4 de novembro de 2025
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Câmara Rio: Fórum “Extra Favelas” encerra ciclo abordando representatividade, saúde e empreendedorismo

Depois de passar por Providência, Santa Marta, Complexo do Alemão, Cidade de Deus e Realengo, o ciclo de debates “Extra Favelas” fez a sua última parada na sede do jornal Extra, nesta segunda-feira (03/11), para refletir sobre todas as demandas e anseios apresentados pelos moradores das comunidades durante cada encontro. Com apoio da Câmara do Rio, o projeto promoveu um canal direto entre moradores, poder público, representantes da sociedade civil e especialistas.

Presidente da Câmara do Rio, o vereador Carlo Caiado (PSD) destacou o papel do Legislativo municipal na criação de políticas públicas efetivas e permanentes para as favelas e a importância do diálogo direto com a população para construção de soluções.

“É um orgulho enorme participar desse evento e poder interagir tão de perto com os cidadãos. Conseguimos descobrir informações importantes e ter um valioso aprendizado. Ao longo dos anos, tivemos muitas políticas públicas importantes com foco nas favelas, como o Favela Bairro e o Morar Carioca. Mas precisamos ter políticas de estado. Com a iniciativa pioneira da Câmara de incluir um capítulo voltado para as favelas no Plano Diretor, conseguimos estabelecer políticas mais continuadas”, celebrou Caiado.

Diretor de Redação do Jornal Extra, Humberto Tziolas celebrou o apoio da Câmara do Rio e ressaltou que os resultados da pesquisa feita para medir a percepção da população sobre vários aspectos do seu dia a dia serão divulgados nesta terça-feira (03/11). Os participantes puderam participar presencialmente nos debates e de forma online.

“Os resultados serão preciosos para o jornal, que vai trabalhar essas pautas, e também para o poder público, que pode criar várias soluções efetivas para o futuro da cidade com esse material”, comemorou.

 

Representatividade e dignidade

Ao longo de toda a manhã, três painéis discutiram os principais desafios da população periférica e os caminhos para um futuro mais inclusivo. Com mediação da jornalista Roberta Souza, a primeira mesa debateu “Representatividade e dignidade” e contou com a participação da vereadora Monica Benicio (PSOL), da coordenadora da Redes da Maré, Pâmela Carvalho, e do produtor musical no AfroReggae e na Crespo Music Adilson Junior.

A parlamentar iniciou a sua fala relembrando a megaoperação da polícia nos Complexos do Alemão e na Penha, que deixou um total de 121 mortos no dia 28 de outubro. “A favela é vista como um lugar de ausência de políticas. Há um discurso de que o estado não é presente nas favelas. Ele é, mas de maneira ineficaz. Em especial porque o principal que o estado oferece para as favelas e periferias é o seu braço armado, em vez de ser a valorização da cultura, o investimento na saúde e na educação”, criticou Benicio.

Ao falar sobre representatividade, Pâmela Carvalho exaltou o trabalho das organizações da sociedade civil e destacou como as pessoas que moram nas comunidades podem ter um olhar mais amplo e qualificado para propor soluções pelo fato de estarem em permanente circulação pela cidade.

“Esse debate da representatividade é muito maior do que só ter algum de nós em espaços de poder e de maior visibilidade, é também uma proposição de solução para a sociedade. Nós trazemos um olhar que muitas vezes é mais amplo do que o de algumas pessoas com universo mais limitado, pensando geograficamente. Nós estamos circulando pela cidade como um todo, saímos da favela para vir para o Centro, por exemplo. Nós acendemos e apagamos a luz da cidade”, refletiu a coordenadora da Redes da Maré.

Para o produtor musical Adilson Junior, a falta de representatividade da favela também é uma realidade no mundo da música. “Infelizmente, há uma falta de vontade de quem está à frente das grandes mídias. A gente tem sempre que chegar com o pé na porta para poder conseguir algum tipo de espaço”, lamentou.

 

A saúde como direito

 

O segundo debate abordou questões diversas como saúde mental, acesso à atenção primária e direito sexual e reprodutivo. Professor titular e diretor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mario Dal Poz disse que o poder público deve reduzir as desigualdades entre as diferentes áreas e estratos da população no que diz respeito à saúde.

“É preciso pensar políticas públicas permanentes que expandam o acesso à saúde e busquem diminuir a desigualdade na oferta e qualificação de serviços. A longa espera por exames e cirurgias e a busca eventual pelo setor privado, por exemplo, não podem ser uma regra”, afirmou.

Pesquisadora da Fiocruz, Bruna Gabriela de Oliveira focou na questão da saúde mental em ambientes periféricos e como a violência durante as operações têm um grande impacto na saúde mental dos moradores. Ela também reforçou que a criação de editais para coletivos de base comunitária tem um papel primordial. “Essas organizações de base territorial fortalecem o SUS”, resumiu.

A vereadora Monica Benicio também participou da mesa e discursou sobre a urgência de debater o direito sexual reprodutivo da mulher, o direito ao aborto e a educação sexual nas escolas.

Empreendedorismo e capacitação

 

Por último, o“Extra Favelas” debateu empreendedorismo e capacitação nas comunidades. Participaram da mesa  o vereador Marcio Ribeiro (PSD); Deisilane Oliveira, empreendedora e criadora da marca Bella África Cosméticos; e Iata Anderson, coordenador da Favela Inc.

“O poder público precisa continuar empenhado em criar iniciativas que capacitem os jovens e garantam acesso a cultura, esporte e educação, além do direito à infância. Precisamos enxergar esse espaço de outra forma. Devemos entender a favela como lugar de potência e inovação”, apontou o parlamentar.

Moradora do Complexo da Penha, Deisilane Oliveira contou sobre a sua trajetória no ramo de cosméticos e as dificuldades que enfrentou no início da sua jornada como empreendedora. “Para muita gente, falta conhecimento e acesso a recursos financeiros. A gente não sonha com aquilo que a gente não pode ver. Além disso, há o fato de que as mulheres negras e periféricas acabam tendo dupla ou tripla jornada de trabalho”, acrescentou.

Nascido na Rocinha, Iata Anderson é coordenador do Favela Inc. e relatou como o empreendedorismo dentro da favela mudou. Ele deu exemplos de ações dentro da comunidade, como o turismo de impacto, em que os turistas são incentivados a colaborar com o empreendedorismo local durante as visitas: “A favela não tem só camelô, a gente também empreende, só não usa os mesmos termos para se referir a isso”.

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