Concessionária de saneamento diz que vai lançar projeto-piloto para identificar ligações clandestinas na Zona Oeste

Milhares de peixes apareceram mortos nesta sexta-feira no Canal de Marapendi, na Barra da Tijuca. Especialistas avaliam que uma combinação de fatores explica o fenômeno: as águas extremamente contaminadas da região, que sofrem com a poluição gerada pela falta de saneamento e ligações clandestinas, teriam piorado ainda mais com as chuvas dos últimos dias, que carregaram mais detritos para o leito, comprometendo a oferta de oxigênio diluído na água.

A solução do problema, que não é novo, passa pela recuperação das lagoas da Barra. Diretor operacional da Iguá no Rio — responsável por ampliar a oferta de água e esgotos da Barra, Recreio e Jacarepaguá desde fevereiro de 2022 —, Lucas Arrosti diz que há ações previstas no plano de investimento da concessionária para tal. Nos próximos meses, será lançado um projeto-piloto no Recreio dos Bandeirantes para detectar ligações clandestinas com o auxílio de microcâmeras e corantes. Além disso, a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da Avenida Ayrton Senna, que era operada pela Cedae, será reformada e ampliada:

—Os donos dos imóveis com ligações clandestinas serão orientados a fazer a conexão à rede de esgotos. Se não atenderem, repassaremos os casos para as autoridades avaliarem a atitude a tomar — disse Arrosti.

A ETE da Barra faz o tratamento primário do esgoto antes dos dejetos seguirem para o alto mar pelo emissário submarino. Iniciada a reforma, Lucas diz que a próxima providência será construir uma espécie de “galeria de cintura” para desviar o esgoto que chega aos rios pela rede fluviais para a estação de tratamento. A medida, no entanto, não impedirá que os cursos d’ água sejam poluídos em tempo de chuva.

Inaugurada em 2009 dentro de uma das etapas do processo para despoluir as lagoas da Barra, a ETE da Barra tem capacidade para processar 1.500 metros cúbicos de esgoto por segundo, mas não é toda utilizada por causa das deficiências de saneamento da região. O pedido de licença para obras protocolado no Instituto Estadual do Ambiente (Inea) é para a estação ter sua capacidade ampliada para 3.500 metros cúbicos por segundo, já prevendo a expansão da população da região nos próximos anos.

Independentemente dos compromissos assumidos pela concessionária, o incidente desta sexta-feira reacendeu a polêmica sobre a desativação de uma Unidade de Tratamento de Rios (UTR) implantada pela prefeitura em 2010 no Arroio Fundo, com o objetivo de reduzir a poluição hídrica nas vizinhanças das instalações construídas para a Olimpíada de 2016.

A concessionária afirma ter feito estudos que indicaram que a UTR não teria qualquer eficácia para reduzir a carga de poluição das lagoas, mas a Câmara Comunitária da Barra denunciou o caso ao Ministério Público e um inquérito foi instaurado pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DMA).

O delegado Wellington Vieira, da DMA, diz que já tomou vários depoimentos e discorda da concessionária. Um novo inquérito foi instaurado nesta sexta-feira, para investigar a morte dos peixes.

—Tenho certeza que a UTR desativada contribuiu. Foi retirada uma ‘‘peneira” e nada se colocou no lugar — disse o delegado.R

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