Billie Eilish canta em ASMR e faz do Lollapalooza seu quarto em estreia no Brasil
A espera era grande para ver Billie Eilish, jovem estrela da música pop americana, cantar pela primeira vez no Brasil. Ela foi a atração principal desta sexta (24), no Lollapalooza, que acontece até domingo (26) no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Segundo a organização do evento, 103.350 pessoas lotaram o local no primeiro dia de shows.
A cantora, de apenas 21 anos, atraiu uma legião de fãs, especialmente aqueles da geração Z, que compreende pessoas com 20 e poucos anos. Desde cedo, era possível ver o público com camisas de Eilish, e muita gente ficou plantada na frente do palco principal esperando a última atração do dia.
A cantora transformou o Autódromo em seu quarto, com vocais sussurrados no estilo ASMR —Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano, as gravações ultra-sensíveis e aproximadas de vozes e sons do cotidiano— , que são sua marca.
“When We All Fall Asleep Where do We Go”, seu disco de estreia, de 2019, foi inteiro gravado no quarto que ela morava, na casa dos pais, e reflete este ambiente. Sucesso instantâneo, o álbum colecionou prêmios Grammy no ano seguinte, e posicionou a cantora como um grande nome de sua geração.
É desse disco a música que abriu o show, “Bury a Friend”, seguida por “I Didn’t Change My Number”, “NDA” e “Therefore I Am”, todas do álbum seguinte, “Happier Than Ever”, de 2021. Estes são os únicos discos lançados pela cantora, e que dominaram o repertório.
As exceções foram as canções que ela publicou na internet antes ainda de estar em uma gravadora. “Idontwannabeyouanymore”, uma dessa leva, de 2017, foi cantada palavra por palavra pela plateia, abarrotada como em poucas ocasiões desde que o Lollapalooza passou a ocupar o Autódromo, em 2014 —comparável à de Miley Cyrus, por exemplo, na edição do ano passado do festival.
Eilish, em certa altura, falou sobre a ansiedade de tocar no Brasil, já que ela até marcou, mas cancelou, por causa da pandemia, uma apresentação em São Paulo. “Estava esperando pelo dia que ia dizer ‘oi, Brasil'”, ela afirmou.
Depois de “My Future”, outra balada confessional, a cantora falou sobre a fama dos brasileiros de serem plateias animadas. Puxou “You Should See Me On a Crown”, botando o público para pular, enrolada em uma bandeira do Brasil.
O momento foi adequado, já que em seguida ela cantou “Billie Bossa Nova”, faixa escancaradamente inspirada do gênero musical brasileiro, de seu segundo disco. Eilish usou tênis amarelo e camiseta de time de futebol americano verde, as cores do país.
Seu jeito de vestir é uma de suas marcas, com roupas folgadas e esportivas —ela estava com um short de basquete no Lollapalooza. Tudo remetendo à informalidade caseira que permeia sua obra.
Eilish é capaz de dar profundidade quase existencial a canções a princípio bobas. É o caso de “Xanny”, em que fala do uso de remédios para apaziguar distúrbios de ansiedade, e cantada aos berros pelo público.
Em cima do palco, contudo, Eilish não reforça o estereótipo da jovem deprimida. Distribui sorrisos, convoca a plateia para pular ou se abaixar e corre pelo palco animada.
Esteticamente, ela faz um pop que pode ser dançante ou sombrio, muitas vezes esbarrando do rap -seja nas batidas graves ou nas levadas de canto e rimas. “Oxytocin”, com a plateia em êxtase, foi uma dessas apresentadas em São Paulo.
O show teve um momento acústico, com “Wish You Were Gay”, “I Love You” e “Your Power”, em que Eilish dividiu o palco com o irmão e produtor, Finneas. Outra situação em que o Autódromo parecia o quarto onde tudo começou.