibilitando o movimento de levantar o pé, o que faz com que o indivíduo só ande se arrastando. A função do equipamento é ajudar na articulação do tornozelo.

No ISEF, Eloah e Rebeca ganharam uma bolsa de estudos integral na Universidade King Fahd de Petróleo e Minerais, da Arábia Saudita, e um prêmio de 400 dólares, concedidos pela Fundação King Abdulaziz e Companheiros, por superdotação e criatividade.

Eloah relembra que a dupla foi à feira sem muitas pretensões, buscando realizar ótimas apresentações e aproveitar todos os momentos. Elas só não esperavam subir no degrau mais alto do pódio.

“Ganhar esse prêmio me trouxe um sentimento de dever cumprido, de que todo nosso trabalho duro valeu a pena. Na minha vida, esse prêmio vai ser sempre um lembrete de que se eu der o meu máximo e me esforçar muito, eu vou conseguir conquistar coisas incríveis”, conta Eloah.

Rebeca relembra que a dupla precisava passar tardes e noites no laboratório da escola para progredir no projeto.

“Foi um ano inteiro de trabalho. Praticamente ninguém acreditava porque ele [o projeto] era o mais incerto”, explica.

“A gente estava indo mais pela experiência. Quando chamaram “Niterói, Brasil” a gente nem estava prestando atenção direito na premiação e a gente quase surtou na hora. Foi uma sensação incrível ver o nome da sua cidade ser chamado lá em cima. Melhor do que o prêmio em si foi ter escutado isso”, celebra Rebeca.

“É muito importante que seja um grupo de meninas para acabar com esse tabu de que engenharia é coisa de menino”, reforça Altair.

Dispositivo eletrônico construído por estudantes da Faetec que auxilia na síndrome do pé caído — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Dispositivo eletrônico construído por estudantes da Faetec que auxilia na síndrome do pé caído — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Durante a estruturação inicial do projeto, Adriane Mara de Souza, doutora, pesquisadora na UFRJ e engenheira biomédica, convidou a dupla para assistir a uma apresentação sobre os diversos tipos de marcha. Foi a partir disso que Eloah e Rebeca viram as pesquisas feitas na UFRJ e vários tipos de deficiência, dentre elas estava a síndrome do pé caído, escolhida para que buscassem uma solução eficiente.

“Isso acaba contagiando toda a escola, principalmente o curso de eletrônica. Elas abriram um portal dentro da escola, e os alunos começaram a enxergar que eles também têm possibilidades”, afirma Altair.

Na ciência e engenharia, a vitória é feminina

O protagonismo da dupla se estendeu para Dallas, no Texas, após terem conquistado cinco prêmios na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) em 2022, em Novo Hamburgo (RS).

Na Mostratec, as meninas conquistaram:

  • Prêmio de votação popular na área de Engenharia Eletrônica;
  • Prêmio ABRIC em Incentivo à Ciência;
  • Ganharam primeiro lugar em Engenharia Eletrônica;
  • Ganharam o prêmio da ISEF para representar o Brasil em Dallas, nos EUA.

Na Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação (FECTI), elas venceram o prêmio “Meninas na Ciência”.

Na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), ganharam o prêmio da Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto Açaí (MCTIA), evento que acontece em outubro, em Belém.

“É muito grandioso falar que nas quatro feiras elas ganharam prêmio: a estadual, a nacional, a internacional e a mundial”, diz Altair.

Para ele, a bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) ajudou bastante no momento que Eloah e Rebeca tiveram que comprar os componentes do protótipo, e afirma que quanto mais estrutura se tem, mais próximo se está de fazer um projeto ambicioso.

“Se tivesse toda uma estrutura, seria mais fácil, mas isso não impede de fazer um ótimo trabalho. Os alunos aprendem que tem que ter muita criatividade e esforço para poder realizar um projeto dentro dessa estrutura que a gente tem”, reforça.

Altair, Eloah e Rebeca atuando no projeto no laboratório da Faetec — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Altair, Eloah e Rebeca atuando no projeto no laboratório da Faetec — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Do Brasil para o mundo

Foi a primeira vez que as meninas da ciência e engenharia pisaram em solo internacional. Elas celebram a magia que foi conhecer uma nova língua e permear a vivência de um outro país.

“A melhor coisa que aconteceu comigo foi viajar para os Estados Unidos porque desde muito pequenininha sempre sonhei em viajar para exterior. A sensação foi de que não era verdade, sabe? Quando eu pisei lá, eu simplesmente não acreditei, foram muitos anos sonhando”, conta Rebeca.

“Foi minha primeira vez fora do Brasil, então foi uma experiência fantástica. Poder ver de perto como funciona a vida em um outro país, conviver com uma língua diferente nesse tempo e visitar lugares incríveis… não tenho nem palavras”, relembra Eloah.

O retorno ao Brasil foi marcado por festa e reencontro de corações recheados de saudade. Mas na cidade que realizavam um sonho, faltava uma coisa.

“Lá gente procurou pra caramba e não tinha nem um feijão”, brinca Rebeca. “Às vezes, eu sinto que o pensamento está lá ainda. A cidade de Dallas existe e está lá. A gente amou muito aquela cidade, cada pedacinho. Foi uma semana, mas a gente conseguiu conhecer muitas partes”, relembra animada.

Dispositivo eletrônico construído por estudantes da Faetec que auxilia na síndrome do pé caído — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Dispositivo eletrônico construído por estudantes da Faetec que auxilia na síndrome do pé caído — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Viagem, prêmios, bolsa de estudos… e agora?

A dupla conta que não era esperado ganhar uma bolsa de estudos na Arábia Saudita. Rebeca confessou que não tinha ideia de que podiam ganhar um prêmio dessa dimensão. Eloah afirma que a notícia chegou como uma conquista inexplicável.

“No momento, a gente está estudando um pouco mais para saber como é a vida lá, como a gente estudaria, como seriam as aulas, para podermos decidir se realmente vamos. Ou, se foi um prêmio maravilhoso, mas que vamos optar por outra escolha”, explica Eloah.

Neste ano, as meninas pretendem se dedicar aos estudos para ingressar em uma faculdade, seja no Brasil ou no exterior. Mas não pretendem largar o projeto de lado.

“Queremos patentear o projeto para aprimorar ele ainda mais e poder industrializar”, diz Eloah.

“A gente pensa em aprimorar e, quem sabe, desenvolver não só esse dispositivo da síndrome do pé caído, mas outros relacionados a membros inferiores”, finaliza Rebeca.

Eloah e Rebeca com o dispositivo eletrônico — Foto: Divulgação/Felipe Correa

Eloah e Rebeca com o dispositivo eletrônico — Foto: Divulgação/Felipe Correa

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