Áudios, vídeos e mensagens revelam como funcionava a manipulação de apostas no futebol

Fantástico traz detalhes do escândalo de manipulação em apostas de jogos no futebol brasileiro. Um grupo criminoso aliciava jogadores e combinava lances em campo para beneficiar um grupo de apostadores. A reportagem de Maurício Ferraz e Evandro Siqueira mostra a áudios e vídeos da Operação Penalidade Máxima, comandada pelo Ministério Público de Goiás.

Áudios e vídeos fazem parte da investigação do Ministério Público de Goiás sobre a manipulação de apostas em jogos de futebol — no Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022 e também em alguns jogos de estaduais deste ano.

Segundo os promotores, o grupo investigado era liderado por Bruno Lopez, que se apresentava como empresário de jogadores. E os suspeitos se dividiam em 2 núcleos:

  • o dos apostadores: que aliciavam atletas para forçar lances durante os jogos. E ainda faziam as apostas nos sites;
  • o dos financiadores: que forneciam dinheiro para os os pagamentos dos jogadores aliciados.

 

investigação começou em novembro de 2022O presidente do Vila Nova, de Goiânia, descobriu que jogadores do clube estavam sendo aliciados pelo grupo de apostadores antes de um jogo contra o Sport pela série B do Campeonato Brasileiro. Ele juntou provas da tentativa de manipulação e procurou os promotores que combatem o crime organizado no estado.

Jorge Hugo Bravo, presidente do clube e oficial da Polícia Militar, descobriu que o jogador Marcos Vinícius Alves Barreira, apelidado de Romário, tinha sido aliciado. Em depoimento aos promotores, o atleta contou como foi a proposta.

Promotor: O Bruno ( chefe ) falou que era pra cartão ou pênalti?
Romarinho: Cartão vermelho ou pênalti.
Promotor: Por quanto ?
Romarinho: Primeiro ele falou R$ 300 mil, depois falou R$ 150 mil e dava um entrada de R$ 10 mil e depois pagava o resto depois do jogo.

Só que não deu certo. Romário soube que não iria mais participar do jogo e como já tinha recebido o adiantamento pela fraude, tentou conseguir um outro atleta para assumir o seu lugar na armação. “Ninguém topou. E nós só descobrimos isso porque ninguém topou“, relata Jorge Hugo Bravo.

A partir dessa denúncia, o MP começou a investigar o jogo do Vila Nova e outros dois jogos da mesma rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.

Em março, foi realizada a primeira etapa da operação penalidade máxima. Bruno Lopez chegou a ser preso e no depoimento reconheceu a combinação para que jogadores cometessem pênaltis nas três partidas e a quadrilha faturasse com as apostas. Bruno ainda disse que gastou cerca de R$ 400 mil com as apostas e o aliciamento dos jogadores.

Foram feitas apreensões de celulares de Bruno, de jogadores e outros envolvidos. Conversas entre eles mostraram que o esquema era muito maior.

O Ministro da Justiça, Flávio Dino, pediu à Polícia Federal que abra inquérito para ajudar na investigação. E o governo federal está preparando uma medida provisória para regulamentar as apostas esportivas. Na investigação, os sites de apostas são considerados vítimas do esquema.

Bruno Lopez, líder do grupo que aliciava e pagava os jogadores, foi preso em casa, em São Paulo. Outros dois suspeitos, Thiago Chambó e Romário Hugo dos Santos, também foram presos.

Sete jogadores foram denunciados pelo MP na 2ª fase da Operação Penalidade Máxima – entre eles, Eduardo Bauermann, que preferiu ficar em silêncio no depoimento.

O que dizem os citados

Em nota, o advogado de Thiago Chambó disse que as informações apresentadas na denúncia não têm robustez para incriminar o seu cliente porque inexistem indícios de qualquer ilegalidade.

Os representantes de Romário Hugo dos Santos lamentaram que ele esteja sendo submetido a julgamento da opinião pública antes que possa apresentar sua defesa na Justiça.

Em nota enviada ao g1, a defesa de Bruno Lopez diz que as acusações serão respondidas no momento oportuno.

Já os representantes de Eduardo Bauermann negam a participação dele em qualquer irregularidade. E que tudo ficará provado durante o processo.

Quatro deles já fizeram um acordo de cooperação com o MP e se tornarão testemunhas no processo:

  • Kevin Lomonaco, do Bragantino;
  • Moraes, do Juventude;
  • Jarro Pedroso, do São Luiz;
  • Nikolas Santos, do Novo Hamburgo.

 

O Ministério Público vai seguir na investigação das mensagens do grupo e não descarta a possibilidade de manipulação em outros jogos do futebol brasileiro.

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