Ato em memória de vítimas de protestos no Peru deixa quase 50 feridos
Quase 50 pessoas ficaram feridas nesta quinta (9) no Peru ao entrar em confronto com forças policiais durante manifestação na cidade de Juliaca, no sul do país, a cerca de 1.200 km da capital Lima.
O ato foi organizado por moradores em memória de 18 pessoas mortas há cerca de um mês na mesma cidade em protesto que exigia a renúncia da presidente Dina Boluarte, em meio a mobilizações maiores contra a líder e convocadas por partidários do ex-presidente Pedro Castillo, afastado e preso após tentativa fracassada de golpe de Estado.
Inicialmente pacífico, o ato desta quinta-feira se transformou em confronto quando a polícia começou a dispersar manifestantes que tentaram entrar no aeroporto Inca Manco Cápac, mesmo local onde as 18 pessoas foram mortas em 9 de janeiro.
A dispersão com uso de gás lacrimogêneo provocou ferimentos, fraturas, intoxicação e insuficiência respiratória em 23 pessoas, segundo um relatório oficial. Entre os feridos estão três menores de idade —um deles ferido por arma de fogo, de acordo com o texto.
A polícia afirmou que 25 agentes se feriram. O protesto não foi o único no dia. Em Lima, cerca de 2.000 sindicalistas marcharam em direção ao Congresso, mas não houve conflito com policiais.
Em Juliaca, parentes e amigos das 18 vítimas de janeiro lamentavam a morte dos familiares e gritavam palavras de ordem contra Dina, como “o sangue derramada jamais será esquecido” e “quantos mortos você quer para renunciar?”.
“Tiraram meu filho de mim. Você não pode pagar pela vida do meu filho”, disse a vendedora ambulante Faustina Huanca, 57, à AFP.
No último dia 4, o Congresso peruano bloqueou debates sobre a antecipação de eleições nos próximos cinco meses, proposta feita pela própria presidente, barrando a substituição de Dina e dos parlamentares, principal demanda dos manifestantes.
Antes de ser afastado e preso, Castillo deveria cumprir o mandato até 2026. Dina era sua vice e assumiu um país convulsionado por trocas constantes de presidentes, que foram presos ou perderam poder político —foram 6 mandatários em 6 anos antes de Dina assumir—, e um governo frágil e acuado pelas seguidas manifestações.
Até o fim de janeiro, o número de mortos nos protestos chegava a quase 60. A maioria dos atos esteve concentrada no sul do país, mas alguns chegaram à capital em caravanas e foram apelidados de “tomada de Lima”.