Entrevista: ‘Vamos nos concentrar na alta complexidade’, diz Doutor Luizinho, novo secretário estadual de Saúde do Rio
De volta ao comando da Secretaria estadual de Saúde (SES), da qual também esteve à frente entre 2016 e 2018, o deputado federal Doutor Luizinho (PP) afirma que a ampliação e a melhoria dos atendimentos de alta complexidade, como cardiologia e oncologia, serão prioridades nos próximos anos. Ele afirma que o Rio não pode se manter tão dependente dos hospitais e institutos federais, hoje com centenas de leitos fechados, para que a população tenha acesso a esses serviços. O médico promete ainda ações para inibir a corrupção na pasta, foco de escândalos em governos passados. E diz que, com o controle da pandemia de Covid-19 e sem as crises financeiras dos últimos anos, a hora é de organizar e planejar o futuro da rede de saúde fluminense. Espalhar pelo estado tratamentos como o de quimioterapia e criar um Rio Imagem na Zona Oeste da capital estão no horizonte.
Qual a prioridade do senhor em seu retorno à secretaria na nova gestão Cláudio Castro?
Há anos que a atenção especializada e a alta complexidade não avançam no país. Neste momento, vamos nos concentrar na alta complexidade, que claramente é uma atribuição do estado. Sem descuidar dos outros assuntos, vamos focar na cardiologia, na oncologia, na ortopedia de alta complexidade e na neurologia de alta complexidade. Com isso, talvez a gente reduza 90% das filas (por atendimento) no que nos compete.
Na oncologia, além de inaugurar o hospital de Nova Friburgo este ano, a ideia é ampliar a rede ou usar as unidades já existentes?
Precisamos ampliar. O maior problema está na Região Metropolitana I (capital e Baixada), onde estão dez milhões de pessoas que, teoricamente, seriam atendidas pelo Inca. Mas o Inca, assim como toda a rede federal, tem um problema crônico. Além disso, hoje o Ministério da Saúde tem uma política nacional baseada nos complexos de tratamento oncológico: a pessoa tem que fazer a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia no mesmo lugar. Queremos que o paciente tenha o hospital se precisar da cirurgia. Mas levaremos a rede de diagnóstico, quimioterapia e radioterapia para perto das pessoas. Eu não posso fazê-las se deslocar três horas para chegar ao Centro do Rio para uma quimioterapia. Temos que levar isso para a ponta, como a rede privada já está fazendo.
Na neurologia, a ampliação do Instituto Estadual do Cérebro fica pronta no começo deste ano, como disse o governador?
A obra estará pronta. E ainda no primeiro semestre vamos colocar a unidade toda funcionando, mais que dobrando a capacidade cirúrgica do hospital. Quero sair com o estado com uma estrutura de alta complexidade organizada. Se pudermos contar com a rede federal, vamos trabalhar em conjunto. Mas o Estado do Rio não pode depender das unidades federais, que estão a cada dia sendo sucateadas pela falta de recursos humanos e de especialização desses hospitais.
Sabe-se de sua interlocução com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Como vai tratar da rede federal com ela?
Trabalhamos a pandemia inteira. Levei o general (Eduardo) Pazuello (ex-ministro da Saúde) pela primeira vez à Fiocruz (então presidida por Nísia), para entender a importância da fundação e fazer o acordo de cooperação da (vacina) AstraZeneca. Já marquei um encontro com a Nísia (provavelmente esta semana) e vou dar a ela a opinião que dei a todos os ministros para uma solução. É tornar os institutos (Into, Inca e de Cardiologia) um serviço social autônomo, como a Rede Sara, ou uma fundação, para dar a eles autonomia de contratação de pessoal. E devemos discutir o perfil dos hospitais, debater com o município do Rio e com a Secretaria estadual como especializamos essas unidades. Mas também há áreas como Jacarepaguá, que tem um vazio assistencial e que não pode prescindir da emergência do (Hospital Federal) Cardoso Fontes. De repente, ali, é preciso fazer uma parceria estado e prefeitura para mantê-lo como um hospital de emergência.
Na capital, a vacinação para a Covid foi interrompida devido a atrasos do ministério. Qual a situação do estado?
Estamos com um problema de estoque. Já reforçamos o pedido para a entrega de mais doses para reposição imediata de todas as vacinas. É necessário estabelecer um calendário de vacinação para a Covid, e o ministério precisa ser claro com isso. Ou vamos ser vacinados de seis em seis meses ou uma vez por ano. Deve haver esta política nacional, que vamos seguir, para voltarmos a fazer Dias D de vacinação, abrindo os postos aos sábados, em datas específicas.
De volta ao que depende do estado, como ficam os hospitais gerais e as 20 UPAs geridas pela SES?
Não posso abrir mão de um Getúlio Vargas (na Penha), que atende uma região muito grande da cidade do Rio. Mas não posso pensar em avançar em hospitais gerais. Precisamos avançar nos hospitais especializados. Na urgência e emergência, quero melhorar a qualificação das UPAs. Um projeto é colocar um tomógrafo em cada UPA. Deve-se resolver mais nessas unidades. Hoje, um paciente fica três dias numa UPA com uma infecção urinária porque não fez uma tomografia. Mudar isso diminui nossas filas na regulação. É prioritário. Teremos ainda o Rio Imagem Baixada (previsto para ser inaugurado este ano), que vai rodar 24 horas com diagnósticos na hora. E queremos ainda fazer o Rio Imagem Zona Oeste.
O senhor vai retomar o projeto do Rio Imagem em Niterói?
Niterói é a cidade que tem a maior cobertura de saúde suplementar (com planos de saúde) do Rio, com quase 55% (de cobertura). O gestor precisa olhar quem precisa. Vou fazer um Rio Imagem na Zona Oeste, que tem um milhão de pessoas e 5% de saúde suplementar, ou em Niterói? Hoje, nós fazemos a urgência e emergência de Niterói, com todo respeito ao município. Já temos no (Hospital Estadual) Azevedo Lima um tomógrafo. Minha ideia é fortalecer o Azevedo Lima. Talvez tornar ali um minicentro de imagem. Foi o que fiz no (Hospital Estadual) Alberto Torres (em São Gonçalo), quando fui secretário. Já em São Gonçalo, numa parceria com a prefeitura, estamos fazendo um grande centro de imagem, o Vila Três.
E as obras paradas há quase uma década do Hospital da Mãe de São Gonçalo?
É uma prioridade, mas para fazer junto com o município.
Sobre a Alerj ter revogado a Lei das OSs, dando ao estado até 2024 para substituí-las em suas unidades. Qual a solução?
É a entrada da Fundação Saúde, que hoje administra todas as UPAs estaduais, o Hospital da Mãe, o Hospital da Mulher e o Rio Imagem Baixada. Com o término de contratos das OSs, vamos tentar entrar com a fundação. Confesso que preciso entender a capacidade de a fundação assumir todas as unidades de saúde no prazo da lei. E, se for o caso, avaliar propor um adiamento de prazo ou (uma transição) escalonada.
As OSs foram focos de escândalos nos últimos governos. Como combater a corrupção na SES?
Na última vez que fui secretário, instalei a Controladoria de OSs e criei mecanismos como os que impediam que as OSs prestassem serviços acima do preço que a SES contratava. Desde minha administração vêm diminuindo os contratos (com essas organizações). Agora, queremos fiscalizar as OSs mês a mês, e não dois anos depois, como se fazia no passado. Precisa fiscalizar em tempo real. É uma obsessão minha.
Que diferenças o senhor encontra agora em relação à sua gestão anterior na SES?
Naquela época era a maior crise do Rio na saúde, com todas as unidades fechadas. Desta vez, a gente tem tempo para planejar um futuro, organizar 20, 30 anos. E, se faço a alta complexidade, já apoio muito a Atenção Básica dos municípios. Se (o estado) mantiver a capacidade financeira e orçamentária, acredito que há muito a se construir.
A SES está de mudança para a Rua Barão de Itapagipe, no Rio Comprido. Como funcionará a nova sede?
Todos os serviços funcionarão aqui. A Fundação Saúde, nossa central de regulação, o Samu, a central do programa estadual de transplante… E um projeto principal é fazermos um Centro de Inteligência de Saúde, trabalhando com saúde digital. Ele vai nos ajudar a reduzir as filas e dará à população acesso à SES através de teleorientação, teleconsulta e telerregulação.
O senhor, que é de Nova Iguaçu, é apontado como possível candidato de Castro à Prefeitura do Rio em 2024. Como vê isso?
Vou me dedicar integralmente à SES. Não vou pensar em fazer qualquer movimento político. Nossa relação com a Secretaria municipal do Rio e com a prefeitura não pode ser contaminada por política. Há 23 anos moro na cidade do Rio. Assim como eu conheço o estado inteiro. Essa é uma vantagem competitiva para ser secretário estadual de Saúde. É uma secretaria muito complexa, quase um governo. Se distrair um minutinho, a gente tem problema.
Fonte: Extra