Austrália reage à China com maior escalada militar desde a Segunda Guerra

A Guerra Fria 2.0 entre Estados Unidos e China segue alterando o cenário geopolítico em todo o mundo. Depois de firmar um polêmico pacto militar com Washington e Londres, a Austrália anunciou nesta segunda (24) a maior reforma de seu setor de defesa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

O governo local publicou a Revisão Estratégica de Defesa, que pretende nortear a próxima década das Forças Armadas da Austrália. O alvo primário, assim como no recente abandono da postura pacifista do Japão, a cada vez mais assertiva China.

Segundo o documento, Pequim opera o maior aumento de musculatura militar do século 21, “sem transparência ou salvaguardas para a região do Indo-Pacífico”, o palco estratégico de Pequim por concentrar as vitais rotas marítimas que garantem sua posição de segunda maior economia do mundo, além de maior exportadora.

“É o mais importante trabalho que fizemos desde o fim da Segunda Guerra”, afirmou o primeiro-ministro Anthony Albanese. Ele inclui a reforma de bases navais, principalmente no norte do país, que encaram os mares contestados pela China.

O texto foca, com efeito, no desenvolvimento de mísseis de longo alcance e novas capacidades marítimas, com navios menores e mais ágeis, além do já anunciado acordo para comprar de três a cinco submarinos de propulsão nuclear americanos da classe Virginia, além de receber na próxima década um novo modelo a ser desenhado pelos britânicos em conjunto com os parceiros.

O negócio submarino é o coração do Aukus, o pacto militar anunciado em 2021 e ratificado neste ano entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, de cujas iniciais em inglês surgiu o acrônimo. Ele foi duramente criticado pela China e pela Rússia, parceiras na Guerra Fria 2.0, e também desagradou aos franceses, que tinham engatilhado um contrato multibilionário para fornecer esse tipo de arma para Camberra.

Os russos estão envolvidos primariamente na Guerra da Ucrânia, mas têm uma crescente cooperação militar no Pacífico com a China.

A Revisão Estratégica reconhece que os EUA são parceiros prioritários, até porque “não são mais a potência unipolar no Indo-Pacífico“. “Temos de evitar o maior nível de risco estratégico que nós enfrentamos como nação agora: a perspectiva de um grande conflito na região”, afirma o texto.

“Obviamente vamos fazer isso muito próximos dos EUA. Estamos trabalhando de forma a haver uma intercambialidade dos mísseis de nossas duas forças”, afirmou Albanese.

Hoje os australianos operam uma frota aérea muito capaz de aparelhos americanos, com 24 F/A-18 Super Hornet e 56 F-35A, esses caças de quinta geração. Têm seis submarinos convencionais e 11 navos principais de superfície. Ao todo, o país tem 60 mil militares, 1 a cada 430 habitantes (o Brasil tem 1 a cada 600, em comparação).

Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, as Forças Armadas da ilha-continente são “muito capazes e bem treinadas”, com experiência em missões multinacionais. O país tem o 12º maior orçamento militar do mundo, segundo a entidade, tendo gasto US$ 33,8 bilhões (R$ 170,4 bilhões hoje) em 2022 —o Brasil tem o 15º.

O plano fala em aumento da despesa militar, mas só daqui a quatro anos. Antes, remanejamentos serão a prioridade. A China é o colosso regional, responsável por 47% dos gastos militares da região, o segundo maior dispêndio do mundo (US$ 242 bilhões, ou R$ 1,22 trilhão) no ano passado.

Ainda assim, os campeões EUA gastaram três vezes mais, e a aliada australiana Londres, respeitáveis US$ 70 bilhões (R$ 350 bilhões) cada vez mais expostos em missões pelo mundo, o quarto lugar de um ranking que ainda tem a Rússia em terceiro.

Os australianos também integram o pacto político e cada vez mais militar Quad, com os mesmos EUA, Japão e Índia, formando uma cadeia em torno das pretensões chineses em regiões como o mar do Sul da China e o estreito de Taiwan.

 

 

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